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Dilma diz que fim do Ministério da Cultura é volta do "passado autoritário"

Do UOL, em São Paulo

19/05/2016 12h55

A presidente afastada Dilma Rousseff afirmou nesta quinta-feira (19) que a extinção do Ministério da Cultura pelo presidente interino Michel Temer "é como se eles [aliados do governo em exercício] quisessem voltar ao passado autoritário", em referência ao período da ditadura militar no Brasil (1964-1985). Temer transformou a Cultura em secretaria nacional, vinculada agora ao Ministério da Educação.

Aguardando o início do julgamento do Senado, Dilma respondeu a perguntas do público em seu perfil oficial no Facebook, ao lado de Juca Ferreira, que era seu ministro da Cultura.

Ontem, ela participou de outro bate papo na rede social, desta  vez com a ex-ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome Tereza Campello.

Questionada sobre a possibilidade de uma secretaria da Cultura ter o desempenho igual ao de um ministério, Dilma afirmou que "a presença da Cultura como ministério é tão importante para a construção da nacionalidade brasileira que tem de estar refletida na hierarquia do Estado brasileiro".

Em seguida, ela citou a ditadura militar. "Isto não é apenas simbólico, mas deve refletir a prioridade que se atribui à cultura para o exercício da cidadania em nosso país. É bom lembrar que a criação do MinC foi uma das primeiras medidas depois da conquista das eleições diretas para a Presidência da República. Isso não foi uma coincidência. O fim da ditadura foi um período que permitiu ao país voltar a sonhar com mais liberdades, com a melhoria da qualidade de vida."

"O desenvolvimento cultural foi uma das grandes marcas desse período. Por isso, agora, não é coincidência que a primeira medida do governo provisório seja a extinção do Ministério da Cultura. É como se eles quisessem voltar ao passado autoritário", afirmou Dilma.

Segundo a presidente, uma Secretaria Nacional de Cultura não teria "capacidade de atender às demandas e necessidades culturais da população". "Não tem a estrutura necessária para atuar, levando em conta a amplitude, a complexidade e a diversidade cultural brasileira."

Em outras respostas, Dilma defendeu a atuação e o trabalho em geral do MinC e disse que o orçamento da antiga pasta era "irrisório em termos absolutos". "Se a gente compara com o Orçamento Geral da União, menos de 1%", disse. Segundo ela, "essa propalada economia com o corte do Ministério da Cultura é pura demagogia".

Dilma ainda respondeu sobre a recusa de mulheres em assumir a Secretaria Nacional de Cultura. Segundo o jornal "Folha de S.Paulo", cinco mulheres disseram ter sido sondadas para o cargo e o recusaram: a antropóloga Cláudia Leitão, a consultora de projetos culturais Eliane Costa, a atriz Bruna Lombardi, a cantora Daniela Mercury e a jornalista e apresentadora Marília Gabriela.

"Acredito que as mulheres não querem ser tratadas como um fetiche decorativo. Ao contrário do que alguns pensam, as mulheres têm apurado senso crítico e, por isso, são muito sensíveis a todas as tentativas de uso indevido da sua condição feminina. As mulheres brasileiras são trabalhadoras, profissionais dedicadas, lutam pelo seu espaço e têm plena consciência de seus direitos. Tenho certeza que a razão das recusas está na qualidade da consciência de gênero que nós adquirimos durante todos esses anos de luta contra o preconceito", disse Dilma.