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Youssef disse que dinheiro era para Cunha, diz delator no Conselho de Ética

Leonardo Meirelles no Conselho de Ética, em Brasília - Charles Sholl/Futura Press/Estadão Conteúdo - Charles Sholl/Futura Press/Estadão Conteúdo
Leonardo Meirelles no Conselho de Ética, em Brasília
Imagem: Charles Sholl/Futura Press/Estadão Conteúdo

Felipe Amorim

Do UOL, em Brasília

07/04/2016 11h43Atualizada em 07/04/2016 13h16

O doleiro Leonardo Meirelles, colaborador (delator) na Operação Lava Jato, disse que não tem como afirmar se fez operações financeiras com Eduardo Cunha na Suíça, mas que ouviu o nome do presidente da Câmara dos Deputados em uma conversa com o doleiro Alberto Youssef. Meirelles fazia operações ilegais de remessa de dinheiro a pedido de Youssef. A afirmação foi feita diante do Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, onde Cunha é investigado e pode ter até o mandato cassado.

Meirelles disse que foram dezenas de empresas que ele fez transferências e que são os investigadores da Operação Lava Jato quem estão averiguando a quem pertence essas empresas. Meirelles e Youssef estão sob investigação da Operação Lava Jato. Youssef permanece preso pela Polícia Federal.

Meirelles deu alguns detalhes das operações financeiras envolvendo a origem e a internalização no país dos US$ 5 milhões que Cunha é acusado de ter recebido como propina no esquema de corrupção na Petrobras investigado pela Operação Lava Jato.

O doleiro afirmou que fez um contrato fictício com uma empresa do lobista Júlio Camargo, também delator na Lava Jato, para justificar transferências que somavam cerca de US$ 5 milhões, numa operação que buscou disfarçar a origem dos recursos, depois remetidos ao Brasil.

Em suas colaborações com a Justiça, Camargo e Youssef afirmam que o destino dos US$ 5 milhões era saldar uma dívida de propina com Eduardo Cunha. A defesa de Cunha nega, e diz que não há provas de que o dinheiro foi de fato recebido pelo deputado.

Meirelles só conseguiu testemunhar na Comissão nesta quinta após o STF negar recurso de Cunha. Durante o depoimento, o doleiro disse que Youssef lhe informou, durante um almoço “informal”, segundo o doleiro, que Cunha seria o destinatário final do dinheiro. Mas, segundo Meirelles, as transações financeiras realizadas por ele, que passaram por contas em Hong Kong, não envolveram contas ou empresas que tinham Cunha como titular.

Meirelles foi questionado pelo deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) se ele realizou depósitos para alguma conta ou empresa de Cunha no exterior.
O doleiro disse que não teria como afirmar com certeza, pois realizava inúmeras operações, quase sempre para empresas e contas abertas em nome de terceiros. “Eu não tenho como saber porque tem várias transferências para a Suíça. Não tenho conhecimento”, disse o delator.

O presidente da Câmara foi denunciado à Justiça pela Procuradoria-Geral da República pelo crime de corrupção e lavagem de dinheiro por suspeitas de ter recebido propina com origem em contratos de navios-sonda na Petrobras. Em março, o STF (Supremo Tribunal Federal) aceitou a denúncia e tornou Cunha o primeiro parlamentar réu pelas investigações da Lava Jato.

O advogado de Cunha no Conselho, Marcelo Nobre, afirmou que o depoimento de Meirelles nesta quinta não tem relação com os fatos investigados contra o peemedebista na comissão, que são as supostas contas na Suíça.

Nobre perguntou se Meirelles teria conhecimento se Cunha mentiu à CPI sobre as contas do deputado na Suíça e se ele teria informações sobre Cunha ter sonegado o fato à Receita Federal. Às duas perguntas, Meirelles disse apenas que “não sei responder”.