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O que indicam as primeiras horas de Temer no governo?

Presidente interino Michel Temer fez seu primeiro pronunciamento nesta quinta (12) - Pedro Ladeira/Folhapress
Presidente interino Michel Temer fez seu primeiro pronunciamento nesta quinta (12) Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Wellington Ramalhoso

Do UOL, em São Paulo

13/05/2016 06h00

As primeiras horas do presidente interino Michel Temer (PMDB) à frente do governo indicam, segundo cientistas políticos ouvidos pelo UOL, que suas prioridades são fortalecer a economia do país e garantir o apoio da maioria dos parlamentares no Congresso, o que permitiria aprovar medidas como a reforma da Previdência. Também refletem um governo menos plural e mais conservador do que o da presidente afastada Dilma Rousseff (PT).

“Temer concentrou suas atenções na área econômica e na articulação política”, comenta Antonio Testa, professor da UnB (Universidade de Brasília), a respeito do ministério montado. Em sua opinião, o presidente interino foi inteligente ao delegar a condução da economia a Henrique Meirelles (ministro da Fazenda), “técnico reconhecido internacionalmente”.

Para o docente, Temer terá, inicialmente, mais dificuldades para assegurar maioria na Câmara dos Deputados do que no Senado, mas conseguirá apoio suficiente nas duas casas para aprovar “projetos estruturantes”. “Alguns setores [dos partidos que o apoiam] ficaram insatisfeitos. Mais à frente ele [Temer] vai ter de fazer algum remanejamento no ministério”, diz o pesquisador. “É difícil montar uma composição que agrade à maioria. Pode ter alguma insatisfação, mas não significa que não vai ter maioria [no Congresso].”

“Raposas políticas”

Aldo Fornazieri, professor da Fesp (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo), e Maria Hermínia Tavares de Almeida, professora da pós-graduação do Departamento de Ciência Política da USP (Universidade de São Paulo), dizem que o ministério está recheado de “raposas políticas”. Isso, na opinião do primeiro, reflete um arranjo feito antes da votação do pedido de impeachment na Câmara. “É um governo que tem a cara fundamentalmente do jogo do toma lá, dá cá. Temer pagou as custas do dia 17 de abril. Houve uma negociação prévia àquela votação e agora ele está pagando a conta”, afirma.

“É um ministério político, com exceção da Fazenda”, prossegue o professor da Fesp (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo). Em concordância, Maria Hermínia diz que o grande ministro da equipe é Meirelles. “A lógica da composição do ministério foi construir a base congressual para tomar decisões. Ele [o presidente interino] fez uma escolha pragmática e realista”, pondera, entretanto, a docente da USP.

Para Testa e Maria Hermínia, o governo terá cumprido seu papel se melhorar a situação econômica do país. Fornazieri entende, no entanto, que há um “tom de hipocrisia” na ênfase dada por Temer à economia. Ele lembra que o PMDB e partidos políticos que apoiam Temer aprovaram, em 2015, na Câmara, as pautas bombas que elevavam gastos do governo. “Não vejo sinceridade. É um discurso de justificação e não de fundação de algo novo, de um novo rumo político para o país. É uma cortina de fumaça para acobertar a violência do processo de impeachment contra Dilma”.

O professor da Fesp também afirma que a escolha de ministros que são investigados joga por terra a “limpeza ética que se prometia fazer” com o processo de impeachment. “É um condomínio de acusados de corrupção. Falsas promessas foram feitas nesse processo de impeachment.”

Testa, da UnB, diz que se algum dos ministros investigados se tornar réu, Temer não terá dificuldade para encontrar substitutos. “Não vão faltar bons quadros para participar do governo”.

Equipe sem mulheres e negros

Fornazieri também criticou o fato de o ministério ser composto exclusivamente por homens brancos. “É um ministério machista e racista, todo ele branco. Não absorve o Brasil novo. Tem a cara do Brasil velho.” Trata-se, observa o professor, de um governo da “elite branca”.

“Aquele bando de homens brancos de meia-idade dá ideia de coisa antiga. Acho muito ruim simbolicamente. O país já não é mais assim”, avalia Maria Hermínia Tavares.

Antonio Testa discorda. “Isso [a ausência de mulheres] não faz diferença. O que interessa agora é o país retomar a confiança. A mulher vai ter espaço. A qualquer momento ele pode nomear uma mulher no ministério.”

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