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Dinheiro da Odebrecht ajudou a bancar a fundação do PSD, diz delator

O ministro da Ciência e Tecnologia, Gilberto Kassab - Marcelo Camargo/Agência Brasil
O ministro da Ciência e Tecnologia, Gilberto Kassab Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Do UOL, em São Paulo

13/04/2017 00h03

Gilberto Kassab, ministro da Ciência e Tecnologia, foi citado em uma delação premiada pedindo R$ 17,9 milhões à Odebrecht para ajudar na fundação do PSD. A afirmação é de Benedicto Barbosa da Silva Júnior ao mencionar a segunda vez em que pagou propina ao ex-prefeito de São Paulo. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, escreveu:

“Em 2013, por conta da criação do novo partido do Gilberto Kassab, foi pedido a Benedicto Barbosa da Silva Júnior, novamente pelo próprio Kassab, repasses financeiros mais uma vez a pretexto das campanhas de 2014 e para a criação do novo partido. Dessa vez, os valores repassados somam [R$] 17,9 milhões, entre novembro de 2013 e setembro de 2014. Aqui também os valores foram repassados de maneira ilícita, sem registros oficiais.”

Na época, o fundador do PSD deixava o cargo de prefeito de São Paulo. O momento político jogava a favor de Kassab, que aparecia como nova força política e acolheu integrantes de partidos de oposição, principalmente do DEM, que desejavam virar situação.

Não foi a primeira vez que Kassab pediu dinheiro ilícito à empreiteira, segundo Benedicto Barbosa. Ele contou que em 2008 foi recebido na casa do ministro com um café e que, durante a conversa, foi solicitado apoio financeiro à campanha.

Foram repassados R$ 3,4 milhões entre janeiro e junho daquele ano. O procurador-geral da República cita o depoimento de outro delator para explicar a contrapartida de Kassab e como ser nomeado pela presidente Dilma Rousseff (PT) permitiu ao político ajudar a Odebrecht.

“Paulo Henyan Yue Cesena é preciso em seu depoimento ao afirmar que, com a ida de Gilberto Kassab para o Ministério das Cidades, em 2015, no governo Dilma Rousseff, a Odebrecht foi beneficiada diretamente por intervenções políticas daquele Ministério.”

O PSD se manifestou por nota e afirmou que “desconhece tais informações, já estava consolidado como uma legenda nacional naquele momento e sempre pautou sua atuação no estrito cumprimento da legislação”.

A assessoria do ministro enviou um texto informando que ele “reafirma sua confiança na Justiça e ressalta que é necessário ter cautela com as informações prestadas por colaboradores, que não são provas e devem ser analisadas com isenção”. Em outro trecho, está escrito que as doações para suas campanhas foram realizadas em acordo com a legislação, e as decisões tomadas nos cargos que ocupou foram técnicas e pautadas pelo interesse público.

Abadá de R$ 2 milhões

O depoimento de outros delatores da Odebrecht, Carlos Armando Guedes Paschoal e Roberto Cumplido, serviu de base para abertura do segundo inquérito contra Kassab.

Eles afirmaram que a empresa acertou um pagamento de propina de 5% no valor de obras viárias em São Paulo no ano de 2008, quando Kassab foi reeleito prefeito.

Ainda segundo os delatores, foi pedido um adiantamento --chamado de "abadá"-- de R$ 2 milhões, dinheiro que seria usado na campanha de reeleição de Kassab daquele ano. Este pedido específico foi negado, segundo os delatores, "em razão de já existir doações diretas ao então candidato".

De acordo com delatores, o acerto teria sido feito pelo então diretor da Dersa (Companhia de Desenvolvimento Rodoviário), Paulo Vieira Souza, mais conhecido como "Paulo Preto".

Em nota enviada por sua assessoria de imprensa na terça-feira (11), o ministro Gilberto Kassab afirma "confiar na Justiça" e ressalta "que não teve acesso oficialmente às informações e que é necessário ter cautela com depoimentos de colaboradores, que não são provas."