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PF nega que ministro da Justiça soubesse de nova fase da Lava Jato

Em junho, Alexandre de Moraes (centro) se encontrou com Sergio Moro (à esq. dele) - Ministério da Justiça/Divulgação
Em junho, Alexandre de Moraes (centro) se encontrou com Sergio Moro (à esq. dele) Imagem: Ministério da Justiça/Divulgação

Do UOL, em São Paulo

26/09/2016 10h41

A Polícia Federal negou nesta segunda-feira (26) que o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, soubesse com antecedência da nova fase da Operação Lava Jato que prendeu o ex-ministro Antônio Palocci. Ontem, um dia antes da prisão, Moraes afirmou que haveria "novidades" na operação. Ele estava na cidade natal do ex-ministro.

Em nota lida antes de entrevista coletiva, a PF disse que "adotou o mesmo padrão de compartimentação" e que "somente as pessoas diretamente responsáveis pela investigação possuem conhecimento de seu conteúdo".

"Como já foi amplamente demonstrado em ocasiões anteriores, o Ministério da Justiça não é avisado com antecedência sobre operações especiais. No entanto, é sugerido ao seu titular que não se ausente de Brasília nos casos que possam demandar sua atuação, não sendo informado a ele os detalhes da operação", diz o texto.

Ontem, em visita a Ribeirão Preto (interior de São Paulo), berço político e cidade natal de Palocci, Moraes disse que uma "nova etapa da Operação Lava Jato seria realizada nesta semana". A revelação ocorreu durante ato de campanha com integrantes do MBL (Movimento Brasil Livre), um dos grupos que coordenou os protestos que pediam o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

"Teve a semana passada e esta semana vai ter mais, podem ficar tranquilos. Quando vocês virem esta semana, vão se lembrar de mim", declarou ele, na ocasião.

Horas depois, a assessoria de comunicação do Ministério da Justiça informou que a afirmativa de Moraes foi apenas uma "força de expressão". De acordo com o posicionamento oficial, a ideia era dar uma "garantia" de que as investigações e operações da PF terão continuidade e "atuação independente".

Segundo reportagem da “Folha de S.Paulo”, o presidente Michel Temer vai cobrar explicações de seu ministro da Justiça sobre as declarações a respeito da Lava Jato. Temer estaria preocupado com críticas de que seu governo usaria politicamente a operação.

O discurso de Moraes chamou atenção porque não é procedimento usual o repasse prévio desse tipo de informação a ministros de Estado. Apesar de a Polícia Federal responder diretamente ao Ministério da Justiça, em geral, o titular da pasta é avisado sobre determinadas operações após o cumprimento das diligências.

Palocci é natural do município paulista e médico formado pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. Foi vereador e, em 1992, prefeito da cidade. Durante a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva, ocupou cargo de ministro da Fazenda (2003-2006), e, no governo de Dilma Rousseff, foi ministro-chefe da Casa Civil (2011).

O criminalista José Roberto Batochio, advogado de Palocci, afirmou que o ex-ministro nunca recebeu vantagens ilícitas. Batochio também acusou a Lava Jato de "autoritarismo" e demonstrou preocupação sobre a possibilidade de o ministro da Justiça ter tido informações prévias sobre a operação.

Veja a íntegra da nota divulgada pela Polícia Federal:

Em relação à 35ª fase da Operação Lava Jato, a Polícia Federal esclarece que adotou o mesmo padrão de compartimentação e cuidado com a informação que caracterizaram as quase 500 operações deflagradas este ano.

Somente as pessoas diretamente responsáveis pela investigação possuem conhecimento de seu conteúdo.

Da mesma forma, as datas de desencadeamento das operações especiais de polícia judiciária são acompanhadas apenas pelos responsáveis pela coordenação operacional.

Como já foi amplamente demonstrado em ocasiões anteriores, o Ministério da Justiça não é avisado com antecedência sobre operações especiais. No entanto, é sugerido ao seu titular que não se ausente de Brasília nos casos que possam demandar sua atuação, não sendo informado a ele os detalhes da operação.

A Polícia Federal, instituição do Estado brasileiro, reafirma sua atuação de acordo com o Estado Democrático de Direito.