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Mantega deveria ser tratado "como ser humano", diz Lula após prisão

Mantega foi ministro da Fazenda entre 2006 e 2014, nos governos Lula e Dilma - Antônio Cruz/ABr
Mantega foi ministro da Fazenda entre 2006 e 2014, nos governos Lula e Dilma Imagem: Antônio Cruz/ABr

Do UOL, em Brasília

22/09/2016 11h27Atualizada em 22/09/2016 13h47

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou nesta quinta-feira (22) a ação da Polícia Federal durante a 34ª fase da Operação Lava Jato. Em entrevista a uma emissora de rádio no Ceará, Lula disse que o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, preso durante a operação, deveria ser tratado como “um ser humano”. A menção foi feita à informação de que Mantega, que foi preso em frente ao hospital Albert Einstein, em São Paulo, teria sido detido dentro na sala de cirurgia do hospital no momento em que sua mulher, vítima de um câncer, seria operada. No início na tarde, porém, o juiz Sergio Moro mandou soltar o petista

“O que me preocupa é a notícia de que o ex-ministro Guido Mantega foi preso dentro da sala de cirurgia [...] ia começar o processo cirúrgico e ele foi preso lá dentro. Se isso é verdade, qualquer tese de humanitarismo foi jogada no lixo porque o Guido é um homem que foi ministro da Fazenda, que tem residência fixa. As pessoas poderiam tratá-lo como se trata todo ser humano”, disse Lula.

A informação de que Mantega teria sido detido dentro do centro cirúrgico do hospital começou a circular logo após a deflagração da operação e da confirmação de sua prisão temporária, mas foi posteriormente contestada durante a entrevista coletiva realizada em Curitiba por integrantes da PF e do MPF (Ministério Público Federal).

“Ele não estava no centro cirúrgico [quando foi feita a abordagem]. Não houve entrada de hospital, nem no centro cirúrgico", disse o delegado da PF responsável pela operação, Igor Romário de Paula.

Mantega preso - Marcos Bezerra/Futura Press/Estadão Conteúdo - Marcos Bezerra/Futura Press/Estadão Conteúdo
O ex-ministro Guido Mantega foi preso na 34ª fase da Lava Jato
Imagem: Marcos Bezerra/Futura Press/Estadão Conteúdo

De acordo com os procuradores da Lava Jato, o então ministro atuou diretamente junto ao empresário Eike Batista, dono da empresa OSX, que havia sido contratada pela Petrobras, para negociar o repasse de recursos para pagamentos de dívidas de campanha de partidos políticos aliados do governo do PT em 2012.

Em seu depoimento, Eike declarou que recebeu pedido do ex-ministro para que fizesse um pagamento de R$ 5 milhões para o PT.

Mantega foi ministro da Fazenda entre 2006 e 2014, nos governos dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, ambos do PT. Ele também foi presidente do Conselho de Administração da Petrobras.

Lula, que se tornou réu na Operação Lava Jato na última terça-feira (20), disse não temer os processos que tramitam contra ele. “Eu não temo [investigações]. Eu, sinceramente, acho que pode continuar investigando. Estarei disposto a prestar tantos depoimentos eles querem que eu faça, seja aqui, no Vaticano, na Casa Branca, no microfone da rádio. O que eu acho é que há um processo equivocado. Na minha opinião, com um viés político muito forte”, disse.

O ex-presidente, que disse ter gravado programas eleitorais para campanhas de mais de 400 cidades, afirmou que ainda é cedo para pensar nas eleições de 2018, mas que, “se precisar”, ele voltará à disputa. “Mas se a preocupação é com 2018, se precisar, se preparem que eu vou voltar. Eles sabem que quem sabe cuidar bem desse povo sou eu”, disse Lula.

Repercussão

Em entrevista ao jornal "Folha de S.Paulo", o advogado de Mantega, José Roberto Batochio, disse esperar que a ação da PF não atrapalhe a cirurgia da mulher do ex-ministro. Já o vice-líder do PT na Câmara dos Deputados, Paulo Pimenta (RS), classificou como "covardia" a prisão de Mantega no hospital.

A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) classificou a ação de "espetáculo". "E não podia faltar o espetáculo e a humilhação, característicos de Moro e PF", disse a petista.

O presidente nacional do PT, Rui Falcão, disse que o ocorrido foi uma "desumanidade inaceitável". "A operação não deveria chamar Arquivo X, mas sim Operação Boca de Urna", comentou Falcão à "Folha".

o desembargador e professor de direito Wálter Maierovitch considerou "exagerada, desproporcional, desnecessária" a prisão temporária do ex-ministro. Maierovitch afirma que a prisão temporária só pode ser decretada se de fato necessária às investigações ou se tornaria uma "antecipação do julgamento".

Procurado, o Hospital Albert Einstein disse que não tinha informações sobre o estado de saúde da mulher de Mantega.