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Não quero ser julgado por interpretações, e sim por provas, diz Lula após depoimento

Janaina Garcia e Rafael Moro Martins

Do UOL, em Curitiba

10/05/2017 20h35Atualizada em 11/05/2017 13h52

Depois de depor por quase cinco horas ao juiz Sergio Moro, da 13ª Vara Federal em Curitiba, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursou por cerca de 13 minutos na praça Santos Andrade, em frente à UFPR (Universidade Federal do Paraná), na capital paranaense. Cerca de 50 mil pessoas, segundo a Frente Brasil Popular, uma das organizadoras do ato, receberam o petista por volta das 19h30 desta quarta (10). Segundo a Polícia Militar, 6.500 pessoas acompanharam o discurso.

Lula esteve acompanhado da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), que discursou antes do antecessor. Rouco, o ex-presidente condenou a condução dos processos da Operação Lava Jato.

"Eu não quero ser julgado por interpretações, eu quero ser julgado por provas", disse Lula, que discursou a poucas quadras da sede do Ministério Público Federal (MPF) em Curitiba, onde trabalha a força-tarefa da operação Lava Jato. "Eu não seria digno do carinho de vocês se tivesse alguma culpa e estivesse falando com vocês agora. Virei em quantas audiências forem necessárias. Darei quantos depoimentos forem necessários. Não há ninguém mais interessado na verdade do que eu", bradou.

O petista atacou Moro e a Lava-Jato dizendo que não haveria provas que o incriminassem. “Hoje, pensei que meus acusadores fossem mostrar uma escritura, um documento, algo que provasse [que o apartamento triplex no Guarujá é de fato deles]. Esperava que depois de dois anos de massacre tivesse algo. Mas só ficaram perguntando se eu conheço João Vaccari, se conheço Leo Pinheiro. É lógico que eu conheço, e não tenho vergonha de quem eu conheço", desafiou, sob risos da plateia.

Lula_Curitiba - Theo Marques/UOL - Theo Marques/UOL
Lula discursa ao lado de Dilma em Curitiba, logo após o depoimento à Lava-Jato
Imagem: Theo Marques/UOL

"Haverá um momento que a história irá mostrar que nunca antes na história do Brasil alguém foi tão massacrado quanto eu estou sendo nos últimos anos. Quero estar vivo para ver esse momento", afirmou Lula. "Se um dia eu tiver que mentir pra vocês, eu prefiro que um ônibus me atropele em qualquer rua deste país. Eu estou vivo e estou me preparando para voltar a ser presidente desse país. Nunca tive tanta vontade [de disputar a eleição]", falou.

Como de hábito, o petista criticou a cobertura da imprensa contra si. "[Na audiência com Sergio Moro eu] Disse que só o Jornal Nacional nesses últimos 12 meses publicou 18 horas de notícias negativas contra o Lula, na tentativa de que eu seja massacrado antes que seja julgado", argumentou.

Se um dia eu tiver que mentir pra vocês, prefiro que um ônibus me atropele em qualquer rua

Luiz Inácio Lula da Silva, em discurso em Curitiba

Lula abriu e encerrou o discurso agradecendo aos presentes, cuja maioria chegou a Curitiba em caravanas organizadas por centrais sindicais e movimentos sociais. “Já participei de muitas manifestações. Com todo tipo e quantidade de gente. Mas nenhuma é tão gratificante como saber se eu vocês confiam em alguém que está sendo massacrado. Quero continuar merecendo a confiança dos filhos de vocês", falou.

Alguns minutos após deixar o palco, Lula retornou, trazendo pela mão a estudante secundarista Ana Júlia Ribeiro, 16, que se tornou símbolo das ocupações escolares após discursar em defesa dos secundaristas na Assembleia Legislativa do Paraná, em outubro do ano passado, com um pito nos deputados. Lula a apresentou e pediu que ela falasse sobre a "importância da educação", para delírio da plateia. 

Dilma: "Perder eleição só é vergonha para golpistas"

A ex-presidente Dilma Rousseff - Alex Silva/Estadão Conteúdo - Alex Silva/Estadão Conteúdo
A ex-presidente Dilma Rousseff
Imagem: Alex Silva/Estadão Conteúdo

Lula entrou no palco de mãos dadas com a ex-presidente Dilma Rousseff, recepcionada aos gritos de “Volta, Dilma”. Antes, o palco teve de ser esvaziado para uma inspeção de segurança por parte dos Bombeiros --o espaço estava cheio de políticos e sindicalistas.

A ex-presidente, deposta do cargo pelo impeachment de 31 de agosto do ano passado, no Senado, afirmou mais uma vez ter sido vítima de um golpe parlamentar e analisou que o petista, agora, é quem estaria em vias de sofrer algo semelhante. Ela defendeu uma nova candidatura lulista.

"Nem na ditadura ousaram tirar direitos dos trabalhadores. Agora estão produzindo um retrocesso na Previdência. Não vamos deixar", falou, para completar: "Querem inviabilizar as condições para que Lula seja votado pelo povo brasileiro para ganhar ou perder. Perder eleição só é vergonha para golpistas”, declarou a ex-presidente, que, em uma menção indireta ao PSDB, lembrou que “por quatro vezes eles perderam eleições, e, para fazer esses estragos, deram um golpe", mencionou, referindo-se às reformas defendidas pelo governo Michel Temer e seus aliados.

Xingamentos a Temer e a Miami

Antes de Lula e Dilma discursarem, sindicalistas e líderes de movimentos sociais fizeram um discurso mais virulento contra as “elites” que, na avaliação deles, trabalharam para depor Dilma e, agora, atuam na “perseguição” a Lula.

"Ao virmos aqui a Curitiba aos milhares de militantes estamos dizendo à burguesia, e não só ao Moro, que Lula é nosso candidato e não permitiremos que inviabilizem os planos dele", disse o coordenador nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra), João Pedro Stédile. Ele sugeriu que a militância fizesse uma vaquinha para mandar o presidente Michel Temer a Miami.

“Nós vamos mandá-lo a Miami, vamos fazer uma vaquinha, porque Miami é o lugar de todos os filhos da p* do mundo. É o lugar de todos os canalhas do mundo", xingou.