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Laudo sobre áudio deve levar ao menos 15 dias, diz perito; entenda como é feita a análise

Eraldo Peres/Associated Press
Imagem: Eraldo Peres/Associated Press

Ana Carla Bermúdez

Do UOL, em São Paulo

22/05/2017 18h28Atualizada em 22/05/2017 20h09

A perícia oficial feita no áudio da conversa gravada entre o presidente Michel Temer (PMDB) e o empresário Joesley Batista, da JBS, deve demorar ao menos 15 dias para ficar pronta, segundo o presidente da APCF (Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais) e membro do INC (Instituto Nacional de Criminalística), Marcos de Almeida Camargo. 

Por determinação do STF (Supremo Tribunal Federal), o INC, órgão da Polícia Federal, fará a análise da gravação entre Temer e Joesley, mas não há ainda um prazo oficial para que o laudo seja divulgado. Uma suposta edição no áudio apresentado como prova contra Temer fez a defesa do presidente pôr em xeque as suspeitas apresentadas pela PGR (Procuradoria-Geral da República).

Para Camargo, apesar de a entidade estimar um prazo médio de 30 dias para qualquer análise, a perícia pode ser reduzida para, no máximo, 15 dias. “É uma perícia meticulosa e complexa, porque precisa que [o perito] se debruce em cima do material. Não é uma coisa fácil de se fazer, em questão de horas. Pode ser que saia em 15 dias, depende da qualidade do material e de uma outra série de fatores. Eu acredito que será feita no menor prazo possível, até pela importância do caso”, afirma Camargo.

A Polícia Federal havia solicitado neste domingo à PGR o equipamento usado por Joesley para gravar a conversa com o presidente. Segundo o INC, "é fundamental" ter acesso ao aparelho para concluir os trabalhos periciais. A Polícia Federal informou ainda que não há prazo inicial estipulado para a apresentação do laudo, "especialmente diante da necessidade apontada de perícia também no equipamento".

Um dos equipamentos que teriam captado conversas entre o dono da JBS, Joesley Batista, e seus interlocutores foi recebido na tarde desta segunda-feira (22) pela Polícia Federal. Não foi discriminado a qual das conversas da delação do empresário esse equipamento se refere. Ainda resta um outro gravador a ser recebido.

Ouça a íntegra da conversa entre Temer e Joesley

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Como é feita a perícia de um áudio?

Segundo a PF, “para uma conclusão robusta da perícia criminal, o maior número possível de elementos é analisado”. São três os exames que serão realizados:

- Análise de conteúdo (analisa o áudio segundo a segundo)

- Comparação de locutor (confirma quem são os interlocutores da conversa)

- Verificação de edições (verifica alterações ou adulterações nos registros de áudio)

A PF informa que, “no caso de perícia de áudio em formato digital, o exame de verificação de edições é realizado no arquivo computacional que contém a representação do análogo físico do áudio captado. A boa prática em análise forense de vestígios multimídia recomenda que haja o exame conjunto entre os registros de áudio e o equipamento gravador”.

Verificar a autenticidade de um áudio para saber se ele sofreu qualquer tipo de alteração ou edição é uma tarefa complexa e que demanda tempo, de acordo com a avaliação é de Marcos de Almeida Camargo e também de Mauricio de Cunto, perito forense que trabalha há mais de 25 anos na área.

Segundo os especialistas, ouvir o áudio diversas vezes, com muita atenção, é o primeiro passo de toda a perícia. Nessa etapa, busca-se entender se há marcas estranhas na gravação (como cortes ou interrupções bruscas) e se o conteúdo da história dessa gravação tem um sentido lógico.

“Há coisas que, de ouvido, você consegue identificar. Exemplo disso é a análise contextual, para ver se o que está ali na gravação tem lógica, tem compasso. Depois, pode ser feita uma análise dos eventos acústicos, como ruídos, por exemplo. É uma análise mais aprofundada, já que é uma percepção que o ouvido humano não atinge”, conta Camargo.

O ruído de fundo pode ser analisado através da espectrografia, exame que mostra visualmente o conteúdo da gravação com relação ao tempo e à frequência do áudio.

“Costuma-se fazer esse exame duas, três, quatro vezes, principalmente nos pontos mais importantes [da gravação]”, explica De Cunto. Com isso, é possível notar se o áudio tem alguma variação brusca de ruído de fundo –o que pode ser sinal de falha do gravador ou até mesmo de manipulação e alteração do conteúdo da gravação.

Outra análise a ser feita é o exame de forma de onda. Nele, o formato da onda sonora é estudado e pode-se observar se algum ponto da gravação apresenta um corte ou modificação brusca visível. “Vou olhando onde existem possíveis falhas, que já foram identificadas acusticamente, e observo a onda naquele ponto”, afirma De Cunto.

Cada uma dessas análises, segundo os especialistas, permite que os peritos possam interpretar se um ponto visto como falha no áudio é resultado de uma interrupção proposital ou se é algo decorrente do equipamento utilizado para a gravação.

Justamente por isso, explicam os peritos, é recomendável que seja feita também a análise do equipamento utilizado para se obter determinado áudio.

“A boa prática recomenda que seja feita uma análise do gravador. Certas informações que você tem no áudio podem ser decorrentes do equipamento, e não necessariamente de edição”, ressalta Camargo.

O perito ainda se diz "aliviado" pela decisão do STF de enviar o áudio para análise pela Polícia Federal. "A gente fica muito preocupado quando uma questão como essa é apresentada sem a devida robustez científica. Nós não temos compromisso em acusar ou absolver. Estávamos preocupados com o fato de se ter um processo sensível como esse sem o devido cuidado com as provas", explica.

(Com informações do Estadão Conteúdo)