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Aécio pediu R$ 7 milhões em doações ilegais para campanha de Anastasia, diz delator

Anastasia (à esquerda) e Aécio Neves no Senado em setembro de 2015 - Pedro Ladeira - 24.set.2015/Folhapress
Anastasia (à esquerda) e Aécio Neves no Senado em setembro de 2015 Imagem: Pedro Ladeira - 24.set.2015/Folhapress

Bernardo Barbosa

Do UOL, em São Paulo

12/04/2017 21h07Atualizada em 12/04/2017 23h00

Dois ex-executivos da Odebrecht afirmaram, em delações premiadas, que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) pediu doações ilegais que somam R$ 7,275 milhões para a campanha do também senador Antonio Anastasia (PSDB-MG) ao governo de Minas Gerais em 2010. Segundo a PGR (Procuradoria-Geral da República), os dois políticos podem ter cometido os crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

As informações fornecidas pelos ex-executivos Benedicto Júnior e Sérgio Neves estão em pedido de investigação feito pela PGR e aceito pelo ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no STF (Supremo Tribunal Federal). Na terça (11), após a abertura dos inquéritos, Aécio e Anastasia negaram irregularidades.

Benedicto, também conhecido como BJ, disse ter sido procurado pessoalmente por Aécio para que as doações ilegais fossem feitas. Parte delas, que somaram R$ 5,475 milhões, teriam sido pagas em dinheiro ao longo do segundo semestre de 2010, em lotes que foram de R$ 300 mil a R$ 1,5 milhão.

Quem recebeu esta parte do dinheiro, segundo os relatos, foi Oswaldo Borges da Costa Filho, citado pela PGR como coordenador da campanha de Anastasia. Oswaldo foi presidente da estatal mineira Codemig (Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais), responsável pela licitação e pelas obras da Cidade Administrativa do Estado, quando também teria participado de outro esquema de corrupção e doações ilegais como operador de Aécio.

Segundo o pedido da PGR, BJ disse em sua delação que tinha uma “relação fluida com Aécio Neves, chegando a se encontrar semanalmente com ele”.

Contrato fictício

Aécio teria feito outro pedido de doação ilegal no valor de R$ 1,8 milhão ainda em junho de 2009, supostamente para a pré-campanha de Anastasia ao governo de Minas. O pedido é descrito por Sérgio Neves, segundo o qual a solicitação de Aécio foi feita a Benedicto Júnior.

De acordo com Sérgio, o pagamento seria feito por meio de um contrato fictício da Odebrecht com a PVR Propaganda e Marketing Ltda., cujo proprietário era o marqueteiro de Aécio, Paulo Vasconcelos do Rosário Neto. Foram feitos 12 repasses de R$ 150 mil entre 2009 e 2010. Sérgio e Benedicto apresentaram à PGR as mesmas notas fiscais dos pagamentos.

Segundo a PGR, os ex-funcionários da Odebrecht podem ter cometido os crimes de corrupção ativa e lavagem de dinheiro.

Em nota, a assessoria de Antonio Anastasia disse que, "em toda sua trajetória, Anastasia nunca tratou de qualquer assunto ilícito com ninguém." 

A reportagem do UOL entrou em contato com a assessoria de Aécio Neves, quando foi orientada a encaminhar o pedido de resposta por e-mail. Foi enviada uma mensagem às 19h50 pedindo a posição do senador sobre as acusações dos delatores, mas ainda não foi respondida. Será incluído seu comentário assim que chegar. 

Na terça (11), após a abertura de investigação sobre o caso por ordem do STF, Aécio disse considerar importante o fim do sigilo sobre delações e afirmou que “assim será possível desmascarar as mentiras e demonstrar a absoluta correção de sua conduta”.