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Sérgio Cabral e Adriana Ancelmo usaram helicóptero da JBS, aponta documento

Documento indica que Cabral, Adriana e Joesley viajaram juntos em agosto de 2015 - Arte/UOL
Documento indica que Cabral, Adriana e Joesley viajaram juntos em agosto de 2015 Imagem: Arte/UOL

Leandro Prazeres

Do UOL, em Brasília

20/06/2017 04h00

Citado na delação da JBS, o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB-RJ) utilizou um helicóptero operado pela empresa em agosto de 2015, já depois de ter deixado o cargo. É o que aponta um documento obtido pelo UOL. Uma lista de voos anexada a um processo que tramita na Justiça Federal do Distrito Federal mostra que Cabral e sua mulher, Adriana Ancelmo, viajaram em companhia de Joesley Batista no dia 1º de agosto de 2015 a bordo de um helicóptero operado pela JBS. Um dos delatores da empresa disse que Cabral recebeu R$ 27 milhões em propina para a campanha ao governo do Rio de Luiz Fernando Pezão (PMDB).

A lista faz parte dos autos de um processo que tramita na Justiça Federal do Distrito Federal. Trata-se de uma relação de passageiros embarcados por aeronave no período que vai de junho a agosto de 2015. Essa lista foi produzida pela Global Aviation, empresa do ramo de aviação privada que opera hangares e aeronaves em diversas cidades do país.

O documento mostra que, no dia 1º de agosto de 2015, Cabral, Adriana Ancelmo e Joesley Batista embarcaram em um helicóptero no hangar da Global Aviation localizado no Aeroporto Santos Dummont, no Rio de Janeiro. A lista não indica o destino do voo. O documento indica o prefixo da aeronave utilizada: PT-JMB. 

Uma consulta ao banco de dados da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) mostra que o prefixo PT-JMB registrado na lista está incorreto e não corresponde a uma aeronave registrada. A grafia correta é PR-JMB - "JMB" representam as iniciais do empresário Joesley Mendonça Batista. 

Segundo a agência, o helicóptero PR-JMB pertence a um banco, mas é operado pela JBS por meio de um contrato de arrendamento mercantil. Esse tipo de situação é comum envolvendo aeronaves.

Em diversos casos, as empresas não chegam a comprá-las, mas firmam contratos de leasing ou arrendamento com os verdadeiros proprietários. Nesses contratos, a utilização da aeronave fica sob responsabilidade do operador. Neste caso, a JBS. 

A aeronave usada pelo trio foi um helicóptero modelo A109S de fabricação italiana avaliado em aproximadamente US$ 1,2 milhão. 

lista de passageiros - Arte/UOL - Arte/UOL
Lista mostra que Cabral e Adriana viajaram com Joesley Batista em helicóptero da JBS
Imagem: Arte/UOL

Frota polêmica

Sérgio Cabral governou o Rio de Janeiro entre 2007 e 2014. Em dezembro de 2016, ele e sua mulher foram presos seus supostos envolvimentos em diversos esquemas de desvio de recursos públicos. Adriana cumpre prisão domiciliar, mas Cabral continua detido.

No dia 13 de junho, o juiz Sérgio Moro condenou Cabral a 14 anos de cadeia por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Adriana foi inocentada. O casal ainda responde a diversos outros processos na Justiça Federal. 

A viagem de Joesley, Cabral e Adriana Ancelmo indica a proximidade entre o empresário e o casal. Cabral foi citado na delação da JBS, divulgada em maio deste ano. Segundo Ricardo Saud, um dos executivos da holding J&F, que controla a empresa, Cabral pediu R$ 40 milhões para as eleições de 2014, quando Luiz Fernando Pezão (PMDB) tentou (e conseguiu) a reeleição.

Segundo Saud, apesar do pedido de R$ 40 milhões, a JBS pagou R$ 27 milhões. Saud disse em seu depoimento que não tratou de propina com Pezão e que todo o acerto teria sido feito com Cabral.

O dinheiro, disse o executivo, foi pago em retribuição à cessão de uma fábrica no município de Barra do Piraí, no interior do Rio de Janeiro, para uma das empresas controladas pela J&F. A fábrica, segundo Saud, havia sido construída pela BRF, concorrente da JBS no setor de alimentos, mas havia sido abandonada pela companhia.

Esta não é a primeira vez que foram divulgadas informações sobre aeronaves da JBS sendo usadas por políticos investigados. No dia 6 de junho, a TV Globo revelou que Temer havia usado um avião da JBS para viajar à Bahia com sua mulher em 2011, quando ainda era vice-presidente da República.

Inicialmente, Temer negou ter utilizado a aeronave, mas mudou a versão e admitiu ter viajado a bordo da aeronave da JBS, embora tenha dito não saber que o avião pertencia ao empresário.

Outro lado

Procurada pela reportagem do UOL, a Global Aviation, que produziu a lista à qual o UOL teve acesso, disse que não operou nem opera aeronaves da frota controlada pela JBS.

A reportagem enviou perguntas para a defesa de Cabral e Adriana Ancelmo e fez contato telefônico confirmando o recebimento das perguntas nesta segunda-feira (19). A defesa inicialmente havia informado que responderia aos questionamentos sobre a viagem com Joesley, mas, por telefone, ao final da tarde de segunda-feira, a defesa do casal afirmou que não vai se pronunciar sobre o assunto.

A reportagem do UOL também enviou perguntas à assessoria de imprensa da JBS sobre a viagem com o casal Cabral e Adriana Ancelmo. A empresa disse que "ressalta a importância do mecanismo da colaboração, que está permitindo que o Brasil mude para melhor". "Não seria possível expor a corrupção no país sem que pessoas que cometeram ilícitos admitissem os fatos e informassem como e com quem agiram, fornecendo indícios e provas."

A nota prossegue dizendo que "a colaboração de Joesley Batista e mais seis pessoas é muito diferente de todas as que já foram feitas até aqui. Além da utilização de ação controlada com autorização judicial, houve vastos depoimentos, subsidiados por documentos, que esclarecem o modus operandi do cerne do sistema político brasileiro. A despeito do grande numero de informações e provas já entregues, os colaboradores continuam disponíveis para cooperar com a Justiça e, conforme acordo firmado com a Justiça, estão sendo identificadas informações e documentos adicionais como complementos às investigações e que serão entregues no prazo de até 120 dias".
 
"Em relação à viagem mencionada pela reportagem, a empresa informa que não identificou, até o momento, a ocorrência de registro que confirme essa informação. No entanto, caso seja constatada alguma inconformidade durante o processo de apuração, isso será relatado às autoridades", finaliza a defesa.