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Janot diz que Aécio tentou "impedir e embaraçar" investigações da Lava Jato

"[Aécio] empreendeu esforços para interferir na distribuição dos inquéritos da investigação no Departamento de Polícia Federal", diz Janot - Pedro Ladeira/Folhapress
"[Aécio] empreendeu esforços para interferir na distribuição dos inquéritos da investigação no Departamento de Polícia Federal", diz Janot Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Gustavo Maia

Do UOL, em Brasília

02/06/2017 18h58Atualizada em 02/06/2017 19h10

Na denúncia apresentada nesta sexta-feira (2) ao STF (Supremo Tribunal Federal) contra o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG), o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou que o tucano tentou "impedir e embaraçar" as investigações dos crimes apurados pela Operação Lava Jato desde "pelo menos" 2016 até o mês passado.

Denunciado com base nas delações de executivos da JBS por corrupção passiva e obstrução de Justiça, teria empreendido "esforços para interferir na distribuição dos inquéritos da investigação no Departamento de Polícia Federal, a fim de selecionar delegados de polícia que supostamente poderiam aderir ao impedimento ou ao embaraço à persecução de crimes contra altas autoridades políticas do país".

O ex-candidato à Presidência da República também teria atuado "intensamente" nos "bastidores" do Congresso Nacional, com o objetivo de aprovar medidas legislativas que viessem a atrapalhar a "efetiva punição de infrações penais que envolvam a organização criminosa".

Janot citou como exemplos a lei da anistia do caixa dois, que não vingou, e o projeto de lei de abuso de autoridade, aprovado pelo Senado no fim de abril --e em tramitação na Câmara. Este útlimo, para o procurador-geral, tem "notório viés retaliatório contra autoridades judiciais e agentes públicos de fiscalização e controle, visando a inibir as investigações e processos da Operação Lava Jato".

Além de Aécio, sua irmã, Andrea Neves, seu primo, Frederico Medeiros, e o assessor do senador Zezé Perrela (PMDB-MG), Mendherson Souza Lima, também foram denunciados pelos crimes de corrupção passiva.

A PGR (Procuradoria-Geral da República) também solicitou a abertura de novo inquérito para investigar o crime de lavagem de dinheiro.

Aécio foi gravado por Joesley Batista, um dos donos da JBS e que firmou acordo de colaboração com a PGR, pedindo R$ 2 milhões para pagar um advogado para sua defesa nos inquéritos da Lava Jato.

No STF (Supremo Tribunal Federal), o relator do processo em que Aécio é investigado é o ministro Marco Aurélio Mello.

Segundo a PGR, Aécio se valeu da condição de parlamentar para pedir os R$ 2 milhões por intermédio de Andrea Neves, sua irmã, depois confirmando o pedido pessoalmente a Joesley.

Janot afirma ainda que Aécio, por meio de uma série de contatos com o diretor-geral da PF, Leandro Daiello,"deixou clara a sua intenção de interferir" para que a investigação sobre irregularidades na licitação da Cidade Adminstrativa de Minas Gerais ficasse com "um delegado específico" na corporação. A PGR destaca que, apesar das tentativas do senador, o responsável não foi trocado.

Em nota, o advogado de Aécio, Alberto Toron, disse ter recebido a notícia da denúncia com "surpresa". "Diversas diligências de fundamental importância não foram realizadas, como a oitiva do senador e a perícia nas gravações. Assim, a defesa lamenta o açodamento no oferecimento da denúncia e aguarda ter acesso ao seu teor para que possa demonstrar a correção da conduta do senador Aécio Neves e de seus familiares."

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Aécio já respondia a dois inquéritos originados de investigações da Lava Jato e teve mais cinco investigações contra ele autorizadas por Fachin a partir da delação dos executivos da Odebrecht.

O empresário Joesley Batista, um dos donos da JBS, gravou uma conversa com Aécio na qual o senador pede R$ 2 milhões ao empresário. Os advogados do senador afirmam que o pedido foi um empréstimo pessoal e que não houve ilegalidade.

Mas a delação da JBS também levantou outras suspeitas contra o senador, afastado do exercício do mandato por decisão de Fachin.

No pedido de inquérito, a PGR afirma ver indícios de que o senador agiu para tentar barrar investigações.

A PGR afirma que Temer e Aécio agiram em conjunto para tentar obstruir as investigações e relata pagamentos feitos por Joesley a pessoas próximas do presidente e do senador.

"Além disso, verifica-se que Aécio Neves, em articulação, dentro outros, com o presidente Michel Temer, tem buscado impedir que as investigações da Lava Jato avancem, seja por meio de medidas legislativas, seja por meio do controle de indicação de delegados da polícia que conduzirão os inquéritos", diz trecho do pedido de inquérito.

Em conversa com Joesley, gravada pelo próprio empresário, Aécio afirma ter pressionado Temer para que fossem feitas mudanças na Polícia Federal, como a troca do diretor-geral do órgão, Leandro Daiello.

Ambos usam a frase "tem que tirar esse cara", em referência a Daiello, mas sem citar diretamente o diretor da PF.

Operação da Polícia Federal derivada da delação da JBS levou à prisão um primo e a irmã de Aécio. O primo do senador, Frederico Pacheco de Medeiros foi responsável por buscar três dos quatro repasses de R$ 500 mil da JBS acertados com o senador, segundo apontam as investigações.

A irmã do senador, Andrea Neves, também foi presa sob a suspeita de ter negociado valores com a JBS em nome de Aécio.

Em nota, a assessoria de imprensa de Aécio Neves afirmou que o senador está "absolutamente tranquilo quanto à correção de todos os seus atos". O texto diz ainda que a relação do presidente do PSDB com Joesley Batista sempre foi "estritamente pessoal, sem qualquer envolvimento com o setor público".

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