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Fala de Cunha à PF enfraquece denúncia contra Temer, avalia Planalto

Eduardo Cunha cumprimenta Michel Temer durante Congresso da Fundação Ulysses Guimarães - Pedro Ladeira - 17.nov.2015 /Folhapress
Eduardo Cunha cumprimenta Michel Temer durante Congresso da Fundação Ulysses Guimarães Imagem: Pedro Ladeira - 17.nov.2015 /Folhapress

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

14/06/2017 20h08

A fala do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) de que seu silêncio “nunca esteve à venda” enfraquece a possível denúncia a ser apresentada pela PGR (Procuradoria-Geral da República) contra o presidente da República, Michel Temer, na avaliação de assessores do Palácio do Planalto.

Desde a semana passada, o Planalto vive a expectativa de que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresente uma denúncia contra Temer com base na delação de executivos da JBS. O mais provável, afirmam auxiliares, é que seja apresentada depois que o presidente voltar de viagem da Rússia e da Noruega. Ou seja, a partir do dia 26 de junho. Temer já é alvo de inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal) por corrupção passiva, organização criminosa e obstrução à Justiça.

A PGR afirma que um diálogo entre Temer e um dos donos da JBS, Joesley Batista, mostra que o presidente teria dado autorização para que o empresário comprasse o silêncio de Cunha para que o ex-deputado não fechasse um acordo de delação premiada.

Nesta quarta-feira (14), Eduardo Cunha afirmou em depoimento à Polícia Federal, no inquérito que investiga Temer, que seu silêncio "nunca esteve à venda", segundo o advogado do deputado cassado, Rodrigo Sanchez Rios. Ele prestou depoimento por cerca de uma hora e meia na superintendência da corporação em Curitiba, no Paraná, onde está preso desde outubro do ano passado.

Ainda de acordo com o advogado, Cunha nunca foi procurado para falar sobre a suposta compra de silêncio ou para fazer uma delação. O cliente, informou, negou todas as perguntas relacionadas a essa questão. "Com relação aos pagamentos para ele, sim [Joesley mentiu]”, disse Rios.

Para assessores do Planalto, a negativa de Cunha foi recebida com alívio e, ao mesmo tempo, como um contraponto às afirmações dadas até o momento pela PGR. Pelo menos, não foi dada “munição” a mais para a procuradoria, afirmou um assessor.

“A gravação já está sob xeque, tem de esperar a perícia e todo o desenrolar dela. E a negação do Cunha mostra que a PGR ainda não conseguiu confirmar essa suposta compra de silêncio. Não tem nada nem ninguém que corroborou isso na Justiça”, explicou.

Para outro auxiliar, a fala de Eduardo Cunha enfraquece a acusação de obstrução à Justiça contra Temer. “Cunha demonstrou que não teve nenhuma interferência. Isso quebra a base da suspeita de obstrução. Não teve nenhuma medida nesse sentido.”

Outra medida que enfraqueceu a possível denúncia da PGR contra Temer, segundo aliados do presidente, é o desmembramento do inquérito de Temer, Aécio Neves e do ex-assessor especial da Presidência Rodrigo Rocha Loures no STF. O processo em questão é derivado da delação da JBS. A separação foi determinada pelo ministro Edson Fachin, relator da operação Lava Jato no tribunal, em 30 de maio. Ao todo, Aécio responde a oito inquéritos no STF.

Para um assessor de Temer, o desmembramento afastou o envolvimento de Temer das suspeitas contra Aécio, teoricamente vistas como mais factíveis. O auxiliar ainda ressaltou que a PGR não pode acusar o presidente de organização criminosa. Isso porque o conceito desse tipo de crime, de acordo com lei de 2013, considera a associação de quatro ou mais pessoas de forma ordenada para obter vantagens por meio de infrações penais.

Ouça a íntegra da conversa entre Temer e Joesley

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