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PT usa decisões sobre Loures e Aécio para reforçar "seletividade" da Justiça contra Lula

Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa de reunião com membros das executivas nacional e federal do PT em São Paulo - Janaina Garcia/UOL
Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa de reunião com membros das executivas nacional e federal do PT em São Paulo Imagem: Janaina Garcia/UOL

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

03/07/2017 14h50Atualizada em 03/07/2017 15h43

O PT (Partido dos Trabalhadores) vai se valer de decisões recentes do STF (Supremo Tribunal Federal) em favor do ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) e do senador Aécio Neves (PSDB-MG) para reforçar o discurso de suposta seletividade da Justiça em relação ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A decisão foi anunciada nesta segunda-feira (3) após reunião de integrantes das executivas nacional e estadual do partido e em meio à expectativa pela decisão do juiz federal Sergio Moro, da 13ª Vara Federal do Paraná, em processo no qual Lula é réu.

A reunião aconteceu na sede estadual do partido, na região central de São Paulo, e teve, entre os participantes, Lula, a presidente nacional do partido, senadora Gleisi Hoffmann (PR), além de prefeitos, vereadores, deputados estaduais e federais e ex-mandatários --caso do ex-prefeito Fernando Haddad, que, a exemplo de outras lideranças, deixou o encontro antes de ele terminar. A justificativa para o evento foi a "análise da conjuntura política no país e no Estado de São Paulo".

Para o presidente estadual do PT, Luiz Marinho, as decisões recentes que resultaram na soltura de Rocha Loures e no retorno de Aécio ao mandato, a despeito das delações da JBS que implicaram nomes como os deles, deverão reforçar o discurso dos petistas de que Moro não teria provas suficientes para condenar Lula no processo do tríplex --em que foi acusado pelo MPF (Ministério Público Federal) de receber um apartamento da OAS como pagamento de propina por contratos da empreiteira com o governo federal.

"Juiz aprende em qualquer curso que julga conforme as provas nos autos, e, até aqui, indica-se que não há nenhuma prova contra Lula. Que Moro seja efetivamente juiz e não julgue com convicção das circunstâncias", disse Marinho. "Se ele for juiz, vai absolver Lula", completou o presidente estadual do PT, a quem, além de manifestações de repúdio e de apresentação de recursos em esferas superiores, caso o juiz federal condene o ex-presidente, "Lula chegará em plenas condições às eleições de 2018 --é grande a expectativa; o povo demonstra saudade do jeito de governar do presidente Lula".

Para Marinho, o discurso do PT vai se apropriar das decisões judiciais sobre o ex-deputado paranaense e o senador mineiro no sentido de que "o Judiciário vem exacerbando em muitas decisões".

"Fica muito claro [com a soltura de Loures e a devolução de Aécio ao mandato] que são dois pesos e duas medidas. O peso da caneta é diferenciado a partir da agremiação de quem está sendo julgado", definiu. Fica cada vez mais escandaloso o processo de que há uma visão distorcida do Judiciário sobre essas questões. Não caberia até o afastamento do [ex-presidente da Câmara Eduardo] Cunha -- vem se rasgando a Constituição, e agora parece que é como dar marcha a ré para proteger alguns. Debateremos isso com exaustão."

Sobre a forma de mobilizar a militância em caso de eventual condenação de Lula, o presidente estadual do partido citou que esse será um "processo automático, como foi espontâneo por conta da condução coercitiva" do petista no começo do ano passado. "Se alguém pode discutir combate à corrupção, é quem criou condições de combater a corrupção no país - nunca embargamos que a PGR [Procuradoria Geral da República] fizesse seu trabalho. Temos toda a autoridade de debater isso com a cabeça erguida", disse.

Lula e Gleisi deixaram a reunião sem ter contato com a imprensa. Presente ao encontro, o deputado federal Paulo Teixeira (SP) endossou, antes mesmo de Marinho falar em entrevista coletiva, a tese de que a a Justiça seria seletiva com o ex-presidente.

"O povo passou a alimentar a expectativa da volta do Lula, que, ao mesmo tempo, tem que ser acompanhada de um Judiciário que não faça política nem campanha para alguns partidos. O que estamos vendo é um Judiciário muito seletivo, que trata uns duramente, e outros, de maneira muito sóbria, como aconteceu agora com Rocha Loures e Aécio", ironizou.

E se Lula foi condenado por Moro? "Se vier essa decisão, não vamos compreendê-la, porque ela não terá base jurídica", afirmou o parlamentar, para quem o procurador Deltan Dallagnol, um dos autores da denúncia do triplex, "gastou 300 páginas para falar de uma crença, e não de uma prova". "O que causa estranheza é esse tratamento diferenciado, e esperamos que o presidente Lula seja tratado adequadamente pela Justiça brasileira --porque, se contra ele houvesse provas, ele poderia ser condenado, mas não há provas. Então, acreditamos na absolvição dele pelo Judiciário brasileiro", respondeu.

Partido vai associar Doria e Alckmin a Temer

Segundo as lideranças petistas, apesar de Lula ter sido assunto central, a conjuntura do partido no Estado de São Paulo --onde o PT amargou duas derrotas de primeiro turno para o PSDB tanto ao governo, em 2014, quanto para a prefeitura, em 2016 --também foi debatida na reunião de hoje. Mais que a definição de lideranças para a disputa ao Senado e ao governo paulista, porém, sobressaiu nas declarações dos petistas a associação que será feita entre o governo impopular de Michel Temer (PMDB) e o apoio de duas das principais lideranças tucanas, o prefeito João Doria e o governador Geraldo Alckmin, ao peemedebista. Doria e Alckmin são apontados como prováveis nomes à disputa de 2018.

"Alckmin e Doria sustentam o governo Temer, e a sociedade precisa saber da sustentação desses dois políticos do Estado ao governo Temer. Estão vinculadíssimos", avaliou Teixeira. Indagado se Doria já é visto como adversário pelo PT na eleição presidencial, o deputado resumiu: "Todo o esforço dele hoje é para fora da cidade; me parece que ele quer ser candidato em 2018 e se movimenta nessa direção. Portanto, temos que mostrar o vínculo dele com o Temer e do Alckmin com o Temer", concluiu.

Marinho fez coro ao parlamentar. "O maior partido de sustentação ao governo Temer é o PSDB, e Doria e Alckmin são figuras muito claramente de sustentação ao governo golpista está destruindo direitos da classe trabalhadora. Há uma necessidade de se fazer [pelos petistas] uma oposição organizada, até no sentido de se elencar a paralisia do Estado de São Paulo quanto a obras no Estado e na cidade".

Sobre quando o partido terá uma definição sobre a sucessão de Alckmin, Marinho afirmou que "a meta [sobre responder essa pergunta] é até o final do ano". "Vamos construir isso neste segundo semestre e ver quais as lideranças que estão à disposição, bem como a dos partidos no processo de aliança", declarou.