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Chefe do setor de propinas da Odebrecht confirma suposta compra de terreno para Lula

1.jun.2017 - Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante congresso nacional do PT - Evaristo Sá/AFP Photo
1.jun.2017 - Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante congresso nacional do PT Imagem: Evaristo Sá/AFP Photo

Daniela Garcia

Do UOL, em São Paulo

07/06/2017 18h36

Na conta do PT gerenciada pelo setor de propinas da Odebrecht foi debitada a compra do terreno para a construção do Instituto Lula, afirmou Hilberto Mascarenhas, ex-diretor de operações estruturadas da empreiteira, nesta quarta-feira (7) em depoimento à Justiça Federal.

Mascarenhas depôs como testemunha de Marcelo Odebrecht, ex-presidente do grupo, no processo no qual o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é réu por supostamente receber vantagens indevidas da Odebrecht oriundas de contratos com a Petrobras. A defesa do petista nega as acusações.

Segundo o delator, havia uma planilha chamada de "Programa Especial Italiano" onde constava as transações de propinas destinadas aos codinomes "Italiano", "Pós-Itália" e "Amigo", que seriam, respectivamente, o ex-ministro Antônio Palocci, o ex-ministro Guido Mantega e Lula.

Na audiência desta quarta, o MPF (Ministério Público Federal) questionou Mascarenhas a que se referia a sigla "IL" no débito na planilha. "Por utilização de recursos para aquisição de um terreno para o Instituto Lula", respondeu o delator. O ex-diretor detalhou que a compra foi feita com recursos do "caixa 1", mas foram registradas no documento de sua área.

"Parece que foi solicitado o apoio de Marcelo para encontrar um terreno para o Instituto Lula. Identificou-se um terreno. Marcelo mandou comprar um terreno. Como ele não tinha como debitar, ele não ia ficar com esse custo, ele debitou nessa planilha", afirmou. Mascarenhas diz que o valor de R$ 12,4 milhões foi reduzido dos créditos de Lula, Palocci e Mantega.

Cristiano Zanin, advogado de Lula, questionou a Mascarenhas sobre a possibilidade de que alguém receber propina por meio da propriedade de um imóvel. "Não é possivel comprar ativos e depois transferir esses ativos que está no nome de empresas", disse o delator. 

A defesa de Lula afirmou, por nota, que o ex-diretor da Odebrecht "afastou a utilização de recursos de propina na compra do imóvel que a acusação entende que seria destinado ao Instituto Lula, como quer fazer crer o MPF".

Além do ex-executivo, também prestaram depoimento como testemunhas hoje os ex-executivos da Odebrecht Rogério Araújo e Márcio Silva.

Mascarenhas, Araújo e Silva foram ouvidos como testemunhas da acusação no processo em que Lula é acusado de receber propina da empreiteira na forma de uma nova sede para o Instituto Lula e de um apartamento vizinho ao que mora em São Bernardo do Campo. Em ambos os casos, as transações teriam sido feitas usando laranjas. Segundo o MPF, o dinheiro da vantagem indevida veio de contratos da Odebrecht com a Petrobras (saiba mais abaixo).

As três testemunhas já firmaram acordo de delação premiada com as autoridades.

Entenda o caso

A denúncia do MPF acusa Lula pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro em contratos firmados entre a Petrobras e a Odebrecht. Segundo os procuradores, o ex-presidente teria recebido propina da empreiteira por intermédio do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci --também réu na ação, junto a Marcelo Odebrecht e a outras cinco pessoas.

O MPF afirma que parte do dinheiro foi usada para comprar um terreno, que seria usado para a construção de uma sede do Instituto Lula (R$ 12,4 milhões).

A denúncia diz ainda que o dinheiro de propina também foi usado para comprar um apartamento vizinho à cobertura onde mora o ex-presidente, em São Bernardo do Campo (SP), que é alugado pela família de Lula. Na avaliação dos investigadores, a operação foi realizada para ocultar o verdadeiro dono do apartamento, que seria Lula.

No total, R$ 75 milhões teriam sido desviados da Petrobras por meio de oito contratos da Odebrecht com a estatal, de acordo com a força-tarefa. Parte do valor teria sido repassada a partidos e agentes políticos que apoiavam o governo Lula, principalmente PP, PT e PMDB. O ex-presidente foi apontado como o "responsável por comandar uma sofisticada estrutura ilícita para captação de apoio parlamentar, assentada na distribuição de cargos públicos na administração federal".

A defesa de Lula afirma que ele aluga o apartamento vizinho ao seu. Além disso, acrescentou que o Instituto Lula funciona no mesmo local há anos e que o petista nunca foi proprietário do terreno em questão. A transação seria um "delírio acusatório", complementam os advogados.