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Após educação e cultura, protesto com ocupação de prédio chega à saúde

Sede do Ministério da Saúde no Rio de Janeiro - José Lucena/Futura Press/Estadão Conteúdo
Sede do Ministério da Saúde no Rio de Janeiro Imagem: José Lucena/Futura Press/Estadão Conteúdo

Flávio Ilha e Rayder Bragon

Colaboração para o UOL em Porto Alegre e em Belo Horizonte

10/06/2016 15h59Atualizada em 10/06/2016 17h03

Até a tarde desta sexta-feira (10), pelo menos três sedes do Ministério da Saúde estão ocupadas por funcionários que protestam em defesa do SUS (Sistema Único de Saúde) e que são contra o governo interino de Michel Temer (PMDB-SP).

As manifestações, que acontecem em Salvador, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, começaram nos dias 30 de maio, 3 de junho e 8 de junho respectivamente. Entre os dias 6 e 8 de junho, um prédio em Florianópolis também esteve ocupado.

“O SUS está seriamente ameaçado com esse governo, que desvinculou receitas obrigatórias da saúde, garantidas na Constituição”, critica um dos porta-vozes da ocupação no Rio, o psicólogo Cleiber Ricardo da Silveira.

Na capital fluminense, uma das salas do núcleo estadual do Ministério da Saúde foi tomada por 25 profissionais que passam as 24 horas do dia por lá. O grupo, que também pede a saída do ministro da Saúde interino (Ricardo Barros), não impede o funcionamento do serviço ao público.

Ocupação Ministério da Saúde em Minas Gerais - em defesa do SUS - Rayder Bragon/UOL - Rayder Bragon/UOL
Ocupação em defesa do SUS em BH
Imagem: Rayder Bragon/UOL
Situação semelhante ocorre em Belo Horizonte, onde cerca de 150 manifestantes se revezam dia e noite no auditório da sede, que fica no 16º andar-- o restante das salas do órgão continuam em atividade. No caso dos mineiros, há troca de ideias e de apoio com outras duas ocupações na região central, a da Funarte e do CRJ (Centro de Referência da Juventude). 

O ânimo dos manifestantes é de resistir no prédio "até que as propostas danosas para o SUS sejam retiradas", segundo uma das participantes, Neuza Freitas, que é diretora do Sind-Saúde-MG (Sindicato Único dos Trabalhadores da Saúde) e Secretária de Políticas Sociais da CUT-MG (Central Única dos Trabalhadores).

Em BH, o grupo recebe apoio externo como o do publicitário Washington Silva, que ajuda na atualização da página do grupo no Facebook e na produção de memes e material de divulgação, ou o da economista aposentada Maria Neuza Costa, que já dormiu no auditório e ajudou na cozinha.

"É um momento importante diante dos ataques que o SUS vem sofrendo. Alguém tem que por a cara para bater”

Patrícia Gonçalves Moreira, servidora de MG

O protesto mais recente ocorreu na manhã desta sexta-feira (10) no Rio de Janeiro, em que trabalhadores da Fiocruz, a renomada Fundação Oswaldo Cruz, paralisaram as atividades e promoveram debates, também em defesa do SUS e de políticas públicas para o setor.

Por meio de sua assessoria de imprensa, o Ministério da Saúde informou que está ciente das ocupações nas três capitais e que os escritórios estão funcionando normalmente. A pasta reconhece o caráter pacífico das manifestações e que se dispõe a dialogar assim que os manifestantes deixarem os locais. A reintegração de posse já foi pedida, mas ainda não há decisão da Justiça. 

É a vez da Saúde?

Segundo os organizadores das ocupações, a articulação tem caráter nacional e novos atos podem ocorrer em outras cidades do país.

Desde que o governo do presidente interino Michel Temer tomou posse, no dia 12 de maio, a onda de ocupações em prédios públicos federais ou estaduais só cresceu. Os protestos atingem escolas, algumas universidades, sedes do Ministério da Cultura e, agora, da Saúde. 

Além do Fora Temer, os manifestantes também querem pressionar o Senado a rejeitar a proposta de emenda constitucional (PEC) 143, que pode desvincular até R$ 80 bilhões de receitas carimbadas para a saúde. A matéria já foi aprovada em primeiro turno.

Ocupações em sedes do Ministério da Cultura (Minc) também mobilizam a comunidade de artistas e intelectuais. Pelo balanço do movimento, há ocupações de prédios ligados ao MinC em outras 26 cidades brasileiras.

O primeiro ato na área da cultura foi a tomada do Palácio do Capanema, no Rio de Janeiro, no dia 16 de maio-- chamada de #OcupaMinc, os manifestantes protestavam contra a fusão dos ministérios da Educação e da Cultura. Emblemática, a ocupação do Capanema recebeu artistas de renome como Caetano Veloso, Erasmo Carlos, LenineMarieta Severo e Renata Sorrah

17.mai.2016 - Paródia de música clássica para pedir saída de Temer

UOL Notícias

Mesmo com a reversão da decisão no dia 21 de maio, os artistas e produtores culturais optaram por manter o protesto. O Capanema segue ocupado até hoje. 

“Lutamos contra esse governo, que é ilegítimo e não reconhecemos. E para que não haja redução das políticas de cultura e nem das políticas sociais”, destaca o ator André Jesus, da Tribo de Atuadores Ói Nós Aqui Traveiz. Ele participa da ocupação do escritório gaúcho do  Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), que está tomado desde 19 de maio.

Pela educação

A leva de ocupações de prédios públicos, que parece ter ganhado fôlego com o afastamento da presidente Dilma Rousseff, começou no final do ano passado, em São Paulo. Na época, quase 200 escolas foram ocupadas pelos estudantes paulistas, que protestavam contra a reorganização escolas que estava em curso no Estado.

Este ano, outras demandas mobilizaram os estudantes que mantêm ocupações em pelo menos três Estados: Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Ceará. As reivindicações dos estudantes são ligadas à área.

No Rio Grande do Sul, cerca de 150 escolas estão ocupadas em protesto às más condições estruturais das unidades e em apoio à greve dos professores da rede estadual que completa um mês. Eles também ocupam a sede da Secretaria de Educação do Estado, em Porto Alegre, exigindo a retirada do projeto que prevê a transferência de atividades administrativas das escolas para organizações sociais (OS) e o fim do projeto Escola sem Partido.

No Rio de Janeiro e no Ceará, os alunos também apoiam as greves dos professores, além de apresentarem demandas próprias como fim de algumas avaliações, caso do Rio de Janeiro, ou passe livre estudantil, como no Ceará.