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Deputado diz na CCJ que "governo militar foi a solução para o Brasil"

Gustavo Maia

Do UOL, em Brasília

13/07/2017 11h31Atualizada em 13/07/2017 14h50

Em discurso no plenário da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara na manhã desta quinta-feira (13), o deputado Pastor Eurico (PHS-PE) afirmou que o "governo militar foi a solução para o Brasil" e disse não concordar com o termo "ditadura" para classificar o regime vigente no país entre 1964 e 1985.

O parlamentar do PHS, que é suplente na comissão, se inscreveu para falar a favor da admissibilidade da denúncia contra o presidente Michel Temer (PMDB), que é acusado pela PGR (Procuradoria-Geral da República) de ter cometido o crime de corrupção passiva. Durante quase 15 minutos, no entanto, Eurico pouco falou do processo, preferindo traçar um panorama da política brasileira nas últimas décadas.

"O Brasil é um país de sonhos, e eu lembro muito bem, não sou idoso e também não sou tão novo [tem 54 anos], mas na minha juventude --e acredito que de tantos outros aqui-- ouvimos os clamores, os gritos, as pessoas gritando por liberdade, quando falavam de um governo ditatorial, falavam da ditadura, termo que eu não concordo porque acho que, à época, o governo militar foi a solução para o Brasil", declarou o deputado.

"E ai do Brasil se não fossem os militares na época, nós hoje seríamos uma Cuba piorada e a situação dos brasileiros seria bem mais caótica", completou Eurico, que é pastor evangélico da igreja Assembleia de Deus e está no segundo mandato como deputado federal.

Ao dizer que não se sentia pressionado por nenhum grupo a tomar sua decisão sobre a denúncia de Temer, ele atacou artistas que criaram o site "342 agora", para acompanhar os posicionamentos dos deputados e cobrar votos a favor da autorização para que o processo seja analisado pelo STF (Supremo Tribunal Federal). Se o Tribunal decidir por receber a denúncia, Temer se tornaria réu --o que o afastaria do Palácio do Planalto por até 180 dias.

O nome da página faz referência ao número mínimo de votos para que o processo seja encaminhado para o Supremo.

"O 342 dos artistas aí para mim é uma aberração, porque tem artistas aí que merecem até ser aplaudidos, são pessoas dignas, mas tem um bando de vagabundos, picaretas, ladrões, corruptos, que foram citados aqui na Lei Rouanet, ou a 'lei roubanet', deveria ser esse o nome"

"No meu Estado [Pernambuco], mês passado, o artista Fábio Assunção --que nome, hein?--, idolatrado por alguns, um toxicômano ambulante, usuário de droga, bagunçou lá, foi preso, mas todo mundo tem que proteger. E eles estão agora querendo apelar, solucionar os problemas do Brasil. Manda eles solucionarem os problemas deles", afirmou o deputado, que disse ainda que "o problema do Brasil, está sendo, para alguns, a falta de Deus".

O ator Fábio Assunção é um dos participantes do movimento "342 agora". No dia 24 do mês passado, ele foi preso em flagrante, na cidade de Arcoverde (sertão de Pernambuco), sob acusação de dano qualificado ao patrimônio público, desacato a autoridade, desobediência e resistência a prisão.

"Palavras injuriosas"

As declarações de Eurico provocaram reação imediata da deputada Maria do Rosário (PT-RS), que solicitou que fossem retiradas "palavras injuriosas e inadequadas em relação a todos os brasileiros e brasileiras". O presidente da CCJ, deputado Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), informou que avaliaria o pedido.

Durante sua fala, o deputado aproveitou ainda para lembrar da condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pelo juiz federal Sérgio Moro a nove anos e seis meses de prisão. "[Lula] não recebeu a nota 10, mas recebeu a 9.6", ironizou.

Sobre a denúncia contra Temer, ele afirmou que aos deputados não cabe julgar o presidente, apenas autorizar o prosseguimento do processo."Quem não deve não teme. Qual é o medo de ser investigado pelo STF?", questionou.

Pastor Eurico também afirmou, sem citar nomes, que muitos aliados do presidente se aproximaram deles nos últimos dias perguntando "o que é que falta para o senhor", "como estão suas emendas", "qual o cargo que o senhor quer" e "quais os projetos o senhor tem lá agora para serem resolvidos em Pernambuco". Segundo o deputado, todas as abordagens foram rejeitadas.

"Não vou negociar minha dignidade. Não é falácia. É verdade que estão tentando negociar todo tipo de voto aqui. Isso aconteceu no governo anterior como acontece no de agora. Não tem nenhum líder desse que seja santinho não. Fazem a mesma coisa. É o sujo falando do mal lavado. Nós queremos passar o Brasil a limpo", declarou.

Na manhã de quarta-feira (12), os deputados começaram a discutir o parecer apresentado pelo relator da denúncia na CCJ, deputado Sergio Zveiter (PMDB-RJ), favorável à admissibilidade. Dezenas de integrantes e não-membros da comissão fizeram quase 14 horas de debates até a 1h38 desta quinta. As discussões foram retomadas às 9h de hoje. A previsão é de que esta fase seja encerrada ainda nesta tarde, quando deve ocorrer a votação do relatório por 66 deputados titulares da comissão.