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Marqueteiro de Dilma sabia que dinheiro era de origem ilegal, diz PF

Contas de Santana no exterior receberam cerca de R$ 12 milhões

Band News

Do UOL, em São Paulo e em Brasília

22/02/2016 11h32Atualizada em 22/02/2016 19h16

O publicitário João Santana, responsável pelas campanhas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2006) e da presidente Dilma Rousseff (2010 e 2014), sabia que o dinheiro depositado em suas contas no exterior tinha origem ilegal, segundo a PF (Polícia Federal).

O marqueteiro é um dos alvos da 23ª etapa da Operação Lava Jato, deflagrada nesta segunda-feira (22) e que foi batizada de "Acarajé", nome como o dinheiro em espécie era chamado por alguns investigados.

Há mandados de prisão contra João Santana e sua mulher, Mônica Moura, que estão fora do país, trabalhando na campanha de reeleição do presidente Danilo Medina, da República Dominicana.

"João Santana e Mônica tinham conhecimento da origem espúria dos recursos. Eles sabiam que não era um mero caixa 2. [...] Eles tratavam diretamente com uma pessoa que era representante e operador de propina na Petrobras", afirmou o delegado Filipe Hille Pace.

As investigações identificaram transferências que totalizaram US$ 7,5 milhões (R$ 30 milhões, em valores desta segunda), feitas por empresas investigadas pela Operação Lava Jato para a offshore Shellbill Finance S.A., que pertence a João Santana.

Os investigadores chegaram a esses valores por meio de informações obtidas com o Citibank de Nova York, que forneceu os dados por meio de cooperação jurídica com as autoridades brasileiras.

"Os extratos do Citibank fazem clara referência que esses depósitos eram feitos com base em contratos falsos para justificar remessa de dinheiro", declarou o delegado.

É possível que essa quantia seja maior já que os dados são parciais, segundo a PF. "Esperamos ainda que venham novas informações do Citibank de Nova York", afirmou Pace.

Ao longo da manhã, equipes da PF fizeram buscas no apartamento de João Santana em um bairro nobre de Salvador e em uma casa dele em Camaçari, na região metropolitana.

Em documento enviado à Justiça, os advogados do casal informaram que João e Mônica estão "fora do país, a trabalho. Todavia, já agendaram seu imediato retorno ao Brasil, movimento que deve ocorrer nas próximas horas".

"Mesmo sem ter a informação oficial sobre a existência ou não de mandados de prisão, informam que, tão logo realizado o desembarque, apresentar-se-ão, imediatamente, às autoridades responsáveis pela investigação", diz o texto.

Ao todo, cerca de 300 policiais federais cumpriram hoje 51 mandados judiciais, sendo 38 de busca e apreensão, dois de prisão preventiva, seis de prisão temporária e cinco de condução coercitiva. A Operação Lava Jato investiga um grande esquema de corrupção na Petrobras.

Segunda linha de investigação

A segunda linha de investigação desta recente fase da Operação Lava Jato é a descoberta de novos operadores de propina ligados à Odebrecht. "Foram descobertos indícios de envolvimento de um grupo de funcionários ligados à Odebrecht que controlava pagamentos no exterior", afirmou o procurador da República Carlos Fernando Lima.

Os escritórios da empreiteira em São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia foram alvo hoje de busca e apreensão. A empresa é uma das investigadas pela Lava Jato. Seus executivos são acusados de pagar propinas milionárias para contratar obras da Petrobras. O ex-presidente da empresa Marcelo Odebrecht foi preso em junho do ano passado.

Outro lado

O presidente do PT, Rui Falcão, afirmou nesta segunda-feira que, no que diz respeito ao PT, todas as doações e contas de campanha foram feitas dentro da lei e aprovadas pela Justiça Eleitoral.

“Do ponto de vista do PT, as nossas declarações foram apresentadas à Justiça Eleitoral, e todas as nossas doações são legais e declaradas à Justiça Eleitoral”, disse Falcão.

Questionado por jornalistas sobre a suspeita investigada pela Polícia Federal de que os depósitos a Santana no exterior seriam, na verdade, pagamentos por serviços prestados ao PT, o dirigente do partido disse que é preciso que sejam apresentadas provas que as fundamentem.

“Aqui, de tempos recentes, quem acusa não tem mais que provar. Eu continuo defendendo direitos fundamentais de que quem acusa tem que provar, e as pessoas são inocentes até prova em contrário”, afirmou.

Falcão conversou com jornalistas após evento na sede do partido em Brasília para a apresentação do programa de TV da legenda.