Topo

Aécio diz ao STF que cumpre decisão de afastamento do Senado

O senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) - André Dusek - 11.mai.2016 /Estadão Conteúdo
O senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) Imagem: André Dusek - 11.mai.2016 /Estadão Conteúdo

Felipe Amorim

Do UOL, em Brasília

13/06/2017 18h34

O senador Aécio Neves (PSDB-MG) informou nesta terça-feira (13) ao STF (Supremo Tribunal Federal) que tem cumprido a decisão do ministro do Supremo Edson Fachin, que determinou o afastamento do senador do exercício do mandato.

Os advogados de Aécio apresentaram a Fachin um documento da Mesa Diretora do Senado informando que Aécio não esteve no Senado desde o último dia 18 de maio, data em que se tornou pública a ordem de Fachin que o afastou do exercício do cargo.

“Com efeito, após o dia 18 de maio de 2017, o ora defendente [Aécio] jamais esteve nas dependências do Senado Federal e nem exerceu qualquer atividade parlamentar. Não esteve no plenário e nem em qualquer comissão daquela casa legislativa”, afirmam os advogados do senador.

Aécio foi denunciado pela PGR (Procuradoria Geral da República) pelos crimes de corrupção e obstrução à Justiça.

Nesta terça-feira, a 1ª Turma do STF negou liberdade a sua irmã Andrea Neves, presa nas investigações contra o senador.

Recurso da defesa contra o afastamento do senador do mandato será julgado na próxima terça-feira (20).

A 1ª Turma também deve julgar o pedido de prisão do senador apresentado pela PGR.

Reportagem da “Folha de S.Paulo” mostrou que, apesar de o STF ter determinado o afastamento do senador, o gabinete de Aécio no Senado continuava funcionando normalmente.

O presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), afirmou ter cumprido a decisão do Supremo, mas disse aguardar orientações sobre a extensão da proibição contra Aécio.

O que dizem as investigações

As investigações da PGR (Procuradoria Geral da República) apontam que Aécio e Andrea teriam pedido R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista, um dos dono do grupo JBS, para supostamente pagar advogados de defesa do senador, investigado em outros sete inquéritos no STF.

Posteriormente, a Polícia Federal rastreou que parte desse valor foi entregue por um executivo da JBS ao primo de Aécio Frederico Pacheco de Medeiros, que repassou o dinheiro a Mendherson de Souza Lima, na época assessor do senador Zezé Perrella (PMDB-MG).

A PGR chegou a pedir a prisão de Aécio, mas o pedido foi negado pelo ministro do STF Edson Fachin, então relator do inquérito contra o senador.

A investigação foi posteriormente distribuída ao ministro Marco Aurélio Mello, da 1ª Turma do STF, por não ter relação com as investigações da Operação Lava Jato, sob responsabilidade de Fachin no Supremo.

No último dia 2 a PGR apresentou denúncia contra Aécio, Andrea, Frederico e Mendherson, na qual o grupo é acusado de ter praticado o crime de corrupção passiva. Aécio também foi denunciado por obstrução à Justiça.

Aécio foi gravado por Joesley Batista, que firmou acordo de colaboração com a PGR, pedindo R$ 2 milhões para pagar um advogado de defesa.

Obstrução de Justiça

A denúncia por obstrução da Justiça contra Aécio se baseia em ligações telefônicas interceptadas pela Polícia Federal, com autorização do STF, durante as investigações.

A PGR afirma que Aécio, por meio de uma série de contatos com o diretor-geral da PF, Leandro Daiello,"deixou clara a sua intenção de interferir" para que a investigação sobre irregularidades na licitação da Cidade Adminstrativa de Minas Gerais ficasse com "um delegado específico" na corporação. A PGR destaca que, apesar das tentativas do senador, o responsável não foi trocado.
A denúncia da Procuradoria cita ainda o telefonema de Aécio ao ministro do STF Gilmar Mendes, "numa atitude inusual", para que convencesse o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) a votar a favor do projeto de lei de abuso de autoridade. Segundo Janot, Aécio usou seu mandato "não apenas para se proteger das investigações da Operação Lava Jato, mas também para barrar o avanço do Estado na descoberta de graves crimes praticados pelas altas autoridades do país, num verdadeiro desvio de finalidade da função parlamentar."

O que diz Aécio

O advogado de Aécio, Alberto Zacharias Toron, afirmou, em nota, que a defesa do senador “refuta integralmente” o teor da denúncia e disse ver uma “inexplicável pressa” da PGR em apresentar a acusação, oferecida antes de o senador ser ouvido para prestar esclarecimentos.

“A principal prova acusatória da suposta corrupção é a gravação feita por um então aspirante a delator que, além de se encontrar na perícia para comprovação da autenticidade e integridade, retrata uma conversa privada, dolosamente manipulada e conduzida pelo delator para obter os incríveis e sem precedentes benefícios”, diz Toron.

“Ainda, a acusação de corrupção não para em pé”, afirma o advogado. “A conversa gravada clandestinamente pelo delator refere-se a uma relação privada, desvinculada de bens e interesses públicos”, diz a defesa.

Ainda segundo Toron, a conversa entre Aécio e Joesley trará do oferecimento da compra de um imóvel da família do senador, negada pelo empresário da JBS que, em troca, teria oferecido um empréstimo pessoal a Aécio.

O advogado diz que o diálogo não indica suspeitas de nenhum crime e que os próprios delatores da JBS afirmam não ter sido beneficiados pela atuação de Aécio no Senado.

O advogado de Andrea, Marcelo Leonardo, também afirma que a irmã do senador apenas ofereceu a venda de um imóvel ao empresário da JBS.

A defesa diz ainda que durante a gestão do tucano no governo de Minas Gerais não houve a concessão de benefícios fiscais à JBS.

Sobre a acusação de obstrução à Justiça, Toron afirma que a PGR busca “criminalizar o livre exercício de legislar, pois, em termos simples, não gostou do modo de votar do senador Aécio Neves”, diz a nota.

“Quanto à suposta influência na troca de delegados, trata-se de conversa privada, quase sempre induzida pelo candidato a delator, sem qualquer consequência prática”, conclui a defesa de Aécio.

"Não fiz dinheiro na vida pública", diz Aécio

UOL Notícias