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Cabral recebeu R$ 122,8 mi em propina de empresários de ônibus, diz MPF

O empresário Jacob Barata Filho foi preso pela PF no Galeão - Wilton Júnior/Estadão Conteúdo
O empresário Jacob Barata Filho foi preso pela PF no Galeão Imagem: Wilton Júnior/Estadão Conteúdo

Do UOL, no Rio

03/07/2017 11h15Atualizada em 05/07/2017 07h13

Investigações da Operação Ponto Final, desdobramento da Lava Jato que mira a cúpula do transporte coletivo no Rio, apontam que o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) recebeu R$ 122,8 milhões em propina entre 2010 e 2016 --ele deixou o cargo em 2014. Segundo o Ministério Público Federal, a organização criminosa que teria atuado de 2007 até os dias atuais no setor de transportes no Estado foi responsável pelo pagamento de mais de R$ 260 milhões a políticos e agentes públicos.

A Polícia Federal cumpriu nove mandados de prisão preventiva, três de prisão temporária e 30 de busca e apreensão, nesta segunda-feira (3), na nova fase da Operação Lava Jato. A Operação Ponto Final, que conta com a participação de 80 policiais federais, teve as ações autorizadas pela 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro.

O MPF diz que depoimentos confirmaram pagamentos de propinas nos moldes realizados pelas empreiteiras, só que dessa vez no transporte público com o objetivo de garantir tarifas e contratos com o governo do Rio.

Na noite de domingo (2), em uma ação antecipada, a polícia prendeu Jacob Barata Filho, um dos maiores empresários de ônibus do Estado do Rio, filho do empresário e banqueiro Jacob Barata, conhecido como "Rei do Ônibus".

Outro alvo da operação é o presidente da Fetranspor (Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro), Lélis Marcos Teixeira.

Lélis empresário ônibus Rio - Wilton Júnior/Estadão Conteúdo - Wilton Júnior/Estadão Conteúdo
O presidente da Fetranspor, Lélis Marcos Teixeira, também foi detido na Operação Ponto Final
Imagem: Wilton Júnior/Estadão Conteúdo
Os agentes da PF chegaram, por volta de 6h30, ao apartamento de Lélis, situado no bairro da Lagoa, na zona sul carioca. O empresário, que já havia sido alvo de um mandado de condução coercitiva em fase anterior da Lava Jato, foi detido pela PF.

Também alvo da operação, Rogério Onofre, ex-presidente do Detro (Departamento de Transportes Rodoviários do Rio), foi preso em Florianópolis. Onofre teria recebido R$ 44,1 milhões em propina.

A Polícia Rodoviária Federal prendeu um dos alvos da Operação Lava Jato em uma abordagem na via Dutra, em Barra Mansa, sul do Estado do Rio, na manhã de hoje. O suspeito é presidente do Sindicato das Empresas de Transportes Rodoviários do Estado do Rio de Janeiro.

A PF está ainda à procura de José Carlos Reis Lavouras, empresário do ramo de transportes e conselheiro da Fetranspor. No entanto, de acordo com as informações iniciais, o investigado estaria em Portugal.

As informações que resultaram na operação surgiram das delações premiadas de Jonas Lopes de Carvalho Neto, ex-presidente do TCE-RJ (Tribunal de Contas do Estado do Rio), e do doleiro Álvaro Novis.

Esses depoimentos detalharam a forma como era feita a custódia do dinheiro em espécie em transportadoras de valores para a posterior distribuição de propina a políticos e agentes públicos. Por meio de documentos e planilhas com registros da distribuição de propina entregues, os colaboradores permitiram identificar a estrutura montada pelas empresas de ônibus e Fetranspor para obter vantagens indevidas nos contratos públicos firmados, segundo informações do MPF.

Segundo o MPF, Carlos Bezerra, operador financeiro de Sérgio Cabral, confessou voluntariamente que recolhia propina na sede da empresa Flores em São João de Meriti, Baixada Fluminense. Bezerra admitiu que codinomes como "Jardim", "Flowers" e "Garden", constantes nas anotações de contabilidade feitas em agendas, apreendidas durante a deflagração da Operação Calicute, em novembro de 2016, eram referentes à Companhia Viação Flores, cujo sócio administrador é o empresário José Carlos Reis Lavouras –sócio também de mais 13 empresas ligadas ao ramo de transporte.

Para o MPF, o esquema de corrupção era organizado a partir de quatro núcleos: núcleo econômico, formado por executivos de empresas organizadas em cartel; o núcleo administrativo, composto por gestores públicos do governo do Estado, os quais pediram e receberam propinas; núcleo operacional, cuja principal função era promover a lavagem de dinheiro desviado; e núcleo político, integrado pelo chefe da organização Sérgio Cabral.

Outro lado

Por meio de nota, a defesa de Jacob Barata Filho informou que o empresário realizava viagem de rotina a Portugal, "onde possui negócios há décadas e para onde faz viagens mensais". A assessoria de imprensa das empresas de Jacob informou que ele possuía passagem de retorno ao Brasil, previsto para o dia 12 de julho. Informações preliminares davam conta de que ele viajava apenas com bilhete de ida. A defesa informou ainda que se pronunciará assim que tiver acesso aos autos do processo.

O UOL ainda não conseguiu localizar a defesa dos demais investigados. 

Por meio de sua assessoria de comunicação, o Detro informou que "a fiscalização continua atuante em todo o Estado" e que não iria comentar a prisão de Onofre.

A Fetranspor, por sua vez, informou, por meio de nota, que o sindicato que reúne dez empresas do setor de transporte fará todo o possível para colaborar com a Justiça.

A defesa de Sérgio Cabral não se manifestou sobre as acusações, mas vem afirmando que o ex-governador só se manifestará em juízo.

Preso em aeroporto

Já programada, esta etapa da operação teve de ser adiantada depois da prisão, na noite de domingo, de Jacob Barata Filho. O investigado foi detido no aeroporto Tom Jobim, no Rio, quando tentava embarcar para Lisboa, em Portugal.

A polícia acredita que ele tinha informações sobre esta fase da Lava Jato e que, por isso, tinha intenção de fugir do país. Ele foi encontrado portando apenas a passagem de ida para exterior.

O empresário foi levado para fazer exames no IML (Instituto Médico Legal) do Rio no final da noite e, no começo da madrugada desta segunda (3), encaminhado à sede da PF na zona portuária da cidade, onde permanece.