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Parei de controlar propina em US$ 10 milhões, diz Duque a Moro

O ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque depõe ao juiz Moro - Divulgação/Justiça Federal do Paraná
O ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque depõe ao juiz Moro Imagem: Divulgação/Justiça Federal do Paraná

Do UOL, em São Paulo

06/05/2017 04h11Atualizada em 06/05/2017 07h55

O ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque disse nesta sexta-feira (5), em depoimento ao juiz Sergio Moro, no âmbito da Operação Lava Jato, que parou de controlar a propina recebida no esquema de corrupção existente na estatal quando ela passou de US$ 10 milhões. "Quando atingiu determinado valor, era mais do que suficiente. Por que você vai querer juntar e juntar dinheiro… Eu não usei esse dinheiro”, afirmou.

"E que determinado valor era esse?”, perguntou Moro. “Quando atingiu US$ 10 milhões, eu falei: Pô, isso é muito mais do que eu preciso para viver e minha terceira geração. Então, a partir daí eu nem… Eu nem controlava”, respondeu o ex-executivo da Petrobras.

Duque disse que recebia sua parte em contas no exterior, e que nunca ganhou propina em dinheiro vivo. Ele afirmou ainda nunca ter pedido a vantagem indevida, mas reconheceu que aceitou participar do esquema.

O ex-executivo da estatal confirmou que sua indicação à diretoria da Petrobras foi feita a pedido do PT, assim como a de Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento --condenado por Moro e um dos primeiros delatores na Lava Jato-- foi feita por indicação do PP. Ele ainda implicou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no esquema.

Segundo Duque, Lula não só sabia como comandava o esquema ilegal. O PT ainda não se pronunciou sobre as acusações. Em texto publicado no site de Lula, o depoimento de Duque foi classificado como "mais uma tentativa de fabricar acusações" contra o ex-presidente "nas negociações entre os procuradores da Lava Jato e réus condenados, em troca de redução de pena”.

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“Referência” de 1%

Segundo Duque, quem fazia o controle da propina era o ex-gerente de Serviços da Petrobras Pedro Barusco. Duque o acusa de negociar os valores com as empresas que detinham contratos com a estatal e de cuidar de como o dinheiro seria pago.

Barusco também foi um dos primeiros delatores da Lava Jato, ainda em 2014, e já foi condenado em três processos na operação por corrupção e lavagem de dinheiro. No entanto, não chegou a ser preso, cumprindo regime aberto com restrições de movimento. Ele já devolveu ao menos R$ 260 milhões desviados de contratos da Petrobras.

Segundo Duque, existia uma “referência” de 1% do valor dos contratos com a Petrobras como o valor que seria repassado pelas empresas ao PT e aos executivos da estatal. Metade iria para o partido e metade para Barusco e Duque.

“Como é que acontecia na prática? De tempos em tempos, o Barusco me informava: eu vou te remeter um valor x. Ele nunca especificou, ‘vou remeter um valor x de determinada obra da determinada empresa”, disse. “Eu não tenho como identificar quem fez o depósito.”

Duque disse estar arrependido de ter cometido ilegalidades e de ter permitido que elas ocorressem. “O dinheiro que eu tenho, eu gostaria de assinar qualquer documento (...) para repatriar o mais rápido possível. Não tenho interesse nenhum em relação a isso.”

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Entenda o caso

Duque depôs como réu em processo no qual é acusado de ter recebido propina de R$ 252 milhões decorrente de seis sondas negociadas pela Sete Brasil com o estaleiro Enseada do Paraguaçu, da Odebrecht. As sondas faziam parte de um contrato ainda maior da Sete Brasil com a Petrobras, para o afretamento de 21 sondas para a exploração do pré-sal.

O ex-diretor está preso desde março de 2015 na carceragem da Polícia Federal em Curitiba. Ele estaria há quase um ano tentando negociar um acordo de delação premiada com os investigadores da Lava Jato.

Desde setembro de 2015, Duque também já foi condenado em quatro processos da Lava Jato em primeira instância, com penas máximas que chegam a 20 anos de prisão.