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Temer evitou que algum militar agisse por conta própria, afirma Jucá

Pedro Ladeira/Folhapress
Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Gustavo Maia

Do UOL, em Brasília

24/05/2017 21h14Atualizada em 24/05/2017 21h47

O senador Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo no Senado, afirmou em discurso no plenário na noite desta quarta-feira (24) que o presidente Michel Temer (PMDB) “tinha obrigação” de chamar as Forças Armadas para atuar nas ruas de Brasília, durante manifestação contra o seu governo, para evitar que “algum militar” agisse por conta própria.

Horas antes, Temer havia assinado decreto que estabelece ação de garantia de lei e da ordem pelas Forças Armadas no Distrito Federal. A decisão é válida até a próxima quarta-feira (31).

“Não adianta querer colocar ações do governo de forma distorcida: ‘o presidente Michel Temer está chamando as Forças Armadas para se sustentar’. Não, o presidente Michel Temer chamou as Forças Armadas porque um bando de marginais estava tocando fogo em ministérios", declarou.

Foi isso que ele [Temer] fez e tinha obrigação de fazer antes que algum militar entendesse que não tem mais ordem no Brasil e aí, de modo próprio, pudesse agir
Romero Jucá

Sobre o "pedido de tropas para manter a ordem", Jucá mostrou o ofício do presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), no qual ele solicitou de Temer o auxílio da Força Nacional de Segurança. Pouco antes, na Câmara, Maia havia negado a solicitação das Forças Armadas e pediu que o ministro da Defesa, Raul Jungmann –que anunciou a medida— viesse a público para “repor a verdade”.

"[Ele pediu] forças como pediu o Rio de Janeiro, a Bahia, o Espírito Santo. Portanto, não me venham falar que há diferença no tratamento. Incendiário é incendiário, bandido é bandido, black bloc é black bloc. Queira ser de central sindical, queira ser de qualquer tipo de outra entidade, tem que ser tratado com o rigor da lei, ainda mais na capital da República", declarou Jucá.

O senador afirmou que o presidente estaria "desmoralizado se permitisse que incendiassem ministérios e ficasse por isso mesmo". Manifestantes do ato batizado de “Ocupa Brasília” entraram em confronto com policias militares do Distrito Federal e depredaram diversos prédios da Esplanada dos Ministérios.

Segundo Jucá, o exemplo da reunião desta terça (23) na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado, quando oposicionistas conseguiram impedir a leitura do relatório da reforma trabalhista em meio a empurra-empurra e quase agressões, “não pode ser repassado para o resto do Brasil”.

"Não é no grito, não é na pancada, não é na ameaça que vai se resolver as questões do país. Ainda mais colocado por uma minoria. Não vai!”, declarou. “Se senador pode bater, pode arrebentar e subir na mesa, qualquer um pode tocar fogo em ministério. É a mesma coisa. Não é essa a democracia que nós queremos”, completou.

Ele afirmou ainda que a maioria da bancada de senadores do PMDB, partido do qual é presidente nacional, apoia Temer e tem “consciência histórica” do seu papel. Para Jucá, Temer “já cumpriu a obrigação dele” ao enviar para o Congresso a reforma trabalhista e a reforma previdenciária.

Em defesa enfática do aliado, alvo de inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal) embasado nas delações dos executivos do grupo JBS e de pedidos de renúncia e impeachment, Jucá afirmou que o governo “não está caindo” e nem está “vago”. “O presidente Michel Temer termina o mandato em 31 de dezembro do próximo ano. Não vai ser candidato à reeleição.”

“Não adianta fazer lista de candidato a presidente”, declarou, em referência às especulações sobre quem seria o substituto de Temer em uma eventual eleição indireta realizada pelo Congresso.

“Não adianta, porque vai haver resistência legal e constitucional. Vai haver. Nós vamos aqui exercer o nosso papel de maioria, e, se for preciso haver confronto, vai haver confronto e que seja o confronto das ideias, é o melhor confronto para uma Casa democrática. Mas nós não vamos correr com medo, não é da nossa formação”, discursou.

Renan fez duras críticas a Temer

Antes de Jucá, outro peemedebista havia discursado no plenário: o líder do partido na Casa, senador Renan Calheiros (AL). Crítico do governo Temer, o alagoano fez duras críticas ao presidente por ter editado o decreto. "Não serão as Forças Armadas que vão sustentar esse governo", declarou.

"Como todos imaginavam, a circunstância do Brasil está se agravando [...] É constitucional chamar as Forças Armadas, mas beira a insensatez fazer isso no momento em que o país pega fogo. Beira a irresponsabilidade. E fazer isso de forma dissimulada, dizer que foi a pedido do presidente da Câmara dos Deputados, que negou, é um horror. Um horror!", afirmou Calheiros.

Com o posto na liderança em xeque, Jucá afirmou que a bancada precisa ser respeitada na decisão da sua maioria. “Enquanto eu for presidente do partido, eu vou segurar isso e, se eu ficar em minoria, vou respeitar a decisão da maioria. Agora, no grito, ninguém vai levar”, declarou.

Ao fim do discurso de Jucá, o senador Waldemir Moka (PMDB-MS) reafirmou o apoio a Temer --que nesta quarta recebeu 18 dos 22 peemedebistas do Senado no Palácio do Planalto—e bateu boca com Renan, que falou fora do microfone.

“O Brasil está assim por causa de puxa-saquismo”, disse Calheiros. “Mais puxa-saco que vossa excelência eu não conheço”, rebateu Moka.