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Jovem Temer ganhava correio elegante e fazia mais política do que estudava

Michel Temer (ao centro, de branco), seus irmãos e a mãe (sentada) em Tietê (SP) - Arquivo pessoal
Michel Temer (ao centro, de branco), seus irmãos e a mãe (sentada) em Tietê (SP) Imagem: Arquivo pessoal

Wellington Ramalhoso*

Do UOL, em Tietê (SP)

12/05/2016 07h07

O presidente interino Michel Miguel Elias Temer Lulia (PMDB) nasceu em 23 de setembro de 1940 em Tietê, cidade de 40 mil habitantes situada 143 km a noroeste de São Paulo. É filho mais novo de um casal de imigrantes libaneses e tem cinco filhos.

Na adolescência, fazia algum sucesso com as garotas nas festas de igreja da pequena cidade do interior paulista. Um pouco mais tarde, em São Paulo, seu envolvimento com a política estudantil foi tão grande que ele admite ter dado pouca atenção aos estudos na Faculdade de Direito do largo São Francisco, vinculada à USP (Universidade de São Paulo).

Quando chegou a Tietê, na década de 1930, a família de Temer cultivou frutas e teve um armazém. Depois, passou a trabalhar com beneficiamento de arroz e café. O casal Miguel Elias e March Barbar teve oito filhos.

Durante a infância de Temer, Salim, um de seus irmãos mais velhos, foi assassinado aos 21 anos em uma briga em Tietê.

Temer foi criado em uma chácara no bairro Bela Vista, que ainda utiliza quando vai a Tietê, e estudou na Escola Estadual Plínio Rodrigues de Moraes, no centro da cidade. Deixou Tietê aos 16 anos para continuar os estudos em São Paulo, seguindo os passos dos irmãos Fued, Elias e Adib.

Como a cidade natal de Temer avalia o presidente interino?

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Como vice-presidente, foi homenageado em 2013 pela Prefeitura de Tietê, que instalou na praça dr. Elias Garcia, no centro, uma placa com o poema “O relógio”, publicado no mesmo ano no livro “Anônima Intimidade”, de sua autoria. O poema faz referência a um antigo relógio que a família mantinha na chácara.

Praça em Tietê (SP) tem placa com poema de Temer, mas sua chapa com Dilma perdeu na cidade em 2014

Apesar da homenagem e da campanha “Vote 13, Michel Temer”, a chapa Dilma Rousseff (PT) e Temer perdeu a eleição para o senador Aécio Neves (PSDB-MG) na cidade em 2014. Apoiador de Temer, o prefeito Manoel David (PSD) atribui a derrota à rejeição ao PT na cidade.

Michel Temer foi aluno da Escola Estadual Plínio Rodrigues de Moraes, em Tietê (SP) - Prefeitura de Tietê  - Prefeitura de Tietê
Temer na Escola Plínio de Moraes
Imagem: Prefeitura de Tietê

Menino Michula

Na família, Temer tinha o apelido de Michula e também era chamado de Menino por ser o mais novo. “Dos irmãos, por ser o caçula, ele era o mais paparicado, com certeza”, afirma Cleusa Maria Tamer Schincariol, 65, sobrinha mais velha do presidente interino, professora aposentada e moradora de Tietê.

Michel Temer e o amigo de infância James Milanelo - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Temer e o amigo James Milanelo
Imagem: Arquivo pessoal

Cleusa é filha de Tamer, irmão 17 anos mais velho que Temer e considerado um “segundo pai” pelo presidente interino. Tamer, já falecido, assumiu a condução dos negócios da família em Tietê depois da morte de Miguel Elias, o que ajudou a sustentar a ida de quatro irmãos para estudar em São Paulo. “Ele [Temer] era muito ligado ao meu pai. E meu pai tinha loucura por ele”, diz Cleusa.

O comerciante James Milanelo, 76, foi vizinho, colega de escola e amigo de Temer na adolescência. Juntos, nadavam no rio Tietê, brincavam de espada feita de jornal e subiam nas árvores frutíferas da propriedade da família Temer.

Nós éramos bem cotados. A gente recebia bastante correio elegante da mulherada. Mas era tudo só namorico e flerte

James Milanelo, amigo de Temer na adolescência

Milanelo diz que a dupla fazia sucesso entre as meninas de Tietê nas festas das igrejas da cidade. “Nós éramos bem cotados. A gente recebia bastante correio elegante da mulherada. Mas não tinha namoro firme. Era tudo namorico e flerte.”

