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Após derrota na Câmara, Rosso nega fim do "centrão"

Felipe Amorim

Do UOL, em Brasília

15/07/2016 16h06Atualizada em 15/07/2016 17h12

Principal candidato do chamado "centrão" à presidência da Câmara, Rogério Rosso (PSD-DF) afirmou nesta sexta-feira (15) que a convergência ao centro do grupo político deverá permanecer, mas o bloco informal deve perder protagonismo dentro da base aliada do governo interino de Michel Temer.

"Somos uma só base. Claro, partidos que têm afinidades naturais, seja por mérito, seja por princípio, seja por história. Mas o desafio de todos é consolidar essa base. Não é o fim do centrão, é o início de uma consolidação padrão da base Temer. É o início de um novo momento partidário", disse Rosso, em entrevista a jornalistas na Câmara dos Deputados.

Rosso foi derrotado por Rodrigo Maia (DEM-RJ) no segundo turno da disputa pela presidência da Câmara, por 285 votos a 170. A derrota de Rosso foi interpretada por deputados de oposição como um enfraquecimento do centrão.

Temer afirmou em entrevista publicada hoje pelo jornal “O Estado de S.Paulo” que pretende “desidratar” o "centrão". "Quero desidratar essa coisa de centrão e de outro grupo. É preciso unificar isso. Quero que seja tudo situação", disse o presidente interino. Com "outro grupo", Temer se refere à antiga oposição, composta por PSDB, DEM, PPS e PSB.

Rosso disse concordar com a avaliação do presidente. “A matéria [do jornal] dá uma linha não de que o 'centrão' acabou, mas que pela configuração da eleição as forças internas vão se reagrupar. E eu concordo”, afirmou o deputado do PSD.

“O centrão já foi um dia um nome não pejorativo, hoje é pejorativo. Eu sou daqueles que defendo uma base só”, disse Rosso.

"Centrão" é como ficou conhecido o bloco informal de 13 partidos que ganhou protagonismo na Câmara durante a gestão de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na presidência da Câmara.

Na eleição que escolheu Maia como novo presidente da Casa, havia seis candidatos de partidos do grupo. Rosso passou ao segundo turno, mas obteve votação menor que o tamanho das bancadas do grupo, que, juntas, têm 217 deputados.

Relação com Eduardo Cunha

Um dos argumentos da antiga base da presidente afastada, Dilma Rousseff, para apoiar Maia foi a necessidade de se contrapor a Rosso, apontado como candidato mais alinhado com o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Ele nega este alinhamento e diz que o argumento foi apenas uma estratégia para lhe retirar votos. “Foi a forma que alguns adversários tentaram desconstruir [minha candidatura]”, disse. O deputado do PSD afirma ter mantido uma relação apenas “institucional” com Cunha.

Rosso diz que ouviu de deputados do PT que o partido não poderia apoiar a candidatura do PSD por ele ter sido o presidente da comissão do impeachment na Câmara e ter votado a favor do processo contra Dilma.

Cunha atualmente enfrenta um processo de cassação do mandato, após contas ligadas a ele na Suíça terem sido reveladas a partir de investigações da Operação Lava Jato. A perda de mandato do peemedebista deve ser votada pela Câmara em agosto.

Rosso, que é líder do PSD, diz que o partido deve liberar os deputados de sua bancada para votarem de acordo com a avaliação de cada um deles. Um dos motivos, diz, seria o de não buscar benefícios à imagem política do partido com o processo. “O PSD não quer fazer de cassação de ninguém palanque”, afirma.

Na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), os quatro deputados do PSD votaram contra o recurso de Cunha e pelo prosseguimento do processo de cassação.