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Governo monta planilha para monitorar votos da base e definir retaliações

Deputado Beto Mansur (PRB-SP) é o responsável por mapear o comportamento da base aliada nas votações importantes para o governo - Pedro Ladeira/Folhapress
Deputado Beto Mansur (PRB-SP) é o responsável por mapear o comportamento da base aliada nas votações importantes para o governo Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Gustavo Maia e Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

10/08/2017 04h00

O governo está de olho nas decisões da base aliada no Congresso. A tropa de choque de Michel Temer (PMDB) vai avaliar o comportamento de parlamentares em votações passadas e fazer uma projeção de como os partidos tendem a votar na reforma da Previdência para definir retaliações.

Desde a quinta-feira passada, o Planalto já analisa como punir políticos da base que votaram a favor da denúncia por corrupção passiva contra o presidente da República, apresentada pela PGR (Procuradoria-Geral da República) e rejeitada em plenário na quarta (2).

Segundo apurou o UOL, o deputado Beto Mansur (PRB-SP) montou uma planilha que detalha como cada deputado votou na reforma trabalhista, na apreciação da denúncia contra Temer e como deve votar em relação ao texto da reforma da Previdência proposto pelo governo.

Todos esses dados serão cruzados e analisados junto à fidelidade dos posicionamentos dos partidos com o Planalto. Dessa forma, o presidente e líderes do governo no Congresso Nacional poderão definir quem e como punir. A planilha deve ser apresentada a Temer nesta quinta (10).

O Planalto sofre pressão de partidos do chamado “centrão” para mudanças ministeriais, sendo o principal alvo o Ministério das Cidades – sob o comando do PSDB – pelo grande orçamento e possibilidade de execução de emendas em bases eleitorais. Mas, por enquanto, o governo não cedeu e preferiu trocar indicações políticas de dissidentes em cargos do segundo e terceiro escalão da administração federal. Isso porque, segundo assessores do Planalto, os ministros se mostraram fiéis a Temer, com muitos inclusive tendo retomado o mandato de deputado federal para ajudar a barrar a denúncia em plenário.

Beto Mansur (PRB-SP), responsável pela contabilidade dos votos do Planalto no Congresso, mostra planilha com estimativa de votos. Segundo ele, a previsão é de que haja 303 votos contra a denúncia, 178 a favor e 30 abstenções. Nesse cenário, a denúncia contra Temer é rejeitada. - Luciana Amaral/UOL - Luciana Amaral/UOL
Beto Mansur já tinha feito uma planilha durante a votação da denúncia contra Temer
Imagem: Luciana Amaral/UOL

Outro ponto que impede uma grande retaliação por parte do Planalto a deputados favoráveis à peça da PGR é o fato de o governo precisar contar com a ajuda deles e de seus partidos para aprovar a simplificação tributária e a reforma da Previdência. A mudança nas leis da aposentadoria é uma das prioridades do governo e considerada um dos principais fiadores para a continuidade do governo Michel Temer perante o empresariado.

Para aprovar a reforma da Previdência, o Planalto precisa de 308 votos favoráveis à proposta no plenário da Câmara. Na votação de denúncia contra o presidente, alcançou 263 votos. Alguns auxiliares de Temer acreditam contar com o número necessário para a reforma previdenciária se contabilizados os 263 votos mais os deputados ausentes, além dos dissidentes do DEM e do PSDB. Mesmo assim, o Planalto precisa que a matéria seja apreciada em plenário com maioria ampla e não quer correr riscos de vê-la naufragar.

Partidos do “centrão” já ameaçam atrapalhar a agenda econômica do governo não participando das negociações da Medida Provisória do Refis, programa de renegociação de dívidas de empresas com o Fisco. A MP do Refis é considerada fundamental pela equipe econômica para segurar o déficit orçamentário, aumentar a arrecadação de 2017 e tentar suavizar a revisão da meta fiscal. Atualmente, o déficit da meta fiscal está orçado em R$ 139 bilhões. A medida precisa ser votada até outubro para não perder a validade.