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Crise de estilo: Erros, acertos e significados das gravatas na política

Pablo Raphael

Do UOL, em São Paulo

12/04/2016 06h00

Acessório da moda masculina praticamente obrigatório na indumentária política, a gravata tem muito a dizer sobre seu proprietário, transmitindo mensagens pela cor e pela estampa, seja ela vermelha, laranja, azul, preta ou verde-amarela. O que querem dizer, então, os engravatados da crise política atual?

"Todos os elementos que constituem a roupa de uma pessoa são capazes de transmitir alguma informação sobre o usuário", explica o professor de design de moda Diego Rocha, da faculdade Senac (PE). "No caso da gravata temos uma situação especial, devido ao local em que se encontra, compondo o rosto, e também devido à sua posição social." Segundo o professor, a gravata é associada a pessoas de elevada classe social.

Para o alfaiate João Camargo, de São Paulo, a gravata tem uma importância muito grande no vestuário masculino, principalmente para quem trabalha com comunicação. "É o caso dos políticos", ressalta Camargo, acostumado a vestir alguns dos principais parlamentares do país. "Com a gravata, você pode tanto aproximar as pessoas como pode afastá-las. Quando olhamos nos olhos, estamos enxergando também a gravata."

Michel Temer (gravata) - Adriano Machado/Reuters - Adriano Machado/Reuters
"Michel Temer não erra", avalia o alfaiate João Camargo. "Ele aposta sempre em gravatas listradas ou com estampas discretas e cores comunicativas"
Imagem: Adriano Machado/Reuters

A cor da gravata sempre possui um significado. Vermelho, por exemplo, é uma cor associada ao poder e que também "remete a sair do estado de inércia, sendo adotada por partidos originalmente de 'oposição' e também pela sua implicação fraternal, natural dos partidos da esquerda", explica Rocha. "Cores frias como o azul remetem à tranquilidade e às tradições, naturais de partidos da 'situação', para os quais a inércia é ideal para que o poder não se transfira."

Oposição e situações são contextos passageiros e os políticos tendem a se adaptar para o momento em que se encontram. "Situações especialmente difíceis ocorrem quando um agente do processo precisa diminuir as marcas visuais de sua origem para não dividir o público em grupos", diz o professor. Em outras situações, a mudança ajuda a firmar um posicionamento.

A gravata verde e amarela usada por Lula, por exemplo, expressa que o discurso do ex-presidente estaria acima dos partidos políticos. Ao vestir as cores da bandeira, Lula quer dizer que está ao lado dos interesses brasileiros. "Deixando de lado a cor do partido, tenta-se dissociar a imagem dos erros cometidos, ressurgindo como um defensor da pátria", explica o professor.

Erros clássicos

Para Rocha, o erro mais comum dos políticos, quando o assunto é que gravata usar, é a falta de uma consultoria estratégica básica. "O discurso do político deve ser construído tendo em vista o público-alvo dele. Se ele aparece elegante demais, perde confiança e não gera empatia." Segundo o professor, a mesma coisa acontece com um político elegante "de menos", como, por exemplo, o Lula de duas décadas atrás.

Eduardo Cardozo (gravata) - Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil - Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
O advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo (centro), usa gravatas mais largas do que deveria. "Quando a pessoa perde tamanhos de roupa, também tem que se atentar à largura de lapela e à largura da gravata. Tem que estar de acordo com o seu biotipo", explica o alfaiate João Camargo
Imagem: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

"O correto é que o político entenda o que o seu público reconhece como elegante e o que ele reconhece como esnobe. A figura do político já é rodeada pela aura de ladrão, corrupto, enganador e a 'armadura' do terno e da gravata reafirmam isso para boa parte da população. A saída é encontrar o meio-termo para se adequar ao seu público e tentar transmitir um ar de naturalidade juntamente com o ar de profissionalismo que se espera de um representante político."

Camargo recomenda sempre pensar no seu estilo, personalidade e biotipo na hora de escolher uma gravata. "É preciso se olhar no espelho", recomenda. "O homem costuma ficar muito longe da moda, deixar as pessoas escolherem as gravatas. Você precisa se conhecer."

Perguntado sobre que erros se deve evitar, o alfaiate é categórico: "Só use gravatas brancas ou prateadas em casamentos. E somente se você for o noivo ou um dos padrinhos".

Renan Calheiros (gravata) - Renato Costa/Folhapress - Renato Costa/Folhapress
O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) faz um estilo mais tradicional. "De vez em quando ele fecha um pouco, põe uma gravata preta, grafite. Eu acho que o político tem que estar mais aberto", avalia Camargo
Imagem: Renato Costa/Folhapress

Passado militar

A gravata costuma ser associada com pessoas de status elevado e é parte essencial do traje de juízes, políticos e outros figurões - além de compor o figurino masculino em situações sociais importantes, como casamentos e outras cerimônias. O que nem todo mundo sabe é que a gravata surgiu como parte do uniforme do exército croata, no final do século 17, mas só virou moda quando caiu no gosto dos franceses.

De passagem por Paris em 1668, um destacamento croata usava um cachecol de linho e musselina que mantinha o pescoço fresco no verão e quente nos dias mais amenos de inverno. Na França, o adereço passou a ser feito em linho ou seda. Usada tanto por homens quanto mulheres, a peça era chamada de "cravate", que significa "croata" em francês.