Topo

Jucá diz que pedir novas eleições é "golpe" e critica negociações do governo

GOVERNO E OPOSIÇÃO DISPUTAM VOTOS EM VALE-TUDO POLÍTICO

UOL Notícias

Leandro Prazeres*

Do UOL, em Brasília

05/04/2016 16h53Atualizada em 05/04/2016 20h26

O senador e presidente nacional do PMDB, Romero Jucá (RR), criticou nesta terça-feira (5) as negociações feitas pelo governo para barrar o processo de impeachment que tramita contra a presidente Dilma Rousseff na Câmara e rebateu o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que mais cedo havia dito ver com "bons olhos" a realização de eleições gerais para superar a crise política.

No duro pronunciamento, o peemedebista classificou como "golpe" uma solução dessa forma e advogou o uso do instituto do impeachment como saída para o impasse. "A saída está na regra, está na Constituição [o impeachment]. Qualquer outra saída mirabolante, desculpem-me, aí sim é golpe. Eleições gerais para todo mundo está na Constituição? Não. Todo mundo renuncia está na Constituição? Não. Traduzindo para a população, a regra tem que ser cumprida. Para saber se a regra é cumprida não precisa ir no Supremo não", afirmou.
 
Para o senador, o governo está dando um “cheque pré-datado” aos partidos em troca de apoio para barrar o impeachment. “O governo busca 180 votos em troca de ministérios, ia nomear os ministérios e agora via dar um cheque pré-datado”, disse Jucá em discurso realizado após assumir a presidência nacional do PMDB depois que vice-presidente, Michel Temer, se licenciou da presidência da legenda. 
 
O “cheque pré-datado” que Jucá menciona é uma referência à disposição do governo federal de não realizar a reforma ministerial prevista antes da votação do impeachment na Câmara dos Deputados. Nesta terça-feira, a presidente Dilma disse que só fará a reforma após a votação do impeachment. “O Palácio do Planalto não está pretendendo transformar qualquer reestruturação ministerial antes de qualquer processo de votação na Câmara. Nós não iremos mexer em nada atualmente”, afirmou a presidente.
 
Em seu discurso, Jucá voltou a dizer que assumiu a presidência do PMDB para evitar que o vice-presidente Michel Temer se envolvesse em debates e “brigas de rua”. Segundo o senador, Temer vinha sendo alvo de ataques recentemente. “Temer foi vítima de ataques, agressões e ficava numa situação difícil, com todo o seu poder institucional, ele em tese, não poderia descer e entrar em briga de rua”.
 
Jucá também criticou Dilma e lembrou a convenção do partido que definiu o nome de Temer como candidato a vice-presidente. “Falei ao Temer que não votaria na Dilma em 2014 porque eu sou economista, sei fazer contas e a economia estava indo para o desastre". 
 

"Não venham cobrar o PMDB pela crise"

O senador também buscou afastar seu partido da atual situação de crise econômica e política no país – apesar de a legenda ter feito parte da base aliada aos governos do PT por 13 anos. 
 
Segundo Jucá, Temer não foi sequer "copiloto" do governo. "Não venham cobrar o PMDB por esse avião da crise econômica. Aliás, o Michel não era nem piloto. Era comissário de bordo. A gente (o PMDB) segurava as pessoas, mandava apertar o cinto e dava um saquinho para vomitar. Não temos responsabilidade pela condução política, nem pela econômica", afirmou o senador.
 

Jucá e membros do diretório nacional do PMDB na reunião que decidiu pelo desembarque - Pedro Ladeira/Folhapress - Pedro Ladeira/Folhapress
Jucá e membros do diretório nacional do PMDB na reunião que decidiu pelo desembarque
Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress
Jucá também rebateu as críticas de que a decisão do partido de deixar a base aliada ao governo teria sido precipitada. "Não é precipitado tomar uma posição a favor do povo. Ao contrário. É uma decisão acertada", disse. "Se nós quisermos ser respeitados, nós temos que ter um posicionamento que represente a população que está lá fora". O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), questionou a decisão do partido, tomada na semana passada por aclamação em reunião que durou menos de cinco minutos.

 

E fez críticas à declaração do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luis Roberto Barroso que, na semana passada, comentou em tom crítico a possibilidade de o PMDB assumir o poder no país. “Quando, anteontem, o jornal exibia que o PMDB desembarcou do governo e mostrava as pessoas que erguiam as mãos, eu olhei e pensei: Meu Deus do Céu! Essa é nossa alternativa de poder? Eu não vou fulanizar, mas quem viu a foto sabe do que estou falando”, afirmou Barroso. 
 
Jucá, que estava na foto mencionada pelo ministro, disse que as palavras de Barroso não o atingiam. “Acho que ele deve fulanizar, sim, porque as nossas posições, a partir de agora, precisam ser claras. Transparentes. Se for comigo [o problema], não tenho medo de investigação [...] as palavras do ministro Barroso não me atingem”, afirmou o senador.
 

Temer licenciado

O vice-presidente Michel Temer (PMDB) se licenciou nesta terça da presidência nacional do PMDB. Segundo a assessoria de Temer, “o vice-presidente se licencia para que o senador Romero Jucá tenha condições de defender o partido dos ataques que vêm sofrendo nos últimos dias”. O licenciamento de Temer acontece uma semana depois de o diretório nacional do PMDB ter oficializado a sua saída da base governista.

No dia 29 de março, quando o partido anunciou a saída do governo, Romero Jucá foi um dos senadores mais enfáticos ao falar sobre a ruptura com o governo e sobre a proibição feita a integrantes do partido de ocupar cargos e ministérios. “Eu digo que para bom entendedor, meia palavra basta. Aqui foi dada uma palavra inteira. Portanto, todos devem pensar no que vão fazer”, afirmou Jucá na ocasião.

Apesar da proibição de filiados ao PMDB ocupem cargos no governo, o partido ainda tem seis ministros: Eduardo Braga (Minas e Energia), Marcelo Castro (Saúde), Kátia Abreu (Agricultura), Celso Pansera (Ciência e Tecnologia), Mauro Lopes (Aviação Civil) e Hélder Barbalho (Portos).

(Com Estadão Conteúdo)