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Lula é dono do tríplex? Confira 5 argumentos do ex-presidente sobre o caso

Daniela Garcia

Do UOL, em São Paulo

11/05/2017 04h00Atualizada em 11/05/2017 15h23

No depoimento à Justiça Federal do Paraná, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva apresentou nesta quarta-feira (10) uma série de argumentos de que não era o dono do tríplex no edifício Solaris, no Guarujá, município do litoral de São Paulo. Lula é acusado de ter recebido, em 2009, propina da empreiteira OAS por meio do apartamento.

Segundo a defesa do ex-presidente, a ex-primeira-dama Marisa Letícia adquiriu, em 2005, uma cota da Bancoop para o apartamento 141, unidade padrão com 82,5 m². Em 2009, a cooperativa passou por problemas financeiros e a OAS incorporou o empreendimento, cujo nome mudou de edifício Mar Cantábrico para Solaris. Naquele ano, a mulher de Lula teria desistido do imóvel que foi vendido pela empreiteira. 

Nesta quarta-feira, Lula diz que foi convidado por Léo Pinheiro, presidente da OAS, visitar outra unidade disponível no edifício em 2014. "O Léo esteve lá no escritório [Instituto Lula] dizendo que o apartamento tinha sido vendido e que ele tinha mais um apartamento, dos normais, e o tríplex e eu fui lá ver o apartamento". O imóvel, de número 164-A, tinha 215 metros de área privativa. 

A versão de Lula contraria o depoimento de Léo Pinheiro a Moro. O empresário afirmou que o tríplex pertencia a Lula --apesar de, no papel, ser de propriedade da empreiteira.

Defeitos em série

Moro pergunta quais foram as circunstâncias em que Lula esteve no tríplex, em 2014. Ele confirma que visitou o apartamento acompanhado da mulher e de Léo Pinheiro. "O Léo esteve lá no escritório dizendo que o apartamento tinha sido vendido e que ele tinha mais um apartamento, dos normais, e o tríplex e eu fui lá ver o apartamento. Coloquei 500 defeitos no apartamento, voltei e nunca mais conversei com o Léo sobre o apartamento.

O juiz federal também questiona o que discutiu com Pinheiro naquela ocasião. "O conteúdo da conversa é que o Léo tava querendo vender o apartamento [para mim]. E o senhor sabe que como qualquer vendedor, ele queria vender o apartamento de qualquer jeito."

Lula também nega pedido para fazer uma série de reparos no tríplex. "Eu não orientei [para fazer reformas]. O que eu sei que o dia que eu fui é que houve muitos defeitos mostrados no prédio. Defeitos na escada, defeitos de cozinha", detalhou. 

Praia famosa

Ao ser questionado porque desistiu de comprar o apartamento, Lula alegou que seria impraticável viver em um local com tanta visibilidade. "Eu me dei conta que eu não poderia ter uma apartamento na Praia da Astúrias. Eu percebi que aquele apartamento era praticamente inutilizável por mim pelo fato de eu ser uma figura pública e eu só poderia ir naquela praia ou na segunda-feira ou na Quarta-feira de Cinzas."

Apartamento pequeno

O ex-presidente também argumentou que o imóvel não poderia comportar toda os membros de sua família. "O apartamento era muito pequeno para uma família de cinco filhos, oito netos e agora uma bisneta".         

"Dona Marisa nunca gostou de praia"

“Dona Marisa não gostava de praia”, diz Lula, complementando que “certamente ela queria para fazer investimento.” Ao ser perguntado por Moro se o casal avisou que não ficaria com o apartamento, o ex-presidente disse que não avisou.  “Eu não ia ficar com o apartamento, mas Dona Marisa ainda tinha dúvidas se valia o investimento.”

 

Construção de elevador

Moro pergunta também a Lula sobre a construção de um elevador privativo no tríplex feita a pedido da família de Lula, segundo Léo Pinheiro.
 
O ex-presidente afirma que o episódio "é uma das anomalias da denúncia do Ministério Público".
 
Ele alega que mora, há 18 anos, em um apartamento com uma escada caracol de 16 degraus. "A dona Marisa, há exatamente seis anos, tomava remédio todo santo dia para dor na cartilagem. Será que alguém de bom senso nesse país imagina que eu ia pedir um elevador no apartamento que não era meu, e deixar de pedir para fazer no prédio que a dona Marisa morava há 20 anos?".

 

Como foi o depoimento

Iniciada por volta das 14h18 desta quarta-feira (10), a audiência durou cinco horas e foi o segundo maior depoimento da Lava Jato em Curitiba.

O depoimento do ex-presidente acontece dentro do processo em que Lula é acusado de ter recebido, em 2009, propina da empreiteira OAS por meio da reserva e reforma de um tríplex no edifício Solaris, no Guarujá, município do litoral de São Paulo.

Lula também responde pelo armazenamento de bens depois que ele deixou a Presidência, entre 2011 e 2016. Lula governou o Brasil por dois mandatos seguidos, entre 2003 e 2010. O valor total da vantagem indevida seria de R$ 3,7 milhões, como contrapartida por três contratos entre a empreiteira OAS e a Petrobras, segundo o MPF (Ministério Público Federal).

 

Os crimes

Segundo a  denúncia dos procuradores da força-tarefa da Lava Jato, o ex-presidente da República teria cometido os crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, de acordo com a.

Foi nessa ocasião, inclusive, que os membros do MPF usaram aquela que ficou conhecida como a polêmica apresentação em Power-Point para apresentar as acusações contra o petista. 

Em 20 de setembro do ano passado, Moro acolheu a denúncia do MPF e Lula tornou-se réu no processo.

Ao SBT Brasil, Lula disse que o MPF mente sobre o tríplex

SBT Online

Segundo depoimento

O encontro de hoje entre Lula e Moro foi o primeiro feito de maneira presencial. Os dois já estiveram em uma audiência em 30 de novembro de 2016, por meio de uma videoconferência, estando o juiz em Curitiba e o ex-presidente, no prédio da Justiça Federal em São Bernardo do Campo (SP).

Na ocasião, o ex-presidente depôs como testemunha de defesa do deputado federal cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que era acusado de receber propina no contrato de exploração de petróleo em Benin, na África, e de usar contas na Suíça para lavar o dinheiro.

Cunha foi condenado por Moro a mais de 15 anos de prisão na ação em março deste ano.

Ao contrário do depoimento de hoje, a audiência entre os dois na ocasião foi mais curta, tendo durado menos de dez minutos, em clima de cordialidade.

Tríplex em prédio residencial no Guarujá é um dos itens investigados no processo - Moacyr Lopes Junior/Folhapress	 - Moacyr Lopes Junior/Folhapress
Tríplex em prédio residencial no Guarujá é um dos itens investigados no processo
Imagem: Moacyr Lopes Junior/Folhapress

Outros quatro processos

Além do processo no qual prestou depoimento hoje, Lula é réu em outros quatro, sendo dois também no âmbito da Lava Jato. Em um destes dois, o ex-presidente é acusado por tentar obstruir a Justiça por uma suposta tentativa de comprar o silêncio de Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras e um dos delatores do esquema de corrupção na estatal.

Lula também responde por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no processo que apura desvios para compra de um terreno em São Paulo para o Instituto Lula e de um apartamento em frente ao em que o ex-presidente mora, em São Bernardo do Campo (SP). 

A denúncia do MPF que motivou esse processo também envolve R$ 75,4 milhões que foram repassados a partidos e políticos que davam sustentação ao governo de Lula, como PT, PP e PMDB, além de funcionários da Petrobras.

O petista ainda é réu em um desdobramento da Lava Jato, a Operação Janus, comandada pela Justiça Federal no DF (Distrito Federal). Ele é acusado pelos crimes de corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro, tráfico de influência e organização criminosa.

De acordo com a procuradoria, Lula teria usado sua influência junto ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e a outros órgãos com sede na capital federal para favorecer a Odebrecht em contratos e obras de engenharia em Angola. Em troca, a Odebrecht teria feito "repasses dissimulados" de cerca de R$ 30 milhões.

Também na Justiça do DF, Lula responde a um processo no qual é acusado pelos crimes de tráfico de influência, lavagem de dinheiro e organização criminosa, dentro da Operação Zelotes. O petista teria atuado para interferir na compra de 36 caças do modelo Gripen pelo governo brasileiro e na prorrogação de incentivos fiscais destinados a montadoras de veículos por meio da Medida Provisória 627. Os casos teriam ocorrido entre 2013 e 2015, quando Lula já não era presidente.