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Após ter bens bloqueados, Lula ironiza Moro sobre perua roubada

Do UOL, em São Paulo

20/07/2017 12h44Atualizada em 20/07/2017 15h53

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ironizou o fato de o juiz federal Sergio Moro, responsável pela Operação Lava Jato na primeira instância, ter negado o sequestro de uma perua de propriedade do ex-presidente por ela ser antiga. "O juiz Moro, ele foi condescendente comigo, ele deixou uma perua F1000 de 1984, que foi roubada em 2002", disse em entrevista ao canal “ultrajano”, no YouTube, nesta quinta-feira (20).

Na quarta-feira (19), Moro pediu o sequestro de três apartamentos do ex-presidente, além de um terreno, dois automóveis, e mais de R$ 606 mil em quatro contas bancárias do petista. Os valores serão usados para reparar R$ 16 milhões em danos a Petrobras.

Lula foi condenado a nove anos e seis meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro em esquemas ligados a contratos entre a empreiteira OAS e a Petrobras.

Sobre a perua, Moro disse que o veículo não tem “valor representativo”. Lula, porém, disse que agora torce para que a encontrem. "Deus queira que eles achem ela e me devolvam para eu poder curtir a minha perua", disse, lembrando um fato inusitado: "Você sabe que roubaram ela no dia em que eu deixei de fazer o seguro. Eu não quis fazer seguro porque ela já estava velha".

Reclamações

Para a defesa de Lula, o sequestro dos bens e o bloqueio das contas do ex-presidente é "ilegal e abusiva". Em comunicado, ela disse que a decisão de Moro "retira de Lula a disponibilidade de todos os seus bens e valores, prejudicando a sua subsistência, assim como a subsistência de sua família" e que é "mais uma arbitrariedade dentre tantas outras já cometidas pelo mesmo juízo" contra Lula.

A defesa diz que vai impugnar a decisão e afirma que tomou conhecimento do despacho de Moro por meio da imprensa, "que mais uma vez teve acesso com primazia às decisões daquele juízo". 

"Somente a prova efetiva de risco de dilapidação patrimonial poderia justificar a medida cautelar patrimonial. O Ministério Público Federal não fez essa prova, mas o juízo aceitou o pedido mais uma vez recorrendo a mera cogitação ('sendo possível que tenha sido utilizada para financiar campanhas eleitorais e em decorrência sido consumida')", dizem os advogados.

O PT também se manifestou sobre o assunto. Segundo o partido de Lula, Moro fez uma determinação "mesquinha" para "vingar-se de um inocente" em "um caso típico de retaliação". A legenda afirma ainda que "Lula é vítima da mais avassaladora perseguição judicial, midiática e política que já se viu neste País" e que "vai reagir, por todos os meios, para impedir que se consume essa violência inominável."

A sentença

Na sentença do processo do tríplex, o juiz condenou Lula por ter sido destinatário “especificamente de cerca de R$ 2.252.472,00” por meio do imóvel no litoral paulista, “sem o pagamento do preço correspondente e da realização de reformas no apartamento às expensas da [empreiteira] OAS”.

Esse valor teria ligação, segundo Moro, com R$ 16 milhões em vantagens indevidas a partir de contrato celebrados entre a Petrobras e a OAS que favoreceram “agentes do Partido dos Trabalhadores”.

Em função de o apartamento tríplex já ter sido confiscado na semana passada, Moro aponta que ainda faltam R$ 13,7 milhões. “Cabe, portanto, a constrição de bens do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva até o montante de R$ 13.747.528,00”, disse Moro.

Não foi possível rastrear o restante da propina paga em decorrência do acerto de corrupção na Petrobras, sendo possível que tenha sido utilizada para financiar ilicitamente campanhas eleitorais e, em decorrência, sido consumida

Sergio Moro, juiz federal

Moro pediu “o sequestro de bens do ex-presidente para recuperação do produto do crime e o arresto dos mesmos bens para garantir a reparação do dano”. Os valores devem ser revertidos à Petrobras. O ressarcimento só deverá feito se a condenação for confirmada após recursos em todas instâncias.

O juiz diz que “não tem relevância se os bens [sequestrados] foram ou não adquiridos com recursos lícitos”. 

Mais Lava Jato

A ação penal conhecida como o "processo do tríplex", em que Lula foi condenado, chegou ao fim na primeira instância, mas Lula e Moro deverão se encontrar em uma nova oportunidade ainda este ano.

O ex-presidente é réu em um segundo processo na Justiça Federal no Paraná. Ele é acusado de participar de um esquema de corrupção envolvendo oito contratos entre a empreiteira Odebrecht e a Petrobras. Ele será interrogado por Moro em 13 de setembro.

Lula pode se tornar réu ainda em um terceiro processo com Moro na Lava Jato. O MPF ofereceu, em 22 de maio, uma nova denúncia contra Lula, acusando-o, mais uma vez, de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Desta vez, os crimes envolvem um sítio em Atibaia (SP). Segundo os procuradores, o imóvel passou por reformas custeadas pelas empresas Odebrecht, OAS e Schahin em benefício do petista e de sua família. Em troca, os três grupos teriam sido favorecidos em contratos com a Petrobras.

Moro ainda não decidiu se acolhe ou não os novos argumentos da força-tarefa da Lava Jato.