Topo

Dilma critica 'vazamentos seletivos' e pede pacto contra pautas-bomba no Congresso

Jovem a favor do impeachment é retirada de evento de apoio a Dilma

UOL Notícias

Do UOL, em São Paulo

07/04/2016 14h05Atualizada em 07/04/2016 17h17

A presidente Dilma Rousseff criticou nesta quinta-feira (7), em seu primeiro pronunciamento público após a entrega do parecer que pede seu impeachment, o que chamou de "vazamento seletivo" de delações de investigados na Operação Lava Jato. Segundo ela, os vazamentos fazem parte de uma "trama golpista".

As declarações foram dadas em evento com mulheres no Palácio do Planalto. No mesmo dia, reportagem da "Folha de S.Paulo" revelou partes da delação premiada de Otávio Marques Azevedo, ex-presidente da construtora Andrade Gutierrez, em que ele diz ter feito doações legais às campanhas de Dilma em 2010 e 2014 utilizando propostas de obras superfaturadas da Petrobras.

"A legislação vigente proíbe vazamentos que hoje constituem vazamentos premeditados, direcionados, com o claro objetivo de criar ambiente propício ao golpe. Porque não é necessário provar; basta noticiar, acusar, usar de testemunhos falsos. Basta vazar. Nada disso é problema, porque sempre se aposta na impunidade. Isso não transforma o Brasil em um país que respeita instituições, que respeita a liberdade de informação ou a democracia”, discursou.

“Quero dizer isso porque podemos ter nos próximos dias muitos vazamentos oportunistas e seletivos. Eu determinei ao ministro da Justiça a rigorosa apuração de responsabilidade de vazamentos recentes, bem como tomar todas as medidas judiciais cabíveis. Passou de todos os limites a seleção muito clara de vazamentos em nosso país”, completou.

Ainda segundo a "Folha", na delação premiada, executivos da Andrade Gutierrez revelaram que as construtoras responsáveis pela obra da Usina Hidrelétrica de Belo Monte combinaram o pagamento de uma propina de R$ 150 milhões, 1% do valor que elas iriam obter pelos contratos firmados. Os recursos seriam pagos ao longo da construção da obra e seriam divididos entre PT e PMDB.

Mais tarde, o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Edinho Silva, tesoureiro da campanha de Dilma à reeleição, criticou os vazamentos das delações premiadas feitas por executivos da Andrade Gutierrez. Segundo ele, os vazamentos estão sendo usados de forma política.

“Nós temos vazamentos seletivos que são utilizados de forma indevida, sem nenhum lastro de verdade, e utilizados na luta político-partidária”, afirmou o ministro.

Edinho Silva também negou ter mantido qualquer conversa sobre propina com os executivos da empreiteira. "Jamais eu participei de qualquer diálogo com o presidente da referida empresa onde tivesse sido mencionado a palavra propina, ou que tivesse sido mencionado relações com contratos e obras do governo federal", afirmou Edinho. 

Ainda durante o chamado “Encontro com Mulheres em Defesa da Democracia”, Dilma criticou a capa publicada pela revista "IstoÉ" na primeira semana de abril. A revista dá destaque aos “surtos de descontrole” da presidente – ela rebateu prometendo levar a publicação aos tribunais.

“Estou indignada com a matéria da revista 'IstoÉ' da semana passada. Demandei que a revista seja processada por crime contra a honra e exigi direito de resposta. Esta revista vem sistematicamente mentido, inventando. Produziu uma peça de ficção para ofender a mulher e a presidenta, com o propósito de me ofender como presidenta justamente por ser mulher. É um texto muito baixo, que reproduz um tipo perverso de misoginia para dizer que, quando uma mulher está sob pressão, costuma perder o controle”, afirmou.

“É interessante sinalizar que, em relação à pressão, há duas hipóteses que eles levantam para mim. A primeira é que eu sou autista, que eu não reajo à pressão perdendo o controle. A segunda é essa que a revista levantou, que eu reajo com descontrole. Então, a mulher só tem duas hipóteses: ou ela é autista, ou ela é descontrolada. Acho que é um desconhecimento imenso da capacidade da mulher resistir à pressão, às dificuldades, às dores, aos desafios”, acrescentou.

Ao longo de seu discurso, Dilma ainda afastou a possibilidade de deixar o cargo antes de 1º de janeiro de 2019 – por impeachment, renúncia ou novas eleições. Entretanto, a presidente cobrou um pacto com a oposição para afastar o Brasil do atual cenário de crise econômica e política.

“Aqueles que tentam promover um golpe de Estado no Brasil devem saber que são imensos os riscos aos quais submeterão o país. É verdade que muitos deles têm clareza da fragilidade de todo este processo. Por isso defendem que eu renuncie ou apresentam outras soluções – como se fossem um grande pacto pela governabilidade. Eu nunca me opus a pactos que podem oferecer saídas a situações de crise. Aliás, acredito que o Brasil precisa hoje de um grande pacto. O Brasil já superou momentos difíceis fazendo pactos, mas nenhum pacto ou entendimento prosperará se não tiver como premissa o respeito à legalidade e à democracia”, argumentou a presidente, exigindo o respeito a todos os eleitores que participaram das eleições de 2014.

“Desde que a primeira hora do segundo mandato, busco, busquei e buscarei consensos capazes de nos fazer superar toda e qualquer crise. Mas um entendimento, um pacto, tem como ponto de partida algumas condições. A primeira: o respeito ao voto, o fim das pautas-bomba no Congresso. Pautas que não contribuem para o país. Segundo: a unidade pela aprovação de reformas, a retomada do crescimento econômico, a preservação de todos os direitos conquistados pelos trabalhadores e pelo povo brasileiro. E a necessária, imprescindível e urgente reforma política. Esse é o pacto que eu busco. Trabalhar para superar a crescer, voltar a crescer e agir para entregar ao meu sucessor um Brasil muito melhor no dia 1º de janeiro de 2019”, completou.

“Estupro político”, ditadura militar e protestos

O evento contou com a presença de diversas lideranças femininas, como Alessandra da Costa Lunas, secretária de mulheres da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura). Alessandra cobrou avanços na reforma agrária e lembrou a “função social” que a medida “cumpre na mesa de cada brasileiro e brasileira”.

Antônia Pellegrino, representante do movimento Agora É que São Elas, também leu um manifesto. A filósofa Márcia Tiburi subiu ao palco defendendo punição ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. “Os ataques à democracia brasileira neste momento são do nível de um estupro político”, disse a escritora. “Defender hoje a democracia é defender a figura da presidenta Dilma Rousseff”, completou.

Mais tarde, a representante do grupo Mulheres Anistiadas, Rita Sipahi, também fez referência à ditadura militar e às mulheres anistiadas no período (1964-1985). “Somos todas Dilma”, discursou. A presidente da Cebrapaz (Conselho Mundial da Paz), Socorro Gomes Coelho, também discursou e convidou a presidente para uma reunião da organização. “Vossa excelência é um exemplo de luta pela paz”, afirmou.

Representante da Marcha Mundial das Mulheres, Sônia Maria Coelho foi mais uma a criticar Eduardo Cunha, “deitado em berço esplêndido como se não fosse um corrupto”. “O lugar do Cunha é na cadeia”, afirmou.

Vilma Reis, representante da Marcha das Mulheres Negras e da Defensoria Pública do estado da Bahia, criticou a sociedade “machista” e “misógina”. “Nós vamos dizer: mexeu com Dilma, mexeu com todas as mulheres brasileiras”, declarou. O discurso, porém, foi interrompido no início por protestos da plateia contra uma jovem que vestia uma camiseta amarela com a inscrição “impeachment é democracia”.