Presidente da Comissão do Trote

Ao chegar a São Paulo, Temer fez o curso clássico, equivalente ao Ensino Médio. Entrou no fim da década de 1950 na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, vinculada à USP (Universidade de São Paulo), caminho também trilhado pelos três irmãos Fued, Elias e Adib. Morou com eles na Casa do Estudante, alojamento dos alunos da faculdade situado na avenida São João, no centro de São Paulo.

Logo no primeiro ano da faculdade, o peemedebista começou a se envolver com a política estudantil. “Muitos colegas me lançaram a segundo tesoureiro ao Centro Acadêmico XI de Agosto, que era o cargo reservado aos calouros. E fui eleito com uma boa margem de votos”, afirmou Temer em seu canal no YouTube.

No segundo ano, exerceu a presidência pela primeira vez ao ser designado para dirigir a Comissão de Trote do Centro Acadêmico. No quarto ano de curso, era o candidato favorito a presidente do Centro, mas sofreu com uma dissidência em seu partido estudantil e perdeu a eleição por 80 votos.

Advocacia e vida acadêmica

Depois de concluir o curso, Temer foi oficial de gabinete de Ataliba Nogueira, então secretário estadual de Educação no governo Adhemar de Barros. Chegou a trabalhar no escritório de advocacia do irmão Fued, que foi professor de Direito na Faculdade de Direito da USP.

Em 1967, montou seu primeiro escritório de advocacia, desfeito pouco tempo depois. Incentivado pelos amigos Celso Antonio Bandeira de Mello e Geraldo Ataliba, ingressou na carreira acadêmica.

Confesso que durante a faculdade fiz muita política acadêmica. Então sobrava pouco tempo para estudar

Michel Temer

Temer admite que dedicou pouco tempo aos estudos durante a faculdade. “Com eles [Mello e Ataliba], aprendi muita coisa. Comecei realmente a estudar mais acentuadamente os temas do Direito. Confesso que durante a faculdade fiz muita política acadêmica. Então sobrava pouco tempo para estudar.”

Foi nomeado professor assistente de Direito Constitucional na PUC em 1968 e tinha 27 anos quando deu a primeira aula. Reconheceu que ficou trêmulo na ocasião. “Quando terminou a aula, eles [os alunos] aplaudiram. Daí eu me entusiasmei pela carreira universitária. Devo a esse aplauso a minha carreira universitária.”

Entre o fim da década de 1960 e os anos 1970, Temer montou um segundo escritório de advocacia --justamente com Geraldo Ataliba e Bandeira de Mello, além de Celso Bastos--, passou a trabalhar, depois foi aprovado em concurso público, como procurador do Estado, fez doutorado, consolidou sua carreira como professor e começou a lançar livros jurídicos.

O livro “Elementos do Direito Constitucional”, publicado pela primeira vez em 1982, está na 24ª edição.

Michel e Marcela Temer se conheceram numa visita do político a Paulínia (SP) em 2002 - Montagem BOL/Reprodução - Montagem BOL/Reprodução
Michel e Marcela Temer se conheceram numa visita do político a Paulínia (SP) em 2002
Imagem: Montagem BOL/Reprodução

Casamentos e filhos

O presidente interino casou-se pela primeira vez nos anos 1960 com Maria Célia de Toledo, com quem teve três filhas. Luciana Temer, a mais velha, nascida em 1969, também se formou em Direito e é secretária de Assistência e Desenvolvimento Social da Prefeitura de São Paulo, na gestão Fernando Haddad (PT).

Maristela e Clarissa nasceram em 1972 e 1974, respectivamente, e são psicólogas. No começo da carreira de professor, Temer ensaiava em casa, com Maria Célia, suas aulas de Direito.

Separado de Maria Célia e já ocupando a presidência da Câmara dos Deputados, teve um filho, Eduardo, com uma jornalista no fim dos anos 90. Em 2003, casou-se com Marcela Tedeschi Araújo, 43 anos mais nova.

A primeira-dama interina chegou a ser candidata a miss em Paulínia (SP). Com ela, Temer teve seu quinto filho, Michel, hoje com sete anos, e subiu a rampa do Palácio do Planalto como vice-presidente nas posses de 2011 e 2015.

* Colaborou Marcela Sevilla