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Todos do PT sabiam de "contribuições" ligadas a contratos da Petrobras, diz Duque

O ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque depõe a Moro - Divulgação/Justiça Federal do Paraná
O ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque depõe a Moro Imagem: Divulgação/Justiça Federal do Paraná

Do UOL, em São Paulo

05/05/2017 16h53Atualizada em 05/05/2017 20h06

O ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque disse nesta sexta (5), em depoimento ao juiz Sergio Moro no âmbito da operação Lava Jato, que todos do PT sabiam das contribuições partidárias vinculadas a grandes contratos da Petrobras com empresas. “Todos sabiam. Todos do partido, desde o presidente do partido, o tesoureiro, secretário, deputados, senadores, todos sabiam que isso ocorria”, afirmou Duque.

O ex-executivo da estatal confirmou que sua indicação à diretoria da Petrobras foi feita a pedido do PT, assim como a de Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento --condenado e um dos primeiros delatores na Lava Jato-- foi feita por indicação do PP.

Duque admitiu ter recebido propina e disse estar arrependido de ter cometido ilegalidades e de ter permitido que elas ocorressem.

Sistema “institucionalizado”

Segundo o ex-executivo da estatal, o sistema de contribuições vinculadas a contratos já era institucionalizado. De acordo com Duque, essa prática acontecia sempre nos grandes contratos, com valores superiores a R$ 100 milhões. A arrecadação de recursos para partidos “não era uma obrigação, mas uma consequência”, disse ele.

“Quando existia um contrato, seja ele qual fosse o contrato, em que corria uma licitação normal, o partido ou normalmente o tesoureiro do partido procurava a empresa e pedia contribuição. E a empresa normalmente dava porque era uma coisa institucionalizada nas companhias.”

Duque contou também ter tratado de arrecadação de valores sobre contratos com todos os tesoureiros do PT de quem foi contemporâneo: Delúbio Soares, Paulo Ferreira e João Vaccari Neto.

"Quero pagar pelo que fiz"

Ao final do depoimento, Duque chegou a se emocionar quando relacionou o fato de ser o preso com mais tempo de detenção (dois anos e dois meses) ao sofrimento de sua família.

"Quero agradecer a oportunidade [de dar o depoimento]. Saio muito mais leve por ter falado, sempre quis esclarecer. Queria deixar claro que cometi ilegalidades, quero pagar pelas ilegalidades, mas quero pagar por ilegalidades que eu cometi."

O ex-diretor da Petrobras fez então uma comparação entre o escândalo de corrupção investigado pela Lava Jato e o teatro. "Sou um ator, tenho um papel de destaque nessa peça, mas não fui e não sou nem o diretor e nem o protagonista desta história. Então quero pagar pelo que fiz."

Ele disse a Moro estar à disposição da Justiça para ceder provas. Ao comentar o período de cárcere, Duque disse que havia o receio de que ele tivesse contas no exterior e que, após esse longo intervalo, espera que essa dúvida tenha se dissipado.

Entenda o caso

Duque depôs como réu em processo no qual é acusado de ter recebido propina de R$ 252 milhões decorrente de seis sondas negociadas pela Sete Brasil com o estaleiro Enseada do Paraguaçu, da Odebrecht. As sondas faziam parte de um contrato ainda maior da Sete Brasil com a Petrobras, para o afretamento de 21 sondas para a exploração do pré-sal. Duque teria determinado inclusive quais seriam os estaleiros subcontratados pela Sete Brasil.

Renato Duque está preso desde março de 2015 na carceragem da Polícia Federal em Curitiba. Ele estaria há quase um ano tentando negociar um acordo de delação premiada com os investigadores da Lava Jato. 

Desde setembro de 2015, Duque também já foi condenado em quatro processos da Lava Jato em primeira instância, com penas máximas que chegam a 20 anos de prisão.

Na Petrobras, Duque foi diretor de Serviços entre 2003 e 2012. Ele disse ter começado a trabalhar na estatal em 1978.

Outro lado

Em texto publicado no site do ex-presidente, o depoimento de Duque foi classificado como "mais uma tentativa de fabricar acusações" contra Lula "nas negociações entre os procuradores da Lava Jato e réus condenados, em troca de redução de pena".

"Como não conseguiram produzir nenhuma prova das denúncias levianas contra o ex-presidente, depois de dois anos de investigações, quebra de sigilos e violação de telefonemas, restou aos acusadores de Lula apelar para a fabricação de depoimentos mentirosos. O desespero dos procuradores aumentou com a aproximação da audiência em que Lula vai, finalmente, apresentar ao juízo a verdade dos fatos", diz a nota, que cita ainda o adiamento em uma semana do depoimento do ex-presidente, que teria ocorrido "sob o falso pretexto de garantir a segurança pública".

A mudança de data, para a defesa de Lula, "serviu unicamente para encaixar nos autos depoimentos fabricados de ex-diretores da OAS (Leo Pinheiro e Agenor Medeiros) e, agora, o de Renato Duque", que segundo a nota nunca haviam mencionado o ex-presidente ao longo do processo.

O PT afirmou que não se manifestará no momento.

A reportagem do UOL ligou por volta das 20h desta sexta para a defesa de João Vaccari Neto, mas não conseguiu contato. 

Procurada em dois números de telefone, a defesa de Delúbio Soares não foi encontrada até o horário da última atualização desta reportagem.