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Padre ouvido na Lava Jato diz ter pedido ajuda a operador de Cabral para festa em igreja

Padre convocado pela defesa de operador de Cabral era pároco da Igreja de São Jorge, em Quintino - Reprodução/Facebook
Padre convocado pela defesa de operador de Cabral era pároco da Igreja de São Jorge, em Quintino Imagem: Reprodução/Facebook

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

21/06/2017 17h20Atualizada em 21/06/2017 17h59

O padre Marcelino Modelski afirmou à Justiça Federal do Rio de Janeiro, nesta quarta-feira (21), ter pedido ajuda a Ary Ferreira da Costa Filho, ex-assessor de Sérgio Cabral (PMDB) e apontado como um dos operadores financeiros do esquema de corrupção investigado pela Lava Jato no Estado, para custear e organizar a tradicional festa de São Jorge, comemorada todos os anos no dia 23 de abril.

Modelski foi uma das testemunhas convocadas pela defesa de Ary, preso em fevereiro na Operação Mascate, da Polícia Federal, e réu por lavagem de dinheiro e organização criminosa. A operação Mascate está no âmbito da Lava Jato no Rio.
 
Eles se conheceram, na versão do religioso, entre 2002 e 2013, período no qual o depoente exercia a função de pároco da Igreja de São Jorge, em Quintino, no subúrbio carioca. Ary era muito devoto de São Jorge, afirmou Modelski, e já frequentava a igreja antes de 2002.
 
O padre declarou ainda que, em um momento inicial, desconhecia a ligação do fiel com o então governador do Estado --oficialmente, Ary trabalhava como assessor especial de Cabral. Depois, quando tomou conhecimento da relação, disse ter pedido a Ary apoio para angariar "doações" e "mantimentos".
 
"Ele [Ary], como devoto, sempre esteve presente nos eventos e ajudava a gente a organizar a festa", afirmou o padre, sem entrar em detalhes quanto à natureza dos recursos.
 
O religioso, que hoje mora em São Paulo, depôs em audiência da 7ª Vara Criminal Federal, do juiz Marcelo Bretas, por sistema de videoconferência. Na mesma oitiva, foram ouvidas testemunhas de defesa do advogado Thiago Aragão, ex-sócio da mulher de Cabral, Adriana Ancelmo, e preso sob acusação de lavagem de dinheiro.
 
Segundo reportagem do jornal Estado de S.Paulo, Modelski foi o padre que celebrou a renovação de votos do casamento de Cabral e Adriana Ancelmo. A cerimônia para "abençoar as alianças do casal", conforme divulgada à época, ocorreu no Palácio Laranjeiras, residência oficial do governador do Estado, em 2010.
 
Ary, chamado por Cabral de "Aryzinho" e que trabalhava com ele desde os tempos de deputado estadual na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio), é apontado pela força-tarefa fluminense da Operação Lava Jato e pela Polícia Federal como um dos principais operadores financeiros do grupo criminoso chefiado, segundo a Justiça, pelo ex-governador.
 
O ex-assessor é suspeito de ter lavado ao menos R$ 10 milhões em propina por meio de concessionárias de carros e compra de imóveis no Rio. Desse valor, R$ 8 milhões teriam ido para o bolso de Cabral. Segundo o MPF, o dinheiro é fruto de atos de corrupção do grupo chefiado por Cabral a partir de contratos de obras públicas do Estado.
 
A defesa do réu nega o crime e sustenta que a denúncia oferecida à Justiça pelo Ministério Público Federal é "absolutamente vaga com relação à suposta participação" do acusado, pois, não detalha "como e quando o dinheiro, que supostamente era produto de crime antecedente, teria sido entregue ao réu, bem como não consegue inviabilizar sua conduta".
 
Os advogados de Cabral, por sua vez, têm afirmado repetidamente que o ex-governador só vai se manifestar na Justiça.