Topo

Análise: com vitória de Rodrigo Maia, Câmara procura se distanciar de Cunha

Deputados comemoram vitória de Rodrigo Maia com gritos de "Fora Cunha"

UOL Notícias

Paula Bianchi

Do UOL, no Rio

14/07/2016 00h38Atualizada em 14/07/2016 12h04

Com 285 votos, Rodrigo Maia (DEM-RJ) foi eleito presidente da Câmara dos Deputados. Maia derrotou Rogério Rosso (PSD-DF), que era considerado favorito, mas que recebeu 170 votos, no segundo turno da votação.

Para os especialistas ouvidos pelo UOL, o democrata representa uma vontade da Câmara de se afastar da imagem o ex-presidente Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que sofre um processo de cassação e foi afastado do mandato pelo Supremo Tribunal Federal. Maia também tem mais chance de integrar a Casa, dizem os analistas.

Maia teve o apoio da antiga oposição à presidente Dilma Roussef, incluindo partidos como PSDB e PPS. No entanto, apesar de ter se apresentado como fiel ao governo do presidente interino, Michel Temer, fez sua campanha também buscando votos de partidos da antiga base da presidente Dilma. Como argumento, usava sua contraposição ao chamado centrão, bloco também da base governista mas apontado como próximo a Cunha.

Para o cientista político Geraldo Tadeu Monteiro, pesquisador do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro), foi justamente essa posição que o levou à vitória. “O momento agora é o pós-Cunha”, afirma. “A Câmara tem que voltar a debater os grandes problemas nacionais, os projetos do governo. Maia está em melhores condições de ser representativo da maioria, mais pacificador e efetivo.”

Em discurso no segundo turno, Maia citou até petista Genoino

UOL Notícias

Monteiro lembra ainda que há uma consciência dos parlamentares que é preciso resgatar a respeitabilidade na Câmara. “Rosso representa muito essa lógica do 'centrão', mais conservador, que foi a base de sustentação do Eduardo Cunha, e equivaleria a uma mudança 'meia-bomba'. Repercutiria mal na opinião pública."

O constitucionalista e professor da USP (Universidade de São Paulo) Rubens Beçak também vê Maia como um candidato mais progressista. “Ele parece uma pessoa, na sua vivência política, de posturas políticas mais progressistas, em comparação com Rosso. Também ajuda ter uma base partidária não tão vinculada a Cunha e ao centrão.”

Maia chegou a ser cotado para ocupar a função de líder do governo Temer na Câmara, cargo importante por representar a orientação do Planalto nas votações. No entanto, Maia acabou preterido e o escolhido para ser líder de Temer foi André Moura (PSC-SE), aliado de Cunha e expoente do centrão.

Filho do ex-prefeito do Rio Cesar Maia, o deputado do DEM está em seu quinto mandato na Câmara. A mulher de Rodrigo Maia, Patrícia Vasconcelos, é enteada de Moreira Franco, uma das principais lideranças do PMDB e atualmente secretário executivo do Programa de Parcerias e Investimentos do governo interino.

Além de Maia e Rosso, concorreram também Marcelo Castro (PMDB-PI), Giacobo (PR-PR), Esperidião Amin (PP-SC), Luiza Erundina (PSOL-SP), Orlando Silva (PCdoB-SP), Fábio Ramalho (PMDB-MG), Cristiane Brasil (PTB-RJ), Carlos Henrique Gaguim (PTN-TO), Carlos Manato (SD-ES), Miro Teixeira (Rede-RJ), e Evair Vieira de Melo (PV-ES).

Mandato-tampão

O deputado vai comandar a Câmara até 1º de fevereiro do próximo ano, quando ocorre a eleição para a chefia da Câmara para o biênio 2017/2018. O mandato será curto, de seis meses já que na próxima semana o Congresso Nacional entre no chamado recesso branco e só retoma as atividades em agosto.

Apesar disso, Maia terá desafios a enfrentar, como o processo de cassação de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e a tramitação de propostas impopulares de interesse do governo do presidente interino.

O chefe da Câmara também será o sucessor imediato de Temer caso ele seja confirmado na Presidência da República no lugar de Dilma Rousseff. Caberá ao novo presidente assumir o comando do país quando Temer viajar ao exterior, por exemplo.

Como benefícios do cargo, o presidente da Câmara terá direito a residência e carro oficiais, equipe de segurança, gabinete exclusivo e voos em jatos da FAB (Força Aérea Brasileira).

A eleição foi precipitada pela renúncia de Eduardo Cunha ao cargo, na última quinta-feira (7), dois meses após ser afastado do exercício do mandato, e, portanto, do cargo, pelo STF (Supremo Tribunal Federal), por suspeitas de que usava o cargo para interferir nas investigações contra ele.

Atualmente, Cunha enfrenta um processo de cassação no Conselho de Ética da Câmara e diversas investigações no STF por suspeitas de participação em esquemas de corrupção. O deputado nega irregularidades e diz que vai provar sua inocência.