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Após reportagem comprometer Temer, oposição pede convocação de eleições diretas

O presidente Michel Temer (PMDB) ao tomar posse, em 2016 - Ueslei Marcelino - 31.ago.2016 -/Reuters
O presidente Michel Temer (PMDB) ao tomar posse, em 2016 Imagem: Ueslei Marcelino - 31.ago.2016 -/Reuters

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

17/05/2017 20h43Atualizada em 18/05/2017 21h46

Após reportagem publicada pelo jornal "O Globo" em que o presidente da República, Michel Temer (PMDB), supostamente sabe da compra do silêncio do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a oposição pediu a convocação imediata de eleições diretas.

O líder da oposição, deputado José Guimarães (PT-CE), afirmou que a solução para a crise "não pode ser outra", além da convocação de eleições.

"A Casa não pode funcionar em uma crise desta dimensão, e que busquemos uma solução política para a crise. A solução não pode ser outra: é a convocação imediata de novas eleições. Esse é o melhor caminho para reconstruir o Estado de Direito, recompor a democracia e reunificar o país", declarou.

Ele ainda falou que a oposição não vai participar de eventuais eleições indiretas. "Nós não participaremos de qualquer tentativa de eleição indireta política no Congresso. Por isso estamos tomando todas as iniciativas com o Senado para uma solução que restaure a normalidade democrática no Brasil", acrescentou.

Segundo Guimarães, a oposição também vai paralisar os "serviços da Casa", como o andamento das reformas da Previdência e trabalhista propostas pelo Planalto.

Alessandro Molon (Rede-RJ), autor do pedido de impeachment de Temer após a revelação do caso, apoiou a convocação de eleições diretas para Presidência. De acordo com o deputado, não há "fundamento que justifique que o Congresso, no meio de tantas suspeitas e investigações, possa fazer uma eleição indireta".

Questionado sobre o andamento dos projetos de interesse do governo, Molon afirmou que não ter dúvidas de que o Congresso "para". Para ele, os dois principais partidos que sustentam a base aliada - o PMDB e o PSDB - foram atingidos "no coração".

"A espinha dorsal do governo foi quebrada hoje. O governo acabou, o governo Michel Temer acabou. O governo está encerrado", disse.

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Entenda a denúncia

Segundo o jornal "O Globo", o dono da JBS, Joesley Batista, afirmou à PGR (Procuradoria-Geral da República) que o presidente Temer deu aval à compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha e do operador Lúcio Funaro, ambos presos na Operação Lava Jato.

De acordo com a publicação, as informações fazem parte de uma delação de Joesley que ainda não foi homologada pelo STF (Supremo Tribunal Federal). O depoimento do empresário foi dado à PGR em abril e, no dia 10 passado, o conteúdo foi comunicado ao ministro do Supremo Edson Fachin, relator da Lava Jato na Corte.

Joesley Batista, um dos donos da JBS, encontrou Temer no dia 7 de março no Palácio do Planalto. O empresário registrou a conversa com um gravador escondido. Em um trecho, Joesley inicia um diálogo sobre o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Após perguntar qual era a atual relação entre Temer e o ex-deputado, o empresário diz que zerou "tudo o que tinha de pendência" com Cunha. Mais para frente, no diálogo, Joesley afirmou: "eu tô bem com o Eduardo". Ao que Temer respondeu: "e tem que manter isso, viu". O diálogo, porém, tem trechos inaudíveis, tornando inconclusiva uma possível referência a um aval de Temer aos pagamentos mensais.

A publicação também informou que a PF registrou ao menos uma entrega de R$ 400 mil para Roberta, irmã de Lúcio Funaro. Já o dinheiro para Cunha seria entregue a Altair Alves Pinto. Altair já fora apontado pelo operador Fernando Falcão Soares, o Fernando Baiano, como o responsável por receber as propinas destinadas ao ex-deputado.

Cunha teria agido a favor da J&F em projetos de lei e no fundo FI-FGTS, que investiu mais de R$ 1 bilhão em empresas do grupo.

O empresário disse ter pagado ao menos R$ 5 milhões a Cunha depois de sua prisão, e ainda devia mais R$ 20 milhões relativos à tramitação de uma lei que previa a desoneração de impostos no setor de frango.

Deputado teria resolvido "assunto" da J&F

Ainda de acordo com o relato de Joesley publicado por "O Globo", Temer indicou o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) para resolver "um assunto" da J&F, a holding que controla a JBS. Depois, Rocha Loures foi filmado recebendo uma mala com R$ 500 mil mandados pelo empresário.

A "pendência" da J&F com o governo, segundo Joesley, era uma disputa relativa ao preço do gás fornecido pela Petrobras à termelétrica EPE, que pertence ao grupo. Loures teria ligado para o presidente do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), Gilvandro Araújo, para interceder pela J&F. Pelo serviço, Joesley teria oferecido a Loures uma propina de 5%, que teria sido aceita pelo deputado.

Depois, Joesley e Ricardo Saud, diretor da JBS, teriam acordado com Loures o pagamento de uma propina de R$ 500 mil semanais por 20 anos --o que totalizaria quase meio bilhão de reais. O deputado teria dito que levaria a proposta a alguém acima dele.

Ao menos uma entrega de R$ 500 mil a Loures, feita por Saud, teria sido flagrada pela PF em São Paulo.

Joesley, Saud e mais cinco pessoas da JBS devem pagar uma multa de R$ 225 milhões, segundo "O Globo".

O UOL está tentando contato com as assessorias de imprensa do presidente Michel Temer, da JBS e do deputado Rodrigo Rocha Loures. Nenhum deles respondeu.

O advogado do economista Lúcio Funaro, Bruno Espiñera, disse não ter conhecimento sobre pagamentos em dinheiro feito a Funaro e parentes dele. Ele disse que irá se encontrar com seu cliente, que está preso em Brasília, nesta quinta-feira (18).

“Estou tão surpreso com essa informação quanto qualquer outra pessoa. Não tinha conhecimento dessas informações, mas até falar com meu cliente e saber o que ele tem a dizer sobre isso, vou continuar tratando essas informações como mais uma delação que ainda precisa ser confirmada”, afirmou.

Procurada, a PGR (Procuradoria-Geral da República) disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que não se manifestará sobre eventuais acordos de colaboração que ainda não foram homologados.

Aécio também foi gravado

Joesley Batista afirmou à PGR, ainda de acordo com "O Globo", que também gravou o senador Aécio Neves, presidente do PSDB, lhe pedindo R$ 2 milhõesO dono da JBS entregou à PGR um áudio em que o tucano pede a quantia sob a justificativa de pagar despesas com sua defesa na Lava-Jato.

O momento da entrega do dinheiro a um primo de Aécio foi filmado pela Polícia Federal. A PF descobriu que a quantia foi depositada numa empresa do senador Zezé Perrella (PSDB-MG).

UOL está tentando contato com as assessorias de imprensa de Aécio Neves e Zezé Perrella. Nenhum deles respondeu.

Empresário implica Mantega e Palocci

Ainda de acordo com "O Globo", Joesley disse que o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega era seu contato no PT para a distribuição de propina a petistas e aliados. Mantega também atenderia a interesses da JBS e da J&F no BNDES.

Já o ex-ministro chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, foi contratado pela JBS como consultor e atuava como uma espécie de orientador do empresário no meio político. Segundo Joesley, Palocci não se envolveu nos pedidos de suas empresas no BNDES, mas pediu doação de campanha ao PT via caixa dois. De acordo com "O Globo", o pedido foi atendido.

JBS faturou R$ 170 bi em 2016

Em seu site, a JBS se apresenta como "uma das líderes globais da indústria de alimentos", com mais de 230 mil funcionários ao redor do mundo. A empresa abriu seu capital na Bolsa de Valores de São Paulo em 2007. No ano de 2016, segundo informes financeiros da empresa, a JBS a companhia registrou receita líquida de R$ 170,3 bilhões. O lucro líquido foi de R$ 376 milhões.

A JBS é uma das empresas da holding J&F, que inclui companhias de setores variados. São elas: Vigor (derivados de leite), Alpargatas (calçados e vestuário), Eldorado Brasil (celulose), Flora (higiene e limpeza), Banco Original, Âmbar (energia), Canal Rural, Oklahoma (criação de gado nos EUA, Austrália e Canadá) e Floresta Agropecuária (criação de gado no Brasil).