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Molina contesta frase de Joesley sobre pagamentos: "todo mês" seria "tô no meio"

O perito Ricardo Molina durante entrevista coletiva para explicar o laudo técnico pericial - Pedro Ladeira/Folhapress
O perito Ricardo Molina durante entrevista coletiva para explicar o laudo técnico pericial Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Felipe Amorim

Do UOL, em Brasília

22/05/2017 19h08Atualizada em 23/05/2017 19h28

O perito Ricardo Molina, contratado pela defesa do presidente Michel Temer (PMDB), afirmou nesta segunda-feira (22), em entrevista coletiva em Brasília, que a gravação da conversa entre Temer e o empresário Joesley Batista não tem condições técnicas de ser utilizada num processo e contestou a interpretação de um dos principais pontos do diálogo.

Molina contestou a transcrição do trecho no qual Joesley teria usado a frase “todo mês”, quando supostamente se referia a pagamentos para comprar o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

“Não é todo mês. É ‘tô no meio’”, disse o perito.

Segundo Molina, essa conclusão foi possível por meio da comparação com outros trechos da gravação nos quais Joesley usou termos foneticamente semelhantes.

O trecho a que o perito se refere é este:

[Joesley]: Isso, que o Geddel é que andava sempre ali, mas o Geddel também com esse negócio eu perdi o contato, porque ele virou investigado e eu também não posso encontrar ele. 

[Presidente Temer]: É complicado. [...]

[Joesley]: Isso. O negócio dos vazamentos. O telefone lá do Eduardo com o com Geddel, volta e meia citava alguma coisa meio tangenciando a nós e não sei o quê, e eu tô lá me defendendo. Como é que eu... o que eu mais ou menos dei conta de fazer até agora? Eu tô de bem com o Eduardo.

[Presidente Temer]: Tem que manter isso, viu? [...]

[Joesley]: Todo mês, também, e tô segurando as pontas, tô indo. Nesses processos eu tô meio enrolado aqui, né, no processo assim...

[Presidente Temer]: Você está sendo investigado.

Os advogados de Temer contrataram o perito para analisar o áudio gravado por Joesley de um encontro com Temer no Palácio do Jaburu no dia 7 de março.

A gravação foi um dos principais elementos utilizados pela PGR (Procuradoria Geral da República) para pedir a abertura de um inquérito contra o presidente. A investigação foi autorizada por decisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Edson Fachin, que também homologou um acordo de delação premiada de Joesley.

Molina também afirmou que a maior parte da gravação é de trechos sobre os quais não é possível determinar o significado do que foi dito.

“Mais da metade, com toda certeza, é ininteligível”, disse.

O perito afirmou ainda que a gravação contém uma série de falhas, como trechos descontínuos e ruídos que impedem entender o que é dito.

“Em um processo normal essa gravação sequer seria aceita como prova, em função do excesso de vícios que ela tem”, disse Molina.

O perito afirmou ainda que no trecho de 17 segundos no qual o presidente responde Joesley com a frase “Tem que manter isso, viu” contém seis pontos com sinais de que pode ter havido edição do áudio.

Molina afirmou que ao analisar o perfil das ondas sonoras do áudio verificou uma série de anomalias que podem indicar que a gravação foi manipulada.

“A pergunta que o perito deve se fazer é: você pode garantir que essa gravação é autêntica? Um perito honesto diria: não. E diria não em qualquer situação jurídica normal”, respondeu.

Molina afirmou que a partir de perícia desse tipo não é possível ser conclusivo sobre se houve ou não edição no áudio, mas, perguntado por jornalistas, o perito afirmou acreditar ser mais provável que a gravação tenha sofrido algum tipo de edição.

O perito afirmou que o mais provavelmente é que tenha ocorrido a extração de trechos da conversa.

“Eu diria que sim, que houve edição. Que é mais provável que tenha havido”, disse.

“O mais provável é a extração de trechos. A inclusão de trechos é muito mais complicada”, afirmou.

Molina se limitou a comentar aspectos técnicos da gravação e não fez considerações sobre o teor da conversa entre o empresário e o presidente.

O advogado de Temer, Gustavo Bonini Guedes, afirmou que não iria comentar “aspectos jurídicos” do processo e se negou a responder à pergunta de um jornalista sobre se Temer contestava algum dos trechos do diálogo.

“Você não destaca partes de uma prova. Ou a prova é válida ou ela não é válida”, disse Guedes.

O perito da defesa também afirmou não ser possível estabelecer se as interrupções na gravação foram provocadas por um defeito no aparelho gravador ou uma edição posterior no áudio.

“Eu não consigo distinguir um defeito sistêmico de um defeito criado”, disse.

Ouça a íntegra da conversa entre Temer e Joesley

UOL Notícias

 

A defesa do presidente Temer contratou uma perícia independente sobre o áudio da conversa entre o presidente e o empresário Joesley Batista, base do pedido de inquérito contra Temer autorizado pelo STF.

Segundo o advogado de defesa Gustavo Bonini Guedes, foram detectados 70 pontos de "obscuridade" no áudio. "Nossa convicção é de que o áudio é imprestável", disse Guedes.

O advogado se reuniu na tarde de hoje com o ministro do STF Edson Fachin, relator do inquérito contra Temer, para comunicar que a defesa desistiu do pedido de suspensão do processo após Fachin autorizar a realização de perícia no áudio pelo INC (Instituto Nacional de Criminalística).