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Em reencontro com as ruas, Lula ataca reformas e diz que Temer não tem autoridade

Bernardo Barbosa

Do UOL, em São Paulo

20/07/2017 20h53Atualizada em 20/07/2017 21h48

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teve nesta quinta-feira (20) seu primeiro reencontro com o povo nas ruas desde que foi condenado pelo juiz Sergio Moro, no último dia 12, a 9 anos e meio de prisão por corrupção passiva. Lula participou de ato organizado pelo PT e por movimentos sociais em seu apoio e, em seu discurso, afirmou que ele, a sucessora Dilma Rousseff (PT) e o partido provocaram o ódio da elite durante o período em que estiveram na Presidência da República.

O ato desta quinta-feira em São Paulo começou às 17h. Lula chegou por volta das 19h30 e iniciou seu discurso cerca de uma hora depois. O ex-presidente foi recebido com gritos de "Lula guerreiro do povo brasileiro". Milhares de pessoas participaram da manifestação --a Polícia Militar não divulgou estimativa de público.

"O problema deste país não é o Lula, é o golpe", disse o ex-presidente no início de sua fala. E pediu para que seus apoiadores não se preocupem com ele. "A gente tem que se preocupar nesse momento é com o que está acontecendo com o país e o povo brasileiro".

Em grande parte de seu discurso, Lula atacou as reformas propostas pelo governo Temer: tanto a trabalhista, já sancionada, quando a da Previdência.

"Esse país só vai ser consertado quando a gente tiver um governo que não pense só para meia dúzia de ricos. Quando o pobre é incluído no mercado de trabalho e no orçamento da União, não tem jeito, a economia vai crescer", disse o petista. "Talvez o que mate eles de ódio é saber que uma empregada doméstica tem direito a um salário mínimo e férias, que o cara que trabalha como jardineiro pode comprar um carro. O que incomoda algumas pessoas nesse país é saber que os de baixo podem subir um degrau na escada social desse país. O que incomoda é vocês terem aprendido a conquistar direitos".

O ex-presidente também afirmou que Temer deveria ser "responsável" e apoiar uma emenda constitucional para a realização de eleições diretas, e fez críticas à governabilidade do peemedebista. "Esse país está sem autoridade. Está sem credibilidade. Sabemos que o presidente da República não apita nada", discursou. "O Temer só tem 3% [de aprovação]. É menos que a margem de erro das pesquisas".

Lula ainda voltou a falar que os processos contra ele na Justiça são uma tentativa de tirá-lo da corrida eleitoral.

"Como não conseguem me derrotar na política, eles querem me derrotar com processo", afirmou o ex-presidente, justificando que não há provas contra ele nos processos em que é réu. "Eu aprendi a andar de cabeça erguida nesse país e ninguém vai abaixar minha cabeça. Foram na Suíça encontrar Lula e acharam Aécio [Neves]. Foram na Finlândia procurar Lula e acharam [José] Serra".

Discursos

Antes de Lula, outros políticos e líderes de movimentos sociais e forças sindicais discursaram na avenida Paulista, entre eles os senadores Lindbergh Farias (PT-RJ) e Gleisi Hoffmann (PT-PR), o coordenador do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto), Guilherme Boulos, e o ex-ministro do Esporte, Orlando Silva (PCdoB-SP).

A maior parte dos discursos foi pautada por críticas ao juiz Sergio Moro, ao presidente Michel Temer (PMDB), à imprensa e à TV Globo.

"Sergio Moro, você é um covarde. Ser juiz não é isso. Juiz é imparcial. Sergio Moro, você é um fantoche da rede Globo. Quero ver você ter coragem de bloquear o dinheiro do Aécio", afirmou Lindbergh Farias. "O Moro ganhou em um ano o que o presidente Lula economizou em toda a vida. Aí a gente entende o ódio de classes nesse país", disse Gleisi Hoffmann.

Orlando Silva fez uma defesa enfática das eleições diretas e da presença de Lula na corrida presidencial de 2018. "As elites brasileiras não aceitaram a vontade do povo nas urnas em 2014", disse. "A defesa da democracia tem um nome. E o nome da democracia no Brasil é Luiz Inácio Lula da Silva. O crime de Lula foi tirar milhões de brasileiros da pobreza."

Lula condenado

Lula foi condenado a uma pena de nove anos e meio de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro por ter recebido um tríplex no Guarujá (SP) da construtora OAS como parte do esquema de corrupção na Petrobras. A decisão foi do juiz Sergio Moro, responsável pelos processos da Operação Lava Jato na Justiça Federal do Paraná.

Depois, Moro também ordenou o bloqueio de contas de Lula e o sequestro de seus bens como forma de ressarcir a Petrobras. Nesta quinta-feira (20), foram bloqueados ainda pouco mais de R$ 9 milhões que estavam em planos de previdência privada no nome do ex-presidente e no da empresa que administra os pagamentos de suas palestras.

A defesa de Lula nega que haja provas de crimes do ex-presidente. O petista recorre às decisões de Moro em liberdade.

Mais Lava Jato

A ação penal conhecida como o "processo do tríplex", em que Lula foi condenado, chegou ao fim na primeira instância, mas Lula e Moro deverão se encontrar em uma nova oportunidade ainda este ano.

O ex-presidente é réu em um segundo processo na Justiça Federal no Paraná. Ele é acusado de participar de um esquema de corrupção envolvendo oito contratos entre a empreiteira Odebrecht e a Petrobras. Ele será interrogado por Moro em 13 de setembro.

Lula pode se tornar réu ainda em um terceiro processo com Moro na Lava Jato. O MPF ofereceu, em 22 de maio, uma nova denúncia contra Lula, acusando-o, mais uma vez, de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Desta vez, os crimes envolvem um sítio em Atibaia (SP). Segundo os procuradores, o imóvel passou por reformas custeadas pelas empresas Odebrecht, OAS e Schahin em benefício do petista e de sua família. Em troca, os três grupos teriam sido favorecidos em contratos com a Petrobras.

Moro ainda não decidiu se acolhe ou não os novos argumentos da força-tarefa da Lava Jato.