Topo

Esporte, turismo, porto e UPP. Eike foi "fada madrinha" do Rio por quase 10 anos

Felipe Dana/AP
Imagem: Felipe Dana/AP

Paula Bianchi

Do UOL, no Rio

26/01/2017 19h48

Durante a “época de ouro” do grupo EBX, o empresário Eike Batista foi também uma espécie de “fada madrinha” de investimentos no Rio de Janeiro. Da campanha para a realização da Olimpíadas 2016 na capital fluminense às UPPs (Unidades de Polícia Pacificadoras), menina dos olhos da administração do ex-governador Sérgio Cabral, Eike esteve presente em boa parte dos principais projetos realizados no Estado nos últimos 10 anos.

Com prisão preventiva decretada e procurado pela Polícia Federal desde o início da manhã desta quinta-feira (26) por ter pagado propina para Cabral utilizando um contrato fictício, Eike era muito próximo ao ex-governador. Os dois costumavam rebater as acusações de conflito de interesse -- além de participar dos projetos, o que acarreta uma série de isenções fiscais ao grupo EBX no Estado, ele foi um dos principais doadores das campanhas do peemedebista --, dizendo que a amizade e os laços pessoais não beneficiavam o empresário em negócios com o governo fluminense.

O relacionamento entre Eike e Cabral chegou a ser alvo de investigação após vir à tona que o empresário havia emprestado um jatinho para o político ir a uma festa, em junho de 2011. Mas o procurador-geral de Justiça do Rio, Cláudio Lopes, concluiu que a conduta do governador foi questionável no campo da ética, mas não resultou em improbidade administrativa, e o processo foi arquivado.

Rio 2016

Rio 2016 - Tomaz Silva/Agência Brasil - Tomaz Silva/Agência Brasil
Imagem: Tomaz Silva/Agência Brasil
Em 2007, logo após Sergio Cabral assumir seu primeiro mandato como governador, Eike doou mais de R$ 20 milhões para a candidatura brasileira que elegeu o Rio como cidade-sede da Olimpíada, deixando para trás Doha, Chicago, Tóquio e Madri. Foram duas doações, de R$ 10 milhões e R$ 13 milhões, feitas através do grupo EBX.

Hotel Glória 

Hotel Glória - Vinicius Konchinski/UOL - Vinicius Konchinski/UOL
Imagem: Vinicius Konchinski/UOL
Já pensando nos grandes eventos, Eike comprou, em 2008, o famoso hotel Glória, rebatizado de Glória Palace Hotel. O Grupo EBX também planejava converter o Hilton Santos, conhecido como "Morro da Viúva", do Clube de Regatas do Flamengo, em hotel Parque do Flamengo, ambos abandonados.

A meta era reformar o hotel a tempo de reinaugurá-lo para a Copa de 2014. Mas, com a crise do grupo X, a reforma foi paralisada ainda em 2013. Em fevereiro de 2014, Eike anunciou a venda do hotel para um grupo suíço, mas o negócio acabou não ocorrendo e, na metade de 2016, o empresário vendeu o empreendimento para um fundo de investimentos árabe.

Marina da Glória

Marina da Glória - Júlio César Guimarães/UOL - Júlio César Guimarães/UOL
Imagem: Júlio César Guimarães/UOL
No ano seguinte, em 2009, o empresário assumiu o controle da MG Rio Gerenciamento e Locações, que detinha a concessão do Complexo da Marina da Glória, no Aterro do Flamengo, tombado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). A ideia de Eike era criar um polo comercial e hoteleiro, casando com a marina a operação do vizinho Hotel Glória.

O empresário pretendia construir um centro de convenções, um estacionamento subterrâneo para 1.500 veículos e pelo menos 800 vagas para barcos, projeto que acabou vetado pelo Iphan pelo excesso de edificações. Ele ainda tentou emplacar, em 2013, um projeto simplificado, mas já com o capital do grupo EBX diminuindo na bolsa, acabou vendendo a empresa que administrava o local para a BR Marinas.

UPPs

UPP_policial_armado - Fábio Teixeira/UOL - Fábio Teixeira/UOL
Imagem: Fábio Teixeira/UOL
Em 2010, Eike anunciou a doação de R$ 20 milhões para o governo do Rio e o compromisso de entregar o mesmo valor todos os anos, até 2014, para compra de equipamentos e construção de novas Unidades de Polícia Pacificadora. Hoje combalido, o projeto foi uma das principais bandeiras políticas do candidato Cabral durante sua campanha para reeleição em 2010. Em agosto de 2013, a EBX decidiu rescindir os convênios firmados com a Secretaria de Segurança do Rio – na mesma época, a petrolífera OGX, parte do grupo, perdeu cerca de 80% de seu valor na bolsa.

Um time de vôlei para o Rio

RJX vôlei - cbv - cbv
Imagem: cbv
Em abril de 2011, Eike fez seu primeiro investimento esportivo e criou um time de vôlei: o RJX. Com nomes como os medalhistas olímpicos Dante, Bruninho e Leandro Vissotto, a equipe venceu a Superliga Masculina, em abril de 2013. Com isso, o Rio voltou a ter um campeão nacional em torneios masculinos de vôlei após 32 anos -- o último havia sido o Atlântica/Boavista, em 1981. No final do ano, o grupo EBX retirou o patrocínio do time, que chegou a mudar de nome, mas não conseguiu mais se manter.

Rock In Rio

Eike in Rio - Antonio Lacerda/Efe - Antonio Lacerda/Efe
Imagem: Antonio Lacerda/Efe
Em 2012, Eike adquiriu metade das ações da companhia Rock World, proprietária da marca Rock in Rio, controlada pelo empresário Roberto Medina. Em 2014, o empresário reduziu de 50% para 20% a participação da IMX, braço de entretenimento do grupo, no evento e em 2015, vendeu a sua parte no negócio.

Maracanã

Maracanã - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação
Eike Batista e a Odebrecht saíram na frente na disputa pelo controle do Maracanã. O Consórcio Maracanã SA, formado pela Odebrecht Participações, IMX Venues e AEG Administração de Estádios do Brasil, acabou vencendo a licitação pelo controle do estádio. Hoje a Odebrecht, que tenta devolver o estádio ao Estado, possui 95% da concessão - o restante é da americana AEG. A IMX, de Eike, tinha 5% mas os cedeu à empreiteira.

Superporto do Açu

Superporto - Divulgação/MMX - Divulgação/MMX
Imagem: Divulgação/MMX
O empresário capitaneou ainda a construção do Superporto do Açu, cercada de polêmicas. Em 2013, por exemplo, o Ministério Público Federal em Campos dos Goytacazes (RJ) afirmou que as obras do porto causaram a salinização de água e solo na região. Com mais de 25 km de docas, píeres e quebra-mares, o Açu foi um dos investimentos mais ambiciosos do empresário, que acabou tendo que se desfazer de grande parte do porto ao longo dos anos.

Ele cedeu o controle de Açu à EIG Energy Partners, sediada em Washington, em 2013, em troca da promessa de investimentos de US$ 562 milhões no porto inacabado. Após iniciar o projeto portuário, em 2007, Eike agora possui menos de 0,3% das ações da empresa responsável pelo local e evitou até participar da inauguração dos primeiros terminais do porto, na metade do ano passado.

PF prende membros da organização de Cabral

AFP