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Em protesto pró-Dilma em SP, clima de festa dá lugar a desânimo

Manifestante no Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo, lamenta o resultado da votação no Congresso que aprovou o processo contra a presidente Dilma Rousseff - Levi Bianco/Brazil Photo Press/Estadão Conteúdo
Manifestante no Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo, lamenta o resultado da votação no Congresso que aprovou o processo contra a presidente Dilma Rousseff Imagem: Levi Bianco/Brazil Photo Press/Estadão Conteúdo

Lucas Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

18/04/2016 03h04

O ato contra o impeachment de Dilma Rousseff em São Paulo começou às 10h deste domingo (17) no Vale do Anhangabaú, na região central, com um clima de festa e terminou por volta das 23h com desânimo generalizado após a aprovação da continuidade do processo na Câmara dos Deputados.

A Frente Brasil Popular e a Frente Povo Sem Medo, organizadores do evento, contabilizaram mais de 100 mil pessoas no local. Muitos manifestantes estavam vestidos com camisetas vermelhas com o emblema do PT (Partido dos Trabalhadores), fotos da presidente Dilma e faixas dizendo “não ao golpe”.

Enquanto a votação na Câmara não começava, o protesto contou com apresentações circenses e shows de rap e hip hop. Três pequenos telões foram instalados próximos ao viaduto do Chá para que os presentes pudessem acompanhar o desenrolar do futuro político de Dilma.

No começo do ato, os participantes estavam otimistas. Acreditavam que o governo iria conseguir os votos necessários para barrar o processo neste domingo. A fala do líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), na qual ele afirmou que a oposição estava inflacionando o número de votos que iria conseguir, inflou ainda mais as esperanças de que os governistas iriam por fim ao pedido de afastamento.

A família de Vilma Rodrigues, 47, estava reunida para acompanhar a votação no Anhangabaú. “Estamos otimistas de que não irá passar. O governo vai conseguir os votos necessários. Mas caso não consiga, vamos continuar na luta”, afirmou a professora. “Isso é um golpe.”

“Golpe” foi a palavra mais vista na manifestação. Ela estampava camisetas, faixas e até mesmo bexigas que forem enchidas no próprio local por cilindros de gás trazidos por militantes -- dentre eles, a grande maioria ligada a centrais sindicais e movimentos sociais.

Veja a reação das ruas durante a votação do impeachment

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Votação

Durante a votação dos Estados do sul, quando muitos votos a favor do processo de impeachment estavam sendo computados, a organização do evento sugeriu que os participantes assistissem ao show do músico Chico César. A ideia foi refutada imediatamente. Todos queriam acompanhar voto a voto nos telões disponibilizados.

Vire e mexe, a organização precisava interromper o áudio para dar avisos, o que irritava os manifestantes. “Cadê o som?”, perguntavam. Os discursos dos deputados Jean Wyllys (PSOL-RJ), Jandira Fhegalli (PCdoB-RJ) e Benedita da Silva (PT-RJ) foram os mais ovacionados. Já Jair Bolsonaro (PSC-RJ) foi o mais vaiado.

Falas que envolvessem religião (“Mas o Estado é laico”, afirmavam) e recados para a família eram as mais repudiadas. Já parlamentares que criticavam o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), eram bastante aplaudidos.

Faltando apenas 40 votos para que o processo de impeachment avançasse ao Senado, os manifestantes começaram a ficar desanimados. Batiam palma com menos rigor até para quem estava votando “não” ao processo. O desânimo estava estampado em todos os rostos.

Batido o martelo, todos se dispersaram rapidamente. Chico César cantou apenas uma canção e o show foi encerrado. Os poucos que ficaram para acompanhar disseram que “a luta continua”.

“Sou artista de circo, inclusive palhaça, mas o que eu vi aqui não vejo em circo nenhum”, disse Viviane Figueiredo, 50, atriz. “Uns pulhas, todos indiciados querendo julgar uma mulher honrada. Quase nenhum deles tocou no assunto pedaladas fiscais, que era o que deveria estar sendo discutido.”