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Governo Dilma ofereceu Conselho de Ética para barrar impeachment, diz Cunha

Estou absolutamente convicto de que não menti, diz Cunha

UOL Notícias

Felipe Amorim

Do UOL, em Brasília

21/06/2016 11h55Atualizada em 21/06/2016 14h33

Em sua primeira aparição pública após o Conselho de Ética ter aprovado o parecer pela sua cassação, o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) voltou a negar nesta terça-feira (21) ter mentido à CPI da Petrobras e acusou o governo da presidente afastada, Dilma Rousseff, de ter oferecido o controle do Conselho de Ética da Câmara para que, em troca, ele barrasse o processo de impeachment.

O deputado também fez acusações a adversários políticos e mirou principalmente o ex-ministro da Casa Civil Jaques Wagner (PT) e o presidente do Conselho de Ética da Câmara, José Carlos Araújo (PR-BA).

Cunha afirmou que teve três encontros com Wagner no qual o petista lhe ofereceu os votos do partido para arquivar a representação contra o peemedebista no Conselho de Ética.

Segundo Cunha, Wagner chegou afirmar possuir controle político sobre o presidente do Conselho, devido às relações políticas do petista com Araújo, ambos com base eleitoral no mesmo Estado.

O apoio do PT seria trocado, segundo afirmou Cunha, pelo arquivamento do principal pedido de impeachment contra Dilma.

Cunha afirmou que sua decisão sobre o impeachment já estava tomada à época e o documento que instaurou o processo já estava assinado por ele e trancado num cofre na Câmara.

“Esse oferecimento havia sido feito pelo chefe da Casa Civil”, disse Cunha, que chamou de “fantasiosa” a versão segundo a qual ele teria chantageado o PT com a promessa do arquivamento do impeachment. “Até porque a decisão já estava assinada e trancada no cofre”, afirmou. “Nos três encontros, Wagner ofereceu os votos do PT no Conselho de Ética”, disse.

Cunha afirmou que Wagner chegou a sugerir possuir influência sobre o STF (Supremo Tribunal Federal) para que não fosse desmembrado o processo contra o deputado, remetendo a investigação sobre o envolvimento de sua mulher e filha para o juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal em Curitiba, o que posteriormente acabou ocorrendo.

“Quem estava propondo que o PT votasse comigo era o governo e não eu. Além de soar como chantagem o pedido envolvendo minha família”, afirmou o deputado, que disse não acreditar na possibilidade de influência política sobre o STF.

Cunha disse que não denunciou a suposta chantagem feita por Wagner e o PT à época por não ter aceitado a proposta. Segundo o peemedebista, Temer não participou da conversa e não foi informado sobre a proposta que teria sido apresentada por Wagner no encontro.

“Eu não tenho controle sobre o que o ministro Jaques Wagner fala, mas com certeza o ministro não tinha controle sobre mim”, disse José Carlos Araújo sobre as acusações de Cunha. “Uma das coisas que disse ao meu partido ao mudar de partido, é que o Conselho de Ética não poderia ser de forma nenhuma tocado em assuntos do partido. O Conselho de Ética é apartidário”, rebateu.

"Não sou herói nem vilão [do processo de impeachment]. Apenas cumpri com meu papel", declarou.

Não sou herói nem vilão do impeachment, diz Cunha

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Essa versão sobre o PT ter lhe chantageado já havia sido apresentada por Cunha em dezembro do ano passado, logo após a decisão de abrir o processo de impeachment. À época, Jaques Wagner negou a acusação.

Nesta terça-feira, Cunha adicionou ao enredo apresentado por ele a informação de que ele teria se reunido com Wagner no Palácio do Jaburu, em uma conversa reservada, onde ambos se encontraram a convite do então vice-presidente Michel Temer. Segundo Cunha, Temer não participou da conversa.

A reportagem do UOL tentou contatar o ex-ministro-chefe do Gabinete da Presidência Jaques Wagner por duas vezes nesta terça-feira (21), mas não obteve êxito. Foram feitas ligações para o seu telefone pessoal e para o telefone de um assessor, mas nenhuma das ligações foi atendida até o fechamento desta matéria.

Mentira na CPI

Cunha convocou uma entrevista à imprensa na manhã de hoje. Ao abrir sua fala, o deputado disse que gostaria de voltar a falar com a imprensa para rebater acusações contra ele, o que ele tinha costume de fazer quando ocupava a presidência da Câmara.

"Estou absolutamente convicto de que não menti [na CPI da Petrobras]", disse Cunha. O peemedebista também rebateu as suspeitas contra sua mulher, Cláudia Cruz, que se tornou ré num processo que envolve as contas suíças.

O processo no Conselho de Ética acusa o deputado de ter mentido à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Petrobras, em março de 2015, quando disse não possuir contas no exterior e não ter recebido propina do esquema de corrupção na Petrobras.

Protesto

Ao deixar a entrevista, Cunha cruzou com um grupo de três pessoas que protestavam contra ele com palavras de ordem como "fora, Cunha". Do lado de fora do auditório, durante a entrevista, que durou cerca de 1h30, manifestantes repetiram o grito de guerra e tocaram uma buzina.

Antes de abrir para perguntas, Cunha falou por mais de uma hora e fez uma espécie de retrospectiva de sua carreira e do cenário político desde a crise do mensalão, no governo Lula, em 2005.

Entenda denúncias contra Cunha

A Procuradoria-Geral da República confirmou a existência de contas na Suíça ligadas a Cunha e seus familiares, e um delator da Lava Jato disse em depoimento à comissão que entregou R$ 4 milhões a representantes do peemedebista.

O deputado nega envolvimento no esquema de corrupção e diz não possuir contas bancárias no exterior, mas trusts, um tipo de investimento para o qual não seria exigida à declaração à Receita Federal e no qual a administração dos bens passa à titularidade de terceiros.

Além das acusações que enfrenta no Conselho de Ética, Cunha se tornou réu por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no STF e é alvo de pelo menos outras duas denúncias e de um inquérito no STF. Segundo o "Estadão Conteúdo", o número de denúncias contra Cunha no STF, em maio, era de oito.

Em uma das ações, que deve ser julgada no dia 23, a Procuradoria-Geral da República acusa Cunha de ter abastecido contas secretas na Suíça com dinheiro de propina do esquema da Petrobras. Caso aceita a denúncia e torne o deputado réu num segundo processo, esta seria a primeira manifestação do STF sobre as contas suíças de Cunha. 

A terceira denúncia da Procuradoria acusa o peemedebista de ter solicitado e recebido propina do consórcio formado por Odebrecht, OAS e Carioca Christiani Nielsen Engenharia –que atuava na obra do Porto Maravilha– no montante de cerca de R$ 52 milhões.

A mulher do deputado, Cláudia Cruz, se tornou ré pelos crimes de lavagem de dinheiro e evasão de divisas, após o juiz federal Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, aceitar denúncia do Ministério Público Federal que também trata do uso das contas suíças pela mulher do deputado. 

Há ainda um inquérito contra Cunha no STF em que ele é acusado de recebimento de propina de Furnas.

Cunha nega irregularidades em todos os casos e só é réu no primeiro deles. Nos outros, o STF ainda precisa julgar se aceita o pedido da PGR.

O deputado está afastado da Presidência da Câmara desde maio deste ano, por decisão do STF, que entendeu que ele utilizava o cargo para interferir nas investigações contra ele.

 

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