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Em SP, manifestantes se dividem entre volta de Dilma e novas eleições

Cartazes com a imagem de Temer foram queimados durante ato na Paulista - Guilherme Azevedo/UOL
Cartazes com a imagem de Temer foram queimados durante ato na Paulista Imagem: Guilherme Azevedo/UOL

Guilherme Azevedo

Do UOL, em São Paulo

11/06/2016 00h21

Os manifestantes presentes na noite desta sexta-feira (10) na avenida Paulista, em São Paulo, eram unânimes no desejo de ver o presidente interino, Michel Temer (PMDB), ser retirado do governo, mas divergiam entre a vontade de ver Dilma Rousseff (PT) retomar o mandato e a de realização de novas eleições para presidente.

O ato desta sexta foi a primeira manifestação conjunta de movimentos sociais, sindicais e partidos de esquerda desde que Temer assumiu interinamente a Presidência, no dia 12 de maio último, no processo de impeachment que afastou Dilma e a julga sob a acusação de crime de responsabilidade.

Nas contas dos organizadores, 100 mil pessoas participaram da manifestação (a Polícia Militar informou que não vai divulgar estimativa de público), em clima pacífico e festivo, que incluiu show do cantor e compositor Chico César. "O mel da mocidade é o fel dos governantes", cantou, em homenagem ao movimento estudantil. A Paulista ficou bloqueada para o trânsito nos dois sentidos, em todas as suas faixas, desde a rua da Consolação até depois do Masp (Museu de Arte de São Paulo), onde foi montado o palco do ato.

Ato na Paulista - Guilherme Azevedo/UOL - Guilherme Azevedo/UOL
Para estudante, "Temer é ilegítimo"
Imagem: Guilherme Azevedo/UOL
Portando um cartaz onde se lia "Temer é verbo, não presidente", Joana Frydman, 18, estudante, questionava a legitimidade do presidente interino: "Não reconheço Temer como presidente, porque o plano de governo dele é ilegítimo, não foi votado. Eu defendo eleições gerais". Joana estivera dois dias antes na mesma Paulista, para protestar contra a cultura do estupro, junto com outras centenas de mulheres.

Nayara Oliveira, do movimento popular da saúde em Campinas (SP) e militante do PT, defende a volta de Dilma ao cargo de presidente e que ela termine seu mandato. Mas com uma condição: que assuma o compromisso de governar com as pautas dos movimentos sociais e populares, abandonando projetos de ajuste fiscal. "Dilma tem que se apoiar aqui, nas pessoas que a estão defendendo, a sua base social", posicionou. Para Nayara, Dilma deve, sim, é taxar as grandes fortunas.

A ativista diz que o impeachment foi um jeito de a direita fazer mudanças e cancelar direitos sociais sem ter conseguido isso nas urnas. "Querem atrasar o país em pelo menos 100 anos. Abolir a CLT [Consolidação das Leis do Trabalho] de um jeito inconstitucional." Mas confessa estar em dúvida quanto ao futuro, mesmo se Dilma conseguir reverter o impeachment. "Não sei o que pode acontecer."

Ato na paulista - Guilherme Azevedo/UOL - Guilherme Azevedo/UOL
Ativista quer volta de Dilma com compromisso social
Imagem: Guilherme Azevedo/UOL

Kazumi Munakata, professor de história do programa de pós-graduação da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), que veio à Paulista "porque Temer é golpista e ilegítimo", se mostra inclinado à proposta de convocação de novas eleições gerais, por meio de um plebiscito popular proposto pela própria Dilma, em seu retorno. Nessa hipótese, que está sendo discutida dentro do próprio PT, o plebiscito também incluiria uma agenda política básica para a população votar.

Temor de criminalização

Os líderes dos movimentos sociais reunidos nesta sexta na Paulista compartilharam uma preocupação ao microfone: a de uma suposta escalada da criminalização dos movimentos. O primeiro a externar esse temor foi Gilmar Mauro, um dos principais dirigentes nacionais do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). Ele citou que sem-terra estariam sendo perseguidos e presos injustamente.

Carina Vitral, presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), alertou para a perseguição aos estudantes, citando a criação da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da UNE, na Câmara dos Deputados, que vai investigar o financiamento público da entidade. "A CPI da UNE é um retrocesso e um absurdo", criticou, dizendo que a última vez em que a UNE foi investigada se deu na ditadura militar, em 1964.

Em seu discurso, Gilmar Mauro, do MST, chamou o governo Temer de "governo medíocre e miserável" e disse que ele "não terá sossego". Para o líder, a exemplo das gerações passadas, "a geração de hoje não deixará o golpe avançar". Carina Vitral chamou o impeachment de Dilma de "golpe misógino", atentando duplamente: contra a democracia e as mulheres.

Guilherme Boulos, coordenador do MTST (Movimento dos Sem-Teto), discursou contra os planos anunciados por Temer: "O programa deles é que não cabe na democracia. E por isso só conseguem fazer através de um golpe". E pediu, com ironia: "Devolve a faixa, Temer".

O ato na Paulista se encerrou pouco antes das 21h, depois de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter discursado, atacado o governo Temer, defendido o retorno de Dilma e mais uma vez sugerido que será candidato a presidente, em 2018.

"Quanto mais me provocam, mais eu corro risco de virar candidato", diz Lula

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