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Em 2 meses, Temer se reuniu ao menos 5 vezes com investigados da Lava Jato

O presidente do Senado, Renan Calheiros (à esq.), é um dos envolvidos na Lava Jato com quem Temer teve encontros privados - Pedro Ladeira - 5.jul.2016/Folhapress
O presidente do Senado, Renan Calheiros (à esq.), é um dos envolvidos na Lava Jato com quem Temer teve encontros privados Imagem: Pedro Ladeira - 5.jul.2016/Folhapress

Leandro Prazeres

Do UOL, em Brasília

12/07/2016 10h49

Em dois meses como presidente interino, completados nesta terça-feira (12), Michel Temer manteve ao menos cinco encontros privados com investigados da Operação Lava Jato. A informação tem como base a agenda oficial do Palácio do Planalto e dados fornecidos pela assessoria de imprensa do presidente. Entre os investigados com quem Temer se encontrou estão o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

O levantamento feito pelo UOL considerou apenas as audiências oficiais em que os únicos envolvidos eram Temer e algum investigado pela operação. Reuniões ministeriais e eventos públicos com a presença de investigados da Lava Jato e outras pessoas não investigadas pela operação foram excluídos desse balanço.

O encontro mais rumoroso que Temer manteve com um investigado da Lava Jato foi com Eduardo Cunha no Palácio do Jaburu, residência oficial da vice-presidência. A reunião privada aconteceu na noite do dia 26 de junho e não constava da agenda oficial de Temer, mas foi confirmada pela assessoria de imprensa do presidente interino posteriormente. 

Oficialmente, o tema da conversa não foi revelado, mas fontes afirmam que ela girou em torno da sucessão de Cunha na Câmara. O encontro aconteceu pouco mais de uma semana depois de o Conselho de Ética da Câmara aprovar o parecer que pedia a cassação de Cunha por quebra de decoro e menos de duas semanas antes de Cunha renunciar à presidência da Câmara. A reportagem do UOL entrou em contato com a assessoria de imprensa de Cunha nesta terça-feira (12) para pedir o posicionamento dele sobre o encontro, mas a assessoria disse que ele não iria se manifestar sobre o assunto.

Cunha é réu em dois processos que apuram se ele se beneficiou do esquema de desvio de recursos públicos da Petrobras. Cunha nega envolvimento nas irregularidades. 

Com o presidente do Senado, Renan Calheiros, foram dois encontros: nos dias 17 de maio, no Palácio do Planalto, e 23 de maio, no Senado. Renan é alvo de oito inquéritos que apuram suas eventuais ligações com o desvio de recursos da Petrobras. Renan nega seu envolvimento no esquema. 

Em junho, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, chegou a pedir a prisão de Renan após a divulgação de áudios nos quais ele admite ao ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado ter trabalhado para evitar a recondução de Janot à PGR (Procuradoria Geral da República). O pedido de prisão, no entanto, foi rejeitado.

No dia 17 de maio, Temer também se encontrou com o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP). O encontro foi no Palácio do Planalto, por volta das 17h. Assim como Renan Calheiros, Sarney foi alvo de um pedido de prisão feito por Rodrigo Janot após aparecer em áudios gravados por Sérgio Machado. Nas conversas gravadas, Sarney promete ajudar Machado em relação às investigações da Lava Jato contra o ex-presidente da Transpetro. 

Ele é citado por Machado em sua delação premiada como um dos beneficiários dos recursos desviados da estatal. Sarney, por sua vez, nega as alegações de Machado.

Temer e Sarney - Pedro Ladeira - 24.mai.2016/Folhapress - Pedro Ladeira - 24.mai.2016/Folhapress
O presidente interino Michel Temer (à dir.) conversa com o ex-presidente José Sarney na posse do novo ministro da Cultura, Marcelo Calero. Ele também teve audiência particular com o ex-presidente
Imagem: Pedro Ladeira - 24.mai.2016/Folhapress

Outro investigado pela Operação Lava Jato com quem Temer se encontrou na condição de presidente interino foi o senador Ciro Nogueira (PP-PI), presidente do partido, no dia 5 de julho. O evento também aconteceu no Palácio do Planalto, por volta das 10h30. Nogueira é investigado por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha

Ele é citado pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa como um dos responsáveis pela divisão da propina paga pelo esquema da Lava Jato a parlamentares do PP. Em março de 2015, Nogueira negou envolvimento nas irregularidades.

Temer e Ciro Nogueira - Carolina Antunes/PR - Carolina Antunes/PR
Temer recebe o senador Ciro Nogueira (PP-PI) no Palácio do Planalto
Imagem: Carolina Antunes/PR

Reuniões de trabalho também têm investigados da Lava Jato

Não foi apenas em audiências privadas que Temer esteve lado a lado com investigados da Lava Jato. Durante diversas reuniões ministeriais e outros eventos, Temer esteve acompanhado de pessoas na mira dos procuradores da operação. No entanto, nesses casos, a agenda do Planalto não divulga a lista completa dos presentes aos eventos do presidente, o que torna impossível fazer o levantamento completo de quem esteve em todos esses eventos e reuniões -- só a lista de audiências privadas é divulgada com detalhes. 

No dia 16 de maio, por exemplo, ele teve uma reunião ministerial com integrantes da sua equipe. Entre eles, estava o agora ex-ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, suspeito de ter recebido propina disfarçada de doações de campanha de empresas que mantinham contratos com a Petrobras. 

Outro exemplo aconteceu no dia 20 de maio, quando Temer se encontrou com Romero Jucá (PMDB-RR), à época no comando do Ministério do Planejamento. Jucá também é investigado por suspeitas de recebimento de propina da Petrobras. Ele foi flagrado em conversas gravadas por Sérgio Machado nas quase ele diz que era preciso fazer um “pacto” para “estancar a sangria” causada pela Operação Lava Jato. 

Veja o que diz o governo sobre os encontros

O Palácio do Planalto não informou os temas dos encontros mantidos pelo presidente interino com investigados da Lava Jato.

A reportagem do UOL questionou o Palácio do Planalto sobre a quantidade de encontros mantidos por Temer com investigados pela Lava Jato nos últimos dois meses. Também foi questionado se houve encontros entre Temer e investigados que não foram registrados na agenda oficial (como o mantido por Temer e Cunha no final de junho), quais os temas das conversas mantidas com os investigados recebidos por Temer e se o fato de eles estarem na mira da Lava Jato não constrangia o presidente interino.

A todos esses questionamentos, a Secretaria de Imprensa da Presidência respondeu da seguinte maneira: “Todos os encontros do presidente da República interino, Michel Temer, com autoridades são de caráter institucional e estão registrados na agenda oficial”.

Desde que assumiu a Presidência interinamente, Temer tem dito que não faria interferências na Operação Lava Jato. “Pela enésima vez, não haverá interferência na Lava Jato”, disse durante um discurso em junho deste ano. 

A assessoria de imprensa do ex-presidente José Sarney informou, por telefone, que não revelaria o conteúdo da conversa mantida entre ele e o presidente Temer. “Isso cabe ao Palácio do Planalto”, disse a assessoria.

A reportagem do UOL questionou nesta segunda-feira (11), por e-mail, a assessoria de imprensa de Renan Calheiros sobre o tema dos encontros mantidos por eles nos últimos dois meses. Em resposta, afirmaram que o encontro do dia 17 foi para “definir os detalhes” da ida de Temer ao Senado para apresentar a previsão da meta fiscal de 2016, feita no dia 23 de maio. Ainda de acordo com a assessoria, “Renan Calheiros e o presidente da República em exercício, Michel Temer, não falaram sobre o tema Lava Jato”.

A reportagem tentou contatar o senador e presidente nacional do PP, Ciro Nogueira (PI), para questioná-lo sobre o tema da conversa que ele manteve com Temer, mas o senador não atendeu às ligações feitas pela reportagem.

Sobre o encontro entre Temer e Cunha, a assessoria do presidente interino informou, no último dia 27 de junho, que o tema da conversa entre os dois foi “o atual cenário político”. 

Pela enésima vez, não haverá interferência na Lava Jato, diz Temer

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