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Manifestantes feridos dizem que repressão da PM só incentiva novos atos no Rio

O servidor Joel Benozor, 52, ficou ferido nas pernas, no antebraço, no pescoço e na boca - Gustavo Maia/UOL
O servidor Joel Benozor, 52, ficou ferido nas pernas, no antebraço, no pescoço e na boca Imagem: Gustavo Maia/UOL

Gustavo Maia

Do UOL, no Rio

16/11/2016 17h38Atualizada em 16/11/2016 19h41

Em meio à confusão generalizada que se seguiu à chegada do Batalhão de Choque da Polícia Militar aos arredores da Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio), no centro da capital fluminense, no início da tarde desta quarta-feira (16), manifestantes que protestavam contra o pacote de medidas de austeridade em discussão na Casa se feriram tanto por conta da repressão policial quanto por agressões de participantes do protesto.

Manifestantes feridos ouvidos pelo UOL disseram acreditar que as cenas de violência desta quarta vão incentivar novos atos contra as ações propostas pelo governo do Estado.

Atingido por uma bomba de efeito moral atirada pela Tropa de Choque, o servidor administrativo da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) Joel Benozor, 52, ficou ferido nas pernas, no antebraço, no pescoço e na boca. "A bomba bateu na minha perna, a calça pegou fogo e os estilhaços subiram e bateram até aqui", disse, apontando para a boca, que tinha marcas de sangue.

"Eu me afastei da confusão e estava assistindo de longe. Eles quiseram machucar mesmo, foi uma chuva de bombas. Esse tipo de coisa só me incentiva a participar de novos protestos", afirmou Benozor.

Ferido alerj - Gustavo Maia/UOL - Gustavo Maia/UOL
Ferimentos por bala de borracha do servidor Joel Benozor
Imagem: Gustavo Maia/UOL
Enquanto conversava com a reportagem, o servidor foi abordado por outro manifestante, que o orientou a ir ao hospital, mostrando as próprias cicatrizes. "Esses estilhaços entram na pele e infeccionam. Eu tive até que fazer uma pequena cirurgia e ficar tomando antibiótico durante um bom tempo", contou o homem.

Para a professora da rede estadual Bárbara Sinedino, 30, que disse já ter participado de outros protestos, a repressão desta quarta hoje foi "especialmente truculenta".

"Mas não é porque jogaram bombas que a gente vai aceitar o pacote. Só aumenta a nossa indignação. Eu saio daqui hoje com muito mais raiva, porque vim lutar pelos meus direitos e fui vítima de um massacre. Vai acabar inflamando ainda mais os atos", declarou.

Professora de educação física da rede estadual, Milene Domingos, 41, foi derrubada no chão após levar um chute de outro manifestante, servidor da segurança pública, que tinha um distintivo da Polícia Civil pendurado no pescoço. A agressão foi presenciada pela reportagem do UOL.

"Um amigo professor foi agredido pelos manifestantes da segurança porque jogaram uma bomba e ele chutou de volta e cobriu o rosto com a camisa. Ele caiu no chão, mas conseguiu sair correndo. Quando fui defender ele, alguém me derrubou", disse Milene.

O repórter do UOL foi orientado por policiais que estavam protestando a tirar a máscara de gás e o capacete --equipamentos de proteção utilizados por jornalistas em manifestações-- "para não apanhar".

Para a educadora, a reação ao protesto desta quarta "vai trazer o apoio popular como aconteceu com o movimento dos bombeiros em 2012".

Defensoria

O Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro manifestou por meio de nota “preocupação com o uso excessivo da força pelos agentes policiais durante a manifestação dos servidores públicos em frente ao Palácio Tiradentes”.

“Se não é possível concordar com o ingresso à força na Assembleia Legislativa, tampouco encontra amparo no Estado Democrático de Direito a utilização de bombas e spray de pimenta contra servidores públicos que se encontravam distantes do Palácio Tiradentes”, afirmou o Núcleo na nota.

O órgão disse que instaurou “procedimento para apurar a conduta das forças policiais” e que “está à disposição da população para atendimento na Rua México, nº 11, sala 1501, Centro”.