O que pode levar Temer a tentar (ou não) ser presidente eleito?
O processo de impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff (PT), ainda nem terminou e a discussão sobre a possibilidade de reeleição do interino, Michel Temer (PMDB), em 2018, deixou aliados e rivais em alerta.
Em entrevista no início da semana, o novo presidente da Câmara e aliado de Temer, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que o interino é candidato natural caso “o governo chegue a 50% de ótimo ou bom”.
Diante da polêmica, o Palácio do Planalto se apressou em declarar, por meio de nota, que Temer “não cogita disputar a reeleição”.
Mas o que levaria Temer a entrar na disputa ou desistir da empreitada? Especialistas e parlamentares aliados do presidente interino apontam pontos a favor e contra a ideia.
Acordo com aliados
O presidente do Solidariedade e deputado federal, Paulinho da Força (SP), disse que a declaração de Maia “não foi um bom negócio”.
“É uma questão que mais atrapalha do que ajuda. Talvez ele [Maia] tenha tentado agradar, mas acabou criando um problema para toda a base do governo, que tem uma coalizão de forças apoiando o Michel Temer. Nada garante que essa mesma coalizão estará junto em 2018”, disse Paulinho.
Para o cientista político da Fundação Getúlio Vargas Marco Antônio Teixeira, a impressão é de que o presidente da Câmara não daria a polêmica declaração “sem que tivesse a autorização para tanto”.
“No mínimo ele [Maia] conversou com a cúpula do PMDB ou com o governo. Sabemos que a base do Michel Temer é heterogênea e que se reuniu mais com o desejo de afastar o PT do poder do que para colocar o Temer na Presidência da República. A todos, incluindo o PSDB, foi levado o entendimento de que seria Temer até 2018, depois o jogo ficaria aberto. Antecipar o processo eleitoral seria ruim para qualquer governo”, afirma Teixeira.
Oposição fragmentada
Com o afastamento de Dilma e a possibilidade de impeachment, partidos que apoiam o governo Temer apostam em derrotas do PT em cidades importantes nas eleições municipais deste ano. Isso deve provocar um rearranjo das forças políticas no país. Segundo especialistas ouvidos pela reportagem, os petistas devem ficar isolados em 2018. Teixeira fala em “ostracismo da oposição”.
“O governo interino conta com esse ostracismo e caminha com o seu projeto. O PMDB é um partido bom de eleição regional e péssimo de eleição presidencial. É uma lógica que Temer pode vir a desafiar”, afirma.
Ficha-suja e falta de popularidade
Em maio deste ano, o TRE-SP (Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo) condenou Michel Temer por ter doado dinheiro a campanhas acima do limite legal em 2014. Com base na Lei da Ficha Limpa, que prevê a inelegibilidade de políticos condenados por órgãos colegiados, o presidente interino foi considerado inelegível pelos próximos oito anos.
“Ele [Temer] também tem contra si um processo de impeachment na Câmara, já que o Supremo obrigou a Casa a iniciar o processo contra o presidente interino, que também assinou as chamadas ‘pedaladas fiscais’”, diz Pedro Arruda, cientista político da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo.
Para Roberto Gondo, especialista em marketing político e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, a possibilidade de reeleição pode ser um verdadeiro “tiro no pé”.
“Não faz sentido até pelo próprio perfil do PMDB, que se acostumou a ser um partido de governabilidade, de quadros de apoio e não de quadros de candidatura. Ele [Temer] precisa manter a neutralidade para realizar reformas importantes, fazendo intervenções para a economia voltar a fluir”, afirma Gondo.
“O Michel Temer não tem base social, apoio popular nenhum. É uma pessoa de bastidores, onde circula com desenvoltura”, diz Arruda.
Ambição pessoal e ambiente econômico
Embora tenha ocupado posições de destaque ao longo de mais de três décadas de vida política, Michel Temer nunca encabeçou uma chapa para um cargo do Executivo.
“Quem acompanha o Temer sabe que ele é um grande articulador, não é necessariamente um candidato, uma pessoa de ‘front office’. Vejo ele hoje articulando pelo fortalecimento do PMDB, da representatividade do partido e não se colocando como única alternativa”, afirma o professor do Mackenzie.
“O Michel não precisa disso [ser candidato em 2018]. Ele tem uma tarefa gigantesca nesses dois anos e meio de governo, que é encaminhar e dar novos rumos a um novo Brasil que começou a ser desenhado”, diz o vice-líder do governo Temer na Câmara, deputado federal Darcísio Perondi (PMDB-RS).
“Embora o ambiente econômico prometa uma melhora, como mostram alguns indicadores divulgados pela imprensa, na política você não vê sinais de apaziguamento. A Lava Jato segue e o PSDB, principal aliado do PMDB no governo federal, é adversário em vários Estados, incluindo São Paulo. Há um ambiente muito conturbado ainda, e esse ‘balão de ensaio’ lançado pelo Rodrigo Maia serviu apenas para colocar mais pimenta”, diz Teixeira.
“Se insistirem nessa história de candidatura, os partidos da base vão cair fora e todo o esforço que estamos fazendo será destruído”, diz o deputado Paulinho.
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