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"Diretas Já" vira novo fla-flu entre movimentos após delação contra Temer

Protesto no Rio de Janeiro, esta semana, contra Michel Temer - Marco Antonio Teixeira/UOL
Protesto no Rio de Janeiro, esta semana, contra Michel Temer Imagem: Marco Antonio Teixeira/UOL

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

20/05/2017 04h00

Se antes era o “Fora, Dilma” ou o “Fora, Temer’, agora a polarização entre movimentos ligados à esquerda ou à direita centrou foco na forma como será uma eventual eleição para substituição de Michel Temer (PMDB) na Presidência da República. Não há consenso entre especialistas sobre eleições diretas, em caso de impeachment ou de renúncia, e o assunto divide grupos que articulam mobilizações nas ruas ou nas redes sociais.

Temer foi acusado pela PGR (Procuradoria-Geral da República) de tentativa de obstrução à Justiça graças ao conteúdo de delações do grupo JBS. Segundo a PGR, o peemedebista teria agido em coordenação com o senador Aécio Neves, suspenso pelo STF (Supremo Tribunal Federal) na quinta-feira (18), para impedir a continuação da operação Lava Jato. Temer nega irregularidades e diz que não vai renunciar.

Neste domingo (21), ao menos 34 cidades brasileiras e outras quatro no exterior farão protestos coordenados pelas frentes Brasil Popular e Povo sem Medo, que arregimentam cerca de 90 entidades sociais e sindicais, pela realização de eleições diretas em caso de renúncia ou impedimento do presidente.

Para os movimentos, não há outra possibilidade de condução política até 2018 que não pela escolha direta do governante após a deposição de Temer. Já os grupos que defenderam o impeachment de Dilma e mais alinhados ao antipetismo apostam em eleições indiretas como desfecho do impasse.

“Agora existem provas de que Temer, baseado em atos de corrupção, comprou silêncios com uma série de negociatas. Ele perdeu as condições políticas de continuar, precisa cair --mas nos preocupa que essa saída se desdobre em um processo tão ilegítimo quanto o da posse dele”, afirmou o coordenador nacional do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), Guilherme Boulos.

Na avaliação de Boulos, eleições indiretas conduzidas por um Congresso implicado, em grande parte, na Lava Jato, comprometeria a volta da estabilidade política.

“Esse Congresso não tem autoridade moral para eleger um presidente indiretamente; também não aceitaremos uma construção alternativa e mandrake pelo Judiciário. Esse tipo de atalho só vai aprofundar a crise. A única possibilidade de saída é a convocação de eleições diretas e gerais”, defendeu. “É um pensamento antidemocrático escancarado, a essa altura, defender eleições indiretas”, reforçou.

Indagado sobre movimentos em prol da escolha indireta de um eventual substituto de Temer, Boulos ironizou: “São grupos coerentes com o governo que ajudaram a empossar --e não há nenhuma incoerência em que sejam chapa-branca agora. Acho que essa [eleições diretas] é uma causa que pode unificar a população brasileira, e não a população que defende o Temer, que tem uma rejeição tremenda.”

Líder do Vem pra Rua defende eleições indiretas

Coordenador do Vem pra Rua, Rogério Chequer classificou os áudios da delação dos executivos da JBS como “muito graves”, afirmou haver “uma diferença muito grande entre o aventado e o divulgado: os áudios reais mostram, no mínimo, conformismo e inanição de Temer em relação a atos de corrupção que são inaceitáveis” e defendeu que o peemedebista renuncie.

“A atitude de acomodar uma situação de corrupção explícita do Judiciário é absolutamente inaceitável para um presidente ou para qualquer cidadão brasileiro”, criticou.

Por outro lado, Chequer afirma que a saída pela eleição indireta “é o que prega a Constituição Federal”. “A transição é a mesma que defendemos da última vez [na deposição de Dilma]: constitucional, o que, pela Constituição, é pela eleição indireta”, defendeu.

O líder do Vem pra Rua nega que tenha havido recuo do movimento em relação a Temer com o adiamento do ato de domingo. De acordo com ele, a medida foi tomada depois que, em reunião com a Polícia Militar, nesta semana, ficou claro que “não teríamos o mesmo nível de segurança que tivemos [em atos passados], já que boa parte do efetivo estará destacado para a Virada Cultural”. A PM nega esse problema.

Se vai haver algum tipo de ação concreta sobre a classe política, por parte do movimento?

“A cobrança é constante --o Vem pra Rua não vive de manifestações de rua, apesar do nome [do movimento]. As cobranças são constantes, e precisamos continuar nesse processo de investigação, punição e renovação política”, definiu.

O movimento deve se reunir no final de semana para definir se e quando haverá protestos de rua como os que alavancaram a popularidade do Vem pra Rua. “Agora vai começar a ter uma corrida de delações, e esse ritmo só vai acelerar”, aposta.