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Alvo de 2 inquéritos, Kassab recebeu vantagens de R$ 20 milhões, dizem delatores

Ministro Kassab afirma que não cometeu ilegalidades - Marcelo Camargo/Agência Brasil
Ministro Kassab afirma que não cometeu ilegalidades Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Flávio Costa

Do UOL, em São Paulo

11/04/2017 21h07

O ministro da Ciência e Tecnologia, Gilberto Kassab (PSD), recebeu vantagens indevidas, no valor de R$ 20 milhões, quando ocupou os cargos de prefeito de São Paulo e de ministro das Cidades. As afirmações são dos ex-executivos da Odebrecht Benedicto Barbosa da Silva Júnior e Paulo Henyan Yue Cesena em seus depoimentos de delação premiada. Kassab é um dos nove ministros do governo Temer alvos de inquéritos nesta rodada da Operação Lava Jato.

O ministro Edson Fachin, relator dos processos da Lava Jato no STF (Supremo Tribunal Federal), decidiu abrir dois inquéritos contra Kassab, a pedido da Procuradoria-Geral da República.

O primeiro inquérito trata justamente de afirmações sobre vantagens recebidas por Kassab: "Segundo o Ministério Público, narram os colaboradores que, no período entre os anos de 2008 a 2014, o referido ministro de Estado teria recebido, a pretexto da obtenção de vantagens pela sua condição de Prefeito Municipal de São Paulo/SP e, após, de ministro das Cidades, vantagem indevida no valor de R$ 20.000.000,00 (vinte milhões de reais)", lê-se no despacho de Fachin, em um dos inquéritos.

Kassab foi prefeito de São Paulo entre março de 2006 e dezembro de 2013, e ministro das Cidades durante o governo Dilma.

Abadá de R$ 2 milhões

O depoimento de outros delatores da Odebrecht -- Carlos Armando Guedes Paschoal  e Roberto Cumplido -- serviu de base para abertura do segundo inquérito contra Kassab.

Eles afirmaram que a empresa acertou um pagamento de propina de 5% no valor de obras viárias em São Paulo no ano de 2008, quando Kassab foi reeleito prefeito.

Ainda segundo os delatores, foi pedido um adiantamento -- chamado de "abadá" -- de R$ 2 milhões, dinheiro que seria usado na campanha de reeleição de Kassab daquele ano. Este pedido específico foi negado, segundo os delatores," em razão de já existir doações diretas ao então candidato". 

De acordo com delatores, o acerto teria sido feito pelo então diretor da Dersa (Companhia de Desenvolvimento Rodoviário), Paulo Vieira Souza, mais conhecido como "Paulo Preto".

"Consoante narrado, os colaboradores, em 2008, foram chamados por Paulo Vieira de Souza, então diretor de Engenharia da Dersa, quando foi proposto um “acordo de mercado” entre grandes e médias empresas, situação aceita pelo grupo Odebrecht tendo a condição de líder do consórcio", lê-se no despacho, em razão de já existir doações diretas ao então candidato.

Em nota enviada por sua assessoria de imprensa, o ministro Gilberto Kassab afirma "confiar na Justiça" e ressalta "que não teve acesso oficialmente às informações e que é necessário ter cautela com depoimentos de colaboradores, que não são provas." 

Kassab reafirma "que os atos praticados em suas campanhas foram realizados conforme a legislação". A reportagem não conseguiu contato com Paulo Vieira Souza.