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"Se renuncio, enterro a prova viva de um golpe", diz Dilma

Do UOL, em São Paulo

06/05/2016 11h16

No mesmo dia em que a comissão especial do impeachment no Senado vota o parecer favorável ao afastamento da presidente Dilma Rousseff, a petista voltou a classificar o processo de golpe e declarou que resistirá e que não renunciará.

"Sabemos quem é quem nesse processo e, por isso, queriam que eu renunciasse, porque sou muito incômoda. Sou a presidente eleita, não cometi nenhum crime e, se eu renuncio, eu enterro a prova viva de um golpe, sem base legal, que tem por objetivo ferir as conquistas dos últimos 13 anos. Resistirei até o último dia", declarou a Dilma nesta sexta-feira (6).

Dilma voltou a atacar o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e o vice-presidente Michel Temer. "Não vamos nos iludir. Todos aqueles que são beneficiários desse processo, como, por exemplo, aqueles que estão usurpando o poder, infelizmente o vice-presidente da República, são cúmplices de um processo extremamente grave", disse.

A presidente participou de cerimônia de contratação de 25 mil unidades do Minha Casa, Minha Vida, no Palácio do Planalto.

Ao falar sobre a entrega das unidades, ela defendeu o programa e disse que um eventual governo Temer tem como meta reduzir o enfoque nos programas sociais.

"Tem gente que defende que o programa social tem que ter foco, e esse foco tem que ser reduzido, assim como o Estado tem que ser mínimo. Colocar foco no Minha Casa, Minha Vida é reduzir a importância do programa e transformá-lo em programa piloto, que é só o que eles sabem fazer."

"Digo isso porque tenho a consciência de que esse processo de golpe não é apenas contra meu mandato. Eu fui eleita com 54 milhões de votos e um programa, onde estava lá o Minha Casa, Minha Vida. Na América Latina, quando não se queria um certo típico de política, dava-se um golpe de Estado, usando as Forças Armadas. Isso foi superado", continuou.

"Não gostando de um programa que o governo implementa, como tiro o governo eleito hoje? Se considero difícil disputar eleições diretas, porque se eu chegar lá e falar que vou acabar com uma parte do Minha Casa, Minha Vida, tirar as pessoas do Bolsa Família, quem é que votaria nisso? Ninguém. Vivemos um impeachment golpista. Está em jogo uma eleição indireta travestida de impeachment, vão aplicar na cara de pau um programa não referendado nas urnas", finalizou.

Cunha

Dilma também citou o afastamento de Cunha. Segundo ela, o processo de impeachment comandado por ele foi "violento". "Foi necessária uma pessoa destituída de princípios morais e éticos, acusado de lavagem de dinheiro e contas no exterior, para perpetrar o golpe."

"O STF disse que o senhor Eduardo Cunha usava de práticas condenáveis. Uma delas foi a chantagem explicita com meu governo, quando entrou com um processo de impeachment e disse 'se não derem três votos para que o Conselho da Ética não me condene, eu aceito o pedido [de impeachment]'. É uma questão tão descarada que até o advogado do PSDB e ex-ministro do Fernando Henrique Cardoso [o jurista Miguel Reale Jr.], que redigiu esse pedido, chamou de 'chantagem explícita'", declarou Dilma.