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Candidatos sempre sabiam de caixa 2, diz mulher de João Santana a Moro

Bernardo Barbosa

Do UOL, em São Paulo

19/04/2017 13h27Atualizada em 19/04/2017 15h38

A empresária Mônica Moura, mulher e sócia do publicitário João Santana, disse nesta terça (18) em depoimento ao juiz Sérgio Moro no âmbito da Operação Lava Jato que todos os candidatos para os quais a dupla trabalhou tinham conhecimento do uso de caixa 2 para pagamento dos serviços prestados.

“Todos tinham. Posso dizer com segurança que todos eles sabiam dos valores exatos, de quanto estavam nos pagando e como que era o pagamento”, afirmou.

A Pólis, empresa de Santana e Mônica, fez as campanhas presidenciais de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006; e de Dilma Rousseff, em 2010 e 2014. O casal também trabalhou em várias outras eleições dentro e fora do Brasil.

O depoimento do casal faz parte da ação penal em que o ex-ministro Antonio Palocci é réu por corrupção e lavagem de dinheiro. Palocci está preso preventivamente, por decisão de Moro, desde setembro de 2016, quando foi detido na 35ª fase da Operação Lava Jato.

Segundo Santana e Mônica, Palocci foi o responsável por definir quanto seria pago em caixa 2 à empresa do casal nas campanhas de Lula em 2006 e Dilma em 2010, com parte das despesas sendo arcadas pelo grupo Odebrecht.

Em nota, Dilma disse que nunca autorizou, em suas campanhas, a arrecadação de recursos por meio de caixa dois. "Nas duas eleições, a orientação de Dilma Rousseff sempre foi clara e direta para que fosse respeitada a legislação eleitoral em todos os atos de campanha. Ela nunca teve conhecimento de que suas ordens tenham sido desrespeitadas", diz o texto de sua assessoria de imprensa.

A defesa de Lula disse que não vai se pronunciar. Já a defesa de Palocci não retornou o contato da reportagem.

Dúvidas sobre contrapartida

Mônica disse que sabia do risco de receber pagamentos ilegais, mas afirmou não ter conhecimento ao certo qual era a contrapartida para que a Odebrecht pagasse campanhas eleitorais de políticos.

“Eu também não posso negar que eu imaginava que algum acordo eles tinham para que uma empresa pagasse tanto dinheiro por fora de uma campanha”, disse. “Devia ter alguma negociata entre eles. Mas o que era, não [sabia].”

Em seu depoimento, João Santana manifestou percepção similar.

“Obviamente, eu sabia que era um recurso ilícito. E existia algum tipo de recurso ilícito. Que contrapartida era, de onde viria, eu não sabia. Acho até que era um comodismo. Era uma forma que meu cérebro construiu para me defender disso.”

Partidos exigiam caixa 2, diz empresária

Mônica ainda afirmou que o pagamento pelo trabalho em campanhas eleitorais usando o caixa 2 era uma exigência dos partidos políticos. Segundo ela, todas as campanhas em que ela e Santana trabalharam tiveram pagamentos envolvendo caixa 2.

“Todas as campanhas políticas que nós fizemos, da Pólis e antes da Pólis, quando eu era apenas uma funcionária de outras campanhas, de outros marqueteiros, sempre trabalhamos com caixa 2, com recursos não contabilizados. Em todas as campanhas”, disse.

A empresária contou que, “no início”, a maioria dos recursos eram pagos via caixa 2 “porque isso sempre era uma exigência dos partidos”. Segundo Mônica, ela e o marido travaram uma “luta árdua e frequente” para aumentar o percentual pago de forma regular.

“Não acredito que exista um marqueteiro que trabalhe no Brasil fazendo campanha só com caixa 1”, afirmou.

"Não era melhor não fazer?"

Em outro trecho do depoimento, a empresária volta a reforçar a ideia de "impossibilidade" de uma campanha eleitoral dentro da lei.

“Se a gente não aceitar fazer campanha no Brasil recebendo por fora, a gente não faz a campanha”, disse.

“Mas não era a melhor alternativa, não fazer?”, questionou o juiz Moro.

“É, talvez fosse. Hoje em dia eu penso isso. Mas não teríamos feito nenhuma delas se não tivéssemos aceitado esse jogo”, responde Mônica. “Nem nós, nem nenhum marqueteiro.”