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Para Fernando Morais, saída do PMDB gera "insegurança política"

O escritor Fernando Morais critica a posição do seu partido - Laurence Bergreen/Divulgação
O escritor Fernando Morais critica a posição do seu partido Imagem: Laurence Bergreen/Divulgação

Fernando Notari

Do UOL, em São Paulo

28/03/2016 21h43

O escritor e jornalista Fernando Morais, filiado histórico do PMDB, criticou a saída do partido do governo Dilma Rousseff e disse que considera o processo de impeachment um "golpe". "Veja bem: não é que todo impeachment seja golpe. Este é", afirmou, em entrevista ao UOL

Nesta segunda-feira (28), o presidente da legenda, Michel Temer, recebeu Luiz Inácio Lula da Silva e assegurou ao ex-presidente que não há chance de reversão sobre o desembarque. A medida deverá se confirmar na reunião do diretório nacional do partido, marcada para a terça-feira.

O PMDB também deve anunciar que, até o dia 12 de abril, os sete ministros da sigla precisarão deixar seus cargos no governo. Henrique Eduardo Alves, ministro do Turismo, "puxou a fila" -- ainda nesta segunda, enviou carta de demissão ao Palácio do Planalto.

"Acho muito ruim [o desembarque], isso gera situação de muita insegurança política. Não para Dilma, mas para o país. Sou contra", afirmou o escritor, que é autor de livros como "Chatô, o Rei do Brasil", sobre o jornalista Assis Chateaubriand, e "Olga", que conta a trajetória da mulher do líder comunista Luiz Carlos Prestes.

Sobre o impeachment de Dilma, Morais é categórico. "Falta tutano, a essência da questão. Ela não praticou crime. Ela nem é acusada de cometer crime de responsabilidade. Ela é acusada dessa tal de 'pedalada'. Os Estados que têm bancos públicos chamam isso de ARO (Antecipação de Receita Orçamentária). Isso é a coisa mais comum do mundo. De uma hora para outra querem tirar a presidenta da República por isso. Ocorre que as pessoas envolvidas não se conformaram com o resultado das urnas".

Morais é um pemedebista histórico, foi deputado estadual em São Paulo durante oito anos e ocupou as secretarias de Cultura e de Educação do Estado de São Paulo, durante os governos Orestes Quércia e Luiz Antônio Fleury Filho, respectivamente.

Chatô (Companhia das Letras), de Fernando Morais - Divulgação - Divulgação
Chatô (Companhia das Letras), de Fernando Morais
Imagem: Divulgação

"Agora sou um peemedebista mitigado, não participo do partido. Nem sempre concordo com as decisões que o partido toma. Mas, formalmente, sou uma ovelha do rebanho do Michel Temer", disse o jornalista. Morais assume ter uma relação "fraterna" com o vice-presidente da República e nega que ele seja um dos "golpistas". 

"Não acho que Michel seja comandante do golpe. Acredito que o golpe está em curso. Na verdade, se o PMDB desembarcar, engrossará uma campanha que vem sendo sustentada por alguns meios de comunicação, setores do Ministério Público, da Polícia Federal e a qual, agora, se juntará o meu partido", lamenta.

O jornalista lembra que foi um dos articuladores para que PT e PMDB se aliassem. "Quando, em 2002, o Quércia me convidou para ser candidato a governador de São Paulo, disse que só aceitaria se o PMDB de SP apoiasse Lula para presidente. Era uma operação muito complicada, porque o PMDB nacional, presidido pelo Michel, estava apoiando Serra". Morais não se candidatou, Serra perdeu a eleição para Lula e, logo em seguida, Michel Temer começou sua aproximação com o governo petista.

Apesar dos desgostos com seu partido, o jornalista não vê outra agremiação para participar. "Não vejo, no horizonte partidário, nenhum partido no qual me sentisse confortável. Estaria mais próximo, hoje, no meio do caminho entre PSOL e PC do B. O PT, não. A minha história, as pessoas acham que sou petista, me insultam no Facebook, mas no meu histórico com o PT há muito mais atrito que aliança".

Além disso, ele se considera velho para fazê-lo. "Desfiliar-se dá um trabalho. Ou você assina ficha de um partido novo, ou tem que ir até a rua Francisca Miquelina [no TRE, Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo], enfrentar fila. Sou idoso, é complicado". 

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