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Após repercussão negativa de encontro com Temer, Dodge chama especialista em crise

Pedro Ladeira/Folhapress
Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Daniela Garcia

Do UOL, em São Paulo

14/08/2017 13h46

Após a repercussão negativa do encontro com o presidente Michel Temer no Palácio do Jaburu, Raquel Dodge, subprocuradora da República, convidou uma especialista em crise e "media training" (treinamento para lidar com a mídia) para compor a equipe de transição da futura PGR (Procuradoria-Geral da República). 

Dodge foi indicada por Temer para substituir Rodrigo Janot no cargo de procurador-geral da República. Janot havia denunciado o presidente por corrupção passiva, mas a Câmara barrou o andamento da investigação.

Aconselhada por procuradores, Raquel pediu o auxílio da jornalista Dione Tiago, chefe de comunicação do MPF-DF (Ministério Público Federal do Distrito Federal), para atuar no atendimento à imprensa, além de divulgar informações referentes ao processo de transição para o público interno do MPF.

Com 22 anos de experiência em jornalismo, Dione é conhecida por conduzir palestras e dar treinamento de relacionamento com a mídia para membros do Judiciário. Entre suas especialidades, a jornalista ensina as regras básicas da boa convivência com a imprensa, técnicas de entrevista e ainda prepara figuras públicas para se posicionar diante de câmeras e microfones.

No treinamento, ela também orienta seus clientes sobre como lidar com situações de crise em assuntos delicados.

O UOL apurou que partiu de um procurador, que participa da Operação Zelotes, a recomendação para Raquel buscar ajuda da especialista em crises de comunicação.

Crise

O encontro da subprocuradora com o presidente da República no dia 8 causou mal-estar entre membros do MPF. Ele aconteceu no Palácio do Jaburu, a residência oficial de Temer.

Para abrandar as críticas internas, a nova integrante da equipe de transição quer divulgar informações referentes ao processo de transição pelo sistema da intranet.

Raquel fez o convite para Dione na quinta-feira (10), dois dias depois de se reunir com Temer na residência oficial do presidente.

O encontro, que não constava na agenda oficial do mandatário, aconteceu poucas horas depois que a defesa de Temer entrou com pedido no STF (Supremo Tribunal Federal) de suspeição de Janot nas investigações. Os advogados do peemedebista alegam que o procurador-geral atua para perseguir pessoalmente o presidente. O procurador-geral não comentou o assunto. 

Em nota divulgada neste domingo (13) pela secretaria de comunicação Social da PGR, a sucessora de Janot afirmou ter formalizado o pedido da reunião por e-mail, na véspera de sua realização. A solicitação foi feita por meio de endereço eletrônico da Procuradoria para o Palácio do Planalto na segunda-feira passada (7), às 15h43.

A secretaria de comunicação da Procuradoria afirmou que o encontro constava na agenda de Raquel. Como ela ainda não assumiu o cargo de procuradora-geral, não tem a agenda pública.

A futura procuradora informou que se encontrou com Temer para discutir a data e o horário da posse dela na PGR. Havia um impasse na agenda do presidente, segundo Raquel, porque ele viajará para os Estados Unidos no dia seguinte à saída do cargo de Rodrigo Janot. 

Ao final foi decidido que a solenidade acontecerá no auditório do MPF (Ministério Público Federal), em Brasília, em 18 de setembro, às 10h30. 

Escolhida por Temer

Dodge foi indicada por Temer para assumir o cargo de procuradora-geral da República. Seu nome foi aprovado pelo Senado. Ela foi a segunda colocada na lista tríplice em eleição realizada pela ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República).

Caberá a Dodge comandar todo o trabalho da PGR, incluindo as investigações da Lava Jato, que ainda estão sob o comando de Janot.

O presidente Temer foi denunciado por Janot por corrupção passiva, sob acusação de ser o beneficiário de uma mala de R$ 500 mil da JBS entregue a seu ex-assessor Rodrigo da Rocha Loures. A Câmara barrou o andamento da denúncia na semana passada.

O peemedebista é alvo de mais duas investigações na PGR: uma por obstrução de Justiça e outra por organização criminosa. Há expectativa de que ele seja denunciado até o fim do mandato de Janot.

O escândalo da JBS tem como ponto central um encontro de Temer com Joesley Batista, delator e sócio da JBS, no dia 7 de março no Jaburu. A conversa ocorrida no fim da noite daquele dia não foi divulgada na agenda oficial do presidente.