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Empresa fez contratos fictícios para simular repasses a Paulo Bernardo, diz relatório

Leandro Prazeres

Do UOL, em Brasília

23/06/2016 18h18

A empresa que intermediou o repasse de propina para o ex-ministro do Planejamento e das Comunicações Paulo Bernardo usou contratos fictícios para dar aparência legal ao dinheiro desviado dos cofres públicos. A informação está na ordem de prisão do ex-ministro e está nos relatórios das investigações realizadas pela PF (Polícia Federal) e pelo MPF (Ministério Público Federal). De acordo com as investigações, pelo menos R$ 7,6 milhões foram repassados a escritório de advocacia ligado a Paulo Bernardo, responsável por encaminhar o dinheiro ao ex-ministro.

Paulo Bernardo foi preso nesta quinta-feira (23) durante a Operação Custo Brasil, um desdobramento da Operação Lava Jato. Segundo as investigações, ele teria sido beneficiado de um esquema que desviou dinheiro do Ministério do Planejamento e que teria, entre outras coisas, abastecido o caixa do PT entre 2010 e 2015.

O chamado “caminho do dinheiro” que teria beneficiado o ex-ministro seguiu uma rota já tida como tradicional por investigadores da Operação Lava Jato.

Segundo as investigações, a empresa Consist, que mantinha contratos com entidades ligadas ao governo federal, repassava até 70% de seu rendimento para o pagamento de propina a funcionários públicos e agentes políticos.

Entre os agentes políticos beneficiados, diz a investigação, está Paulo Bernardo, que foi ministro do Planejamento entre 2005 e 2011 e das Comunicações entre 2011 e 2015.

No caso de Paulo Bernardo, os investigadores afirmam que o dinheiro chegou a Paulo Bernardo por meio do escritório de advocacia de Guilherme Gonçalves, que também teve sua prisão preventiva decretada.

O esquema funcionaria da seguinte forma: a Consist fazia contratos fictícios com o escritório de Guilherme Gonçalves para dar aparência legal aos repasses feitos pela empresa ao escritório; após firmar os contratos, a Consist fazia pagamentos ao escritório como se ela estivesse pagando por um serviço prestado, mas que, segundo as investigações, não justificavam o valor pago; depois de receber esse dinheiro, o escritório ficava com um percentual de 20% e destinaria os outros 80% para o ex-ministro Paulo Bernardo.

Esse dinheiro, que segundo a própria investigação ainda não foi localizado, seria usado para pagar despesas pessoais de Paulo Bernardo como alugueis e os salários de duas pessoas que trabalhavam para o ex-ministro: Gláudio Renato de Lima (apontado como ex-tesoureiro do PT no Paraná) e Zeno Minuzzo (apontado como ex-chefe de gabinete de Paulo Bernardo quando ele era deputado federal).

“A Polícia também teria constatado, analisando as planilhas de contabilidade do escritório de Guilherme Gonçalves, pagamentos relacionados ao fundo Consist para Paulo Bernardo, ‘PB’ e outras pessoas ligadas a ele como Zeno Minuzzo [...] e Gláudio Renato de lima”, diz um trecho do despacho da Justiça Federal que decretou a prisão preventiva de Paulo Bernardo.

Em seu despacho, o juiz federal Paulo Bueno de Azevedo diz que os R$ 7,6 milhões que teriam sido repassados a Paulo Bernardo por meio do esquema ainda não foram localizados e que há risco de que o dinheiro seja “lavado”.

“Tal quantia ainda não foi devidamente localizada. O risco de realização de novos esquemas de lavagem desses valores não localizados é expressivo”, afirmou o juiz.
Em nota, advogados do ex-ministro Paulo Bernardo afirmam que a prisão dele foi ilegal, que os contratos mantidos pelo governo federal com a Consist não tiveram a sua participação e que ele sempre se colocou à disposição da Justiça para colaborar com as investigações.
 

 

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