Topo

Cabral se torna réu pela 10ª vez na Lava Jato, agora ao lado da ex-mulher

O ex-governador está preso preventivamente desde novembro - FÁBIO MOTTA/ESTADÃO CONTEÚDO
O ex-governador está preso preventivamente desde novembro Imagem: FÁBIO MOTTA/ESTADÃO CONTEÚDO

Do UOL, no Rio

02/06/2017 18h09

A Justiça do Rio de Janeiro aceitou nesta sexta-feira (2) a 10ª denúncia contra o ex-governador Sérgio Cabral no âmbito da operação Lava Jato. Cabral (PMDB) e a ex-mulher Susana Neves foram denunciados pelo Ministério Público Federal pelo crime de lavagem de dinheiro.

Na decisão, o juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal, afirma que "a atuação típica dos acusados foi adequadamente descrita, tendo sido imputado a estes, o delito de lavagem de dinheiro, cuja prática teria sido revelada a partir da quebra de sigilo bancários e telefônicos autorizados por este juízo no bojo das operações Calicute e Eficiência".

Preso preventivamente desde novembro, o político já é réu em outros nove processos criminais, dos quais oito tramitam na 7ª Vara Federal Criminal, no Rio, e um na 13ª Vara Federal Criminal, do juiz Sérgio Moro, em Curitiba.

Além do crime de lavagem de dinheiro, o peemedebista responde por corrupção e organização criminosa.

O que diz a 10ª denúncia

Segundo o MPF, o ex-chefe do Executivo fluminense atuou em conjunto com a ex-mulher e outras quatro pessoas, também denunciadas, para dar aparência lícita a valores ilícitos que somam R$ 1,7 milhão.

Os demais investigados são o empresário Flávio Wenerck e o contador Alberto Conde; além de Maurício Cabral, irmão do ex-governador, e Carlos Miranda, seu operador financeiro.

Na versão do MPF, os episódios de lavagem de dinheiro relatados na denúncia se referem ao uso da empresa Survey Mar e Serviços Ltda, ligada a Flávio Werneck.

Os advogados de Cabral informam que ele só vai se manifestar na Justiça. A reportagem ainda não conseguiu contato com a defesa dos demais investigados.

Acompanhado de agentes da PF, Sérgio Cabral faz exames no IML de Curitiba - Rodrigo Félix/Agência de Notícias Gazeta do Povo/Estadão Conteúdo - Rodrigo Félix/Agência de Notícias Gazeta do Povo/Estadão Conteúdo
Imagem: Rodrigo Félix/Agência de Notícias Gazeta do Povo/Estadão Conteúdo

A dinâmica do esquema

Werneck e Conde são, respectivamente, dono e contador da FW Engenharia, empresa que teria obtido vantagens em contratos com o governo do Estado durante a gestão Cabral.

Entre 2007 e 2014, o volume de acordos comerciais entre as partes aumentou 37 vezes e incluiu obras grandiosas, como a urbanização das comunidades do Complexo de Manguinhos, na zona norte carioca.

Conde foi identificado como responsável pelos repasses indevidos. Para ocultar o rastro das operações, ele utilizava, de acordo com o MPF, a subsidiária Survey Mar e Serviços Ltda, registrada em nome de dois supostos laranjas, entre as quais a própria neta.

"A denúncia elucida que, em verdade, os pagamentos eram realizados por orientação de Flávio Werneck, que depositava na conta do Survey, por meio da FW Engenharia, os valores que seriam depois repassados a outras empresas de fachada", narra o Ministério Público Federal.

Uma dessas empresas de fachada, a Araras Empreendimento, é de propriedade da ex-mulher de Cabral. Entre 2011 e 2013, foram realizados 31 depósitos bancários em favor de Susana Neves, totalizando mais de R$ 1,2 milhão. As transferências foram feitas, segundo a denúncia, em valores fracionados, que variavam entre R$ 6.000 e R$ 56.310.

"Essa prática, conhecida como 'smurfing', é típica de esquemas de lavagem de dinheiro, pois tem o objetivo de não despertar a atenção dos órgãos de controle", relatam os procuradores do Ministério Público Federal.

susana neves - Reprodução/Globo News - Reprodução/Globo News
Em janeiro, Susana Neves foi obrigada a prestar depoimento na PF
Imagem: Reprodução/Globo News

Irmão de Cabral

A denúncia narra ainda que Maurício Cabral também foi beneficiado no esquema. Em novembro de 2011, ele teria recebido um cheque emitido pela Survey em favor da sua empresa de publicidade, a Estalo Comunicação Ltda. O valor da transferência foi de R$ 240 mil.

"O pagamento corresponde a quase 50% da receita bruta declarada pela Survey no ano de 2011, que foi de R$ 534.982,00."

Já Carlos Miranda, que foi preso junto com Cabral na Operação Calicute, teria recebido quase R$ 194 mil entre dezembro de 2011 e abril de 2012. Na versão do MPF, o dinheiro foi destinado ao operador financeiro do ex-governador por meio de sua empresa de fachada, a LRG Agropecuária.

"As investigações concluíram que a LRG Agropecuária era uma empresa de fachada usada na operacionalização de esquema de lavagem de recursos obtidos com o crime de corrupção. Criada em 2007, a empresa de consultoria chegou a ter faturamento de R$ 2,3 milhões em 2013. Em 2015, após a saída de Cabral do governo, o faturamento declarado foi de apenas R$ 7 mil."

Lavagem de dinheiro em série

A denúncia pede à Justiça a condenação dos investigados por 36 atos de lavagem de dinheiro. A sequência de atos criminosos foi dividida em três episódios, que envolvem Cabral, Werneck e Conde.

A ex-mulher do governador foi denunciada por 31 atos de lavagem de dinheiro, enquanto o irmão dele, por um ato apenas. Miranda, por sua vez, poderá responder por até quatro vezes, caso a Justiça federal acolha a denúncia.

"Diante da grandiosidade do esquema criminoso, a presente denúncia não esgota todos os crimes de lavagem de dinheiro cometidos no Brasil, nem tampouco todos os fatos praticados pelo grupo, não representando arquivamento implícito quanto a pessoas ou fatos não denunciados, especialmente em razão de ainda estarem em curso diligências para identificação do destino dos recursos ilícitos angariados pela organização criminosa", afirmam os procuradores